2o ano básico - 2o semestre


CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 15 - PENAS E GOZOS TERRENOS I

A - Felicidade e Infelicidade Relativas
Pelo fato de ser a Terra um planeta ainda de provas e expiações, não pode o homem usufruir de completa felicidade, muito embora, na maior parte das vezes seja ele próprio culpado pelo seu infortúnio, em virtude de sua condição evolutiva. Assim, tanto a felicidade quanto a infelicidade decorrem de duas causas, cuja origem está no homem:

a) — A transgressão à Lei Natural ou Lei de Deus, na presente encarnação, que rege não apenas a vida de relação, mas principalmente a vida moral. Ao afastar-se desta Lei, o homem toma-se o único responsável pela sua infelicidade.

b) — Em virtude de erros cometidos em vidas passadas, justamente pela transgressão à Lei de Deus. que devem ser corrigidos na encarnação presente. Somos punidos nesta vida pelas infrações que cometemos às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas infrações e pelos nossos próprios excessos. Se remontarmos pouco a pouco à origem do que chamamos infelicidades terrenas, veremos a estas, na sua maioria, como a consequência de um primeiro desvio do caminho certo (LÊ, 921). Do exposto, conclui-se que à medida em que o homem se aproxima da Lei de Deus, pode diminuir seus sofrimentos e viver relativamente feliz.

Muito embora a felicidade esteja diretainente ligada à evolução moral de cada um, existe um ideal comum que â toma acessível a todos: em relação à vida material, ser feliz significa a obtenção do necessário para a vida de relação; no que diz respeito à vida moral, ser feliz é ter a consciência do dever cumprido e a certeza de um futuro melhor. Porém, grande parte da Humanidade ainda não tem esta compreensão, e os momentos que poderiam ser de relativa felicidade tornam-se aflitivos e dolorosos. No enfoque deste tema, Penas e gozos terrenos, é possível relacionar algumas causas das infelicidades terrenas, a saber:

1) Em relação à vida material:
— Acúmulo de bens:
Sob o imperativo da Lei de Conservação, o homem vê-se na contingência de prover suas necessidades materiais, visando ao seu bem-estar; mas, impelido pela inveja e pela ganância, almeja sempre mais, ultrapassando o limite do necessário para viver dignamente; no afã de acumular bens, a cobiça turva-lhe o raciocínio, impedindo-o de distinguir o bem do mal, advindo-lhe então irreversíveis quedas morais, cujo soerguimento, doloroso em função da Lei de causa e efeito, torna-se motivo de grande infelicidade.

Riqueza — pobreza:
Muitas criaturas são favorecidas com grandes fortunas que, à primeira vista, parece não merecê-las. Convém lembrar, porém, que as provas são geralmente escolhidas pelos Espíritos quando na erraticidade, e pode acontecer de fracassarem no seu intento; além do mais, a riqueza constitui-se em uma prova das mais difíceis, pois se, de um lado, a pobreza pode levar à revolta, a fortuna pode levar a grandes excessos. Assim, se porventura alguém se condoer daquele que é pobre e invejar aquele que possui grandes bens, importa considerar que ambos passam por provas que lhes abrirão novas perspectivas de progresso espiritual, desde que obtenham êxito.

— Aptidões naturais:
Todos os homens têm aptidões naturais, através das quais a Providência Divina lhes indica as vocações a serem desenvolvidas; porém, muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, fazem os filhos se desviarem do caminho traçado pela Natureza, comprometendo-lhes com isso a felicidade. Mas serão responsabilizados por isto (LÊ, 928).

— Trabalho:
O trabalho, enquanto Lei da Natureza, impõe-se a todos como condição essencial para que haja progresso social, intelectual e moral. Mas, se o homem puder desenvolvê-lo segundo sua aptidão natural para esta ou aquela atividade, certamente será feliz, seja um trabalho humilde ou um superior. Quando ele colocar de lado o preconceito social e seu orgulho ferido, saberá então organizar uma sociedade fundamentada na Lei de Amor, Justiça e Caridade e, portanto, nos ensinamentos de Jesus. Então, jamais lhe faltará trabalho, porque sempre encontrará uma ocupação que o ajudará a viver dignamente; ninguém perecerá por falta de condições básicas à própria vida, excetuando-se aqueles que passam privações por própria culpa.

— Diferenças sociais:
Poder-se-ia questionar por que as classes sociais sofredoras são mais numerosas do que as aparentemente mais felizes. Contudo, nenhuma é completamente feliz, porque o homem sempre julga haver felicidade onde se ocultam grandes aflições, pois o sofrimento é parte integrante de um mundo de provas e expiações.

— Felicidade e infelicidade relativas:
Muito embora a necessidade seja sempre relativa às posses materiais de cada um, pode-se concluir que o mais rico é aquele que sente menos necessidades próprias, ou seja, o que se conforma em viver dentro de seus recursos, sem se deixar levar pelas necessidades artificiais, criadas pelo mundo contemporâneo. Portanto, o homem que sabe viver dentro dos limites de suas necessidades, sem desejar o que não está ao alcance de suas possibilidades, livra-se de muitos sofrimentos e decepções; conseqüentemente, será mais feliz, e é sob esse aspecto que se deve entender a questão da relatividade quanto à felicidade ou infelicidade terrenas.

2) Em relação à vida moral:
— Paixões:
Se, por um lado, o homem é causador dos seus sofrimentos materiais ao desejar sempre mais posses, por outro, é também causador de seus sofrimentos morais que por vezes independem de sua vontade: o orgulho ferido, a ambição desmedida, a avareza, a inveja, o ciúme, enfim, todas as paixões que desaguam em grandes dores, tirando-lhe os momentos de felicidade que poderia usufruir na presente encarnação.

— Más influências:
Um fator determinante do qual decorre a felicidade ou infelicidade é a influência que Espíritos de má índole podem exercer sobre os bons; isto ocorre porque estes, na maioria das vezes, aparentam fraqueza, deixando-se dominar, ao passo que os maus geralmente são persistentes, astutos e intrigantes. Mas, à medida que os bons deixarem de ser fracos e tímidos e seus sentimentos de fraternidade e solidariedade so­brepujarem a má índole de seus semelhantes, o bem tornar-se-á extensível a todos, e a tão almejada felicidade estará mais ao alcance do homem.

Do exposto acima deduz-se que o conceito de felicidade para o homem, na sua atual condição evolutiva, está na satisfação dos prazeres materiais, e que toda infelicidade se resume a partir do momento em que não os pode satisfazer. Por isto, as sociedades nativas, que ainda não se incorporaram às conquistas do mundo moderno são mais felizes, porque estão isentas da cobiça e da ganância em possuir características dos homens civilizados. No estado de civilização o homem pondera a sua infelicidade, a analisa e por isso é mais afetado por ela, mas pode também ponderar e analisar os seus meios de consolação. Esta consolação ele a encontra no sentimento cristão que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no Espiritismo que lhe dá a certeza do futuro (LÊ, 933).

Quando o homem tiver a compreensão da transitoriedade da vida terrena e souber pautar sua vida dentro dos limites do necessário que a Natureza lhe concede; quando souber apreender o alcance social e moral da Lei de Justiça, Amor e Caridade; quando conseguir analisar as penas e usufruir os gozos que lhe cabem por dever, direito e conquista, sentir-se-á mais feliz, pois aceitará os sofrimentos com resignação e conhecimento de causa, tomando-os por conta de meros transtornos passageiros.
Bibliografia:
LÊ, 920 a 933

B) Perda de Entes Queridos
Perda de Entes Queridos
A perda de entes queridos é, sem dúvida, uma causa de grande sofrimento, da qual ninguém está isento; atinge tanto o rico quanto o pobre, porque representa uma prova ou expiação a que todos estão sujeitos. Entretanto, a consolação trazida pela Doutrina Espírita, ao trazer à luz o princípio da reencarnação, abriu um mundo novo e novas perspectivas a todos os que sofrem tal perda, pois sabem que não houve separação definitiva, mas sim passageira; a saudade, para aquele que tem a certeza que a vida continua, fica mais leve é mais fácil de suportar.

Deste modo, o ser amado está frequentemente junto de cada um, podendo, às vezes, comunicar-se através de diversos meios, pois não há barreiras intransponíveis entre encarnados e desencarnados. Contrariamente ao pensamento de alguns, não há profanação nas comunicações com o Mundo Espiritual, desde que a evocação seja praticada com o devido respeito e recolhimento. A profanação se configura quando a comunicação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material tem objetivos levianos e fraudulentos, cuja finalidade é tão somente enganar os incautos, geralmente transtornados pela perda de um ente querido.

Sem dúvida, a lembrança carinhosa dos que ficaram é sempre grata ao Espírito que retornou à pátria espiritual; mas suas dores causam tristeza e perturbação ao desencarnado; este, quando lhe é permitido, pode ver e sentir a dor e o desespero dos que ficaram, sem nada poder fazer. Contudo, o sofrimento atinge-o a tal ponto de dificultar a sua adaptação à nova realidade e a recuperação de sua lucidez espiritual. A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos permite entreter com eles, nos oferece uma suprema consolação, numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo não há mais soli­dão, não há mais abandono. O mais isolado dos homens tem sempre amigos ao seu redor, com os quais pode comunicar-se (LÊ, 936). Bibliografia: LÊ, 934 a 936
C) Os Tormentos Voluntários — A Infelicidade Real

A vida de qualquer um não consiste na abundância do que possui (Lucas, 12:15).

Os Tormentos Voluntários
O significado desta citação evangélica, analisada à luz da razão, aponta a fragilidade do ser humano: a incansável procura da felicidade, baseada totalmente em valores perecíveis e na aquisição incontrolável de bens materiais. Paradoxalmente, é justamente na busca desta felicidade fictícia que se encontra a origem de seus sofrimentos. Assim, tormentos são as aflições, as angústias e privações que o homem atrai para si, espontaneamente, em razão da sua vivência totalmente voltada para os valores transitórios da vida terrena; voluntários, pois são dores desnecessárias, que nem sempre significam reajustes de erros cometidos em vidas passadas, mas apenas representam as consequências de uma busca infrutífera, porque realizada em terreno impróprio.

Em um mundo de provas e expiações, ser feliz ou infeliz é um estado interior que depende exclusivamente de valores morais e, portanto, o homem pode, mesmo na Terra, usufruir de uma relativa felicidade, desde que saiba procurá-la vivenciando a justiça, o amor e a caridade para com seu semelhante; nesta vivência fraterna, na alegria daquele que dá ajuda e consolo é que consiste a verdadeira felicidade, porque ele terá a consciência tranquila do dever cumprido e, conseqüentemente terá paz no seu coração.

Não há tormento maior para o homem do que as consequências do orgulho, da vaidade, do ciúme e da inveja; sob o domínio das imperfeições, ele não se conforma em ver seu semelhante prosperar, ser bem sucedido na vida, desfrutar de relativa prosperidade, enquanto ele próprio vive em situação de inferioridade ou de forma aflitiva. Atormentado pelo seu infortúnio, não consegue refletir e muito menos analisar a grande lição que a vida lhe oferece: aqueles que aparentam felicidade por possuírem bens materiais, muitas vezes trazem o coração amargurado presa dos mais angustiantes tormentos.

De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico, porque, se olha abaixo de si, em lugar de olhar para cima, verá sempre pessoas que têm menos ainda; é calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas, e a calma, no meio das tempestades da vida, não será felicidade? (ESE, Cap. V, item 23).

A Infelicidade Real

Erroneamente, os homens supõem conhecer a infelicidade nos seus mais variados graus de intensidade. Mas, conforme esclarecem os Espíritos, há uma significativa inversão de valores, em relação a este assunto. Enquanto que a felicidade, para a visão do mundo, está no acúmulo de bens,, a infelicidade, dentro da mesma perspectiva, está na falta tudo o que esses bens podem proporcionar. Nesta linha de raciocínio, a infelicidade configura-se na escassez de recur, nos flagelos da natureza, em todas as mazelas pertinentes somente à condição humana. Tudo isto, mais a infindável relação de transtornos que acometem a vida diária representam um estado aflitivo de infelicidade para o homem.

A inversão de valores evidencia-se neste próprio conceito de felicidade: é a alegria malsã, é o prazer que causa desequelíbrio, é a fortuna que leva à excessos, é a satisfação de desejos materiais, enfim, todos os gozos terrenos que amortecem a consciência pesada que obscurecem o raciocínio e impedem o homem de refletir sobre os verdadeiros valores que dizem respeito à vida espiritual. A própria Lei de Destruição, enquanto necessária à renovação e melhoria dos seres vivos, nem sempre é compreendida pelos homens, que julgam ser uma infelicidade os transtornos passageiros decorrentes de sua ação renovadora.

Portanto, antes de se emitir qualquer julgamento a respeito de felicidade ou infelicidade, é necessário uma reflexão que leve ao aproveitamento dos momentos de angústia e de tristeza; para julgar uma coisa é preciso, pois, ver-lhe as consequências; é assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem sentir; ora, tudo o que se chama infelicidade segundo sua curta visão, cessa com a vida e encontra sua compensação na vida futura (ESE, Cap. V, item 24).
Bibliografia:
ESE, Cap. V, itens 23 e 24







QUESTIONÁRIO

a) felicidade e infelicidade relativas:
1) Cite três principais causas materiais que concorrem para a infelicidade do homem.
2) Quais as causas morais que podem concorrer para a infelicidade do homem?
3) Em que consiste a verdadeira felicidade?
b) perda de entes queridos:
1) Por que se deve evitar o desespero quanto à perda de pessoas amadas?
2) Qual o consolo que a Doutrina Espírita oferece aos que perdem entes queridos?
3) Por que é lícita a comunicação com o Mundo Espiritual? Comente.
c) Os tormentos voluntários — A infelicidade real:
1) O que são tormentos, e por que voluntários?
2) Comente: "A vida de qualquer um não consiste na abundância do que possui" (Lucas 12:15).
3) Quais são os valores que a nossa sociedade deveria prezar?

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 14 - PERFEIÇÃO MORAL

A) As Virtudes e os Vícios — Das Paixões — Do Egoísmo

As Virtudes e os Vícios

O Espiritismo contribui para a Humanidade entrar em uma nova fase, a do progresso moral, que lhe é inevitável. É imprescindível, para tanto, que o homem se conheça, que identifique sua realidade, quanto aos vícios assim como às virtudes que eventualmente possua. Vejam-se, para tanto, a definição de virtude e vício:
Virtude: consiste na boa qualidade moral, na disposição habitual para o bem, excelência moral, força interior, retidão, austeridade.

Vícios: compreendem os defeitos, os costumes censuráveis, os hábitos perniciosos, entre os quais: fumo, álcool, gula, abusos sexuais. Já os defeitos consistem nas imperfeições ou desvios das leis morais, inerentes à individualidade, são: o orgulho, o egoísmo, a vaidade, a maledicência etc.

Todas as virtudes são louváveis, porque todas implicam no cumprimento da Lei do Progresso, que é inerente à trajetória do Espírito. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências (LÊ, 893); toda vez que o homem busca superar seus defeitos e suas más inclinações, já é um indício de progresso; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção (LÊ 893). A virtude deve, portanto, estar fundamentada na intenção que move uma ação, ou seja, o sublime da caridade consiste na doação de si de forma desinte­ressada.

O indício mais característico da imperfeição é o interesse pessoal, ou seja, o apego às coisas materiais ou à própria pessoa são sinais de notória inferioridade. Muitos Espíritos possuem qualidades reais, o que os torna dignos de consideração perante os homens, porém, basta ferir a tecla do interesse pessoal para revelarem suas verdadeiras tendências.

A verdadeira virtude consiste em praticar o bem por um impulso espontâneo, sem que se tenha de lutar com nenhum sentimento contrário. Os que não têm de lutar é porque já realizaram o progresso, e por isso os bons sentimentos não lhes custam esforço.

Muitos casos existem de pessoas que demonstram um desinteresse natural pelas coisas materiais, no entanto, a prodigalidade irrefletida é também indício de falta de bom senso. A fortuna não é dada a alguns para ser lançada ao vento, como não o é a outros para ser encerrada num cofre. E um depósito de que terão que prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que poderiam ter feito e não fizeram (LÊ 896). Vê-se aqui claramente uma elucidação da Parábola do Filho

Pródigo (Lc 15:11-32) onde o filho mais moço é a personificação daquele que se entrega à vida material desregrada, e o filho mais obediente é o símbolo do egoísmo que pretende monopolizar a herança e o convívio paterno. Cada um possui, portanto, liberdade para seguir o caminho que quiser, mas as consequências advirão de acordo com a intenção que move o coração de cada um .

Da mesma forma, aquele que pratica o bem sem visar a uma recompensa material, mas o faz na esperança que lhe seja levado em conta em outra vida é repreensível. É necessário fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse (LÊ, 897). Aquele que faz o bem pelo bem, sem pensar em recompensa futura, seja de que natureza for, é porque já sentiu a alegria de doar-se, e já entendeu o fato de ser o amor a lei maior da vida.
Aquele que calcula o que lhe pode render cada uma de suas boas ações, na outra vida ou mesmo na vida terrena, procede de maneira egoísta (LÊ 897b).

Por outro lado, o filho egoísta na Parábola do Filho Pródigo, se não linha vícios, também não possuía virtudes. É assim que muitos, se não fazem o mal, também não fazem o bem, se não furtam ao próximo, também não lhe dão nada . Ora, a abstenção do mal apenas, em uma atitude passiva perante a vida também não é virtude. A moral sem ações é como a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente se não a fizerdes frutificar para vos alimentar? (LÊ 905). É assim que a virtude consiste em força ativa que contribui de alguma forma para o próximo e a si mesmo; a virtude, se inoperante, deixa de sê-lo.


Das Paixões

O princípio das paixões é inerente à natureza do ser humano. Quando bem dosado e orientado leva o homem a grandes feitos, a grandes realizações. Em tudo na vida o erro está no abuso e não no uso. Por exemplo: trabalhar e comer são atividades positivas, mas trabalhar e comer excessivamente é prejudicial. As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa (LÊ 908); em assim sendo, a paixão negativa consiste no fato de o homem ser dependente de algo exterior a si; quanto mais domínio sobre si tiver, mais livre será.

O princípio das paixões não é portanto um mal, pois repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento; está no excesso e não na causa (LÊ 908). O homem não deve, portanto, esquecer que o Espírito é o senhor que pode e deve controlar a vida do corpo; o corpo é mero instrumento destinado a servir o Espírito. Desta forma , todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal anuncia o predomínio do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição (LÊ 908).

O homem poderia sempre vencer as suas más tendências pelos seus próprios esforços; o que lhe falta é vontade, disposição do Espírito, iniciativa. Quando o homem julga que não pode superar suas paixões é que seu Espírito nelas se compraz, como consequência de sua própria inferioridade (LÊ 911).

Do Egoísmo

Entre todos os vícios, o que os Espíritos consideram mais radical é o egoísmo, pois dele deriva todo o mal. Se estudarmos nossos vícios veremos que na origem de todos eles está o egoísmo. É que ele engendra o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, dos quais a todo momento o homem é vítima; é ele que leva à perturbação, provoca dissenções e destrói a confiança de uns para com outros. Por mais que se lute contra eles, não se conseguirá diminuí-los, enquanto não se houver destruído a causa. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar de seu coração todo sentimento de egoísmo, porque é incompatível com a justiça, o amor e a caridade; ele neutraliza todas as outras qualidades (LÊ 913).

Duas são as maiores causas do egoísmo: a primeira é a influência da matéria da qual o homem ainda não consegue libertar-se. A segunda funda-se na exaltação da personalidade. Ora, o Espiritismo nos faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade (LÊ 917).

O egoísmo, portanto, só se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se for bem compreendida será a chave do progresso moral (LÊ, 917). Não basta a ciência, não basta a arte de manejar a inteligência, se não se souber endireitar caracteres. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela ciência, só assim o egoísmo deixará de ser a fonte de vícios, e a caridade, por sua vez, manifestar-se-á como a fonte de todas as virtudes.
Bibliografia: LÊ, 893a917

B) Caracteres do Homem de Bem — Conhecimento de Si Mesmo

Caracteres do Homem de Bem

Os Espíritos são seres imortais criados por Deus, e que possuem uma destinação gloriosa — a perfectibilidade. Para efetivar esse itinerário, foram dotados de recursos e talentos incontáveis, quais a razão, o amor, o livre-arbítrio. Assim é que o Princípio Inteligente individuado vai gradativamente, realizando sua caminhada evolutiva, errando e acertando, formando sua bagagem de conhecimentos, pessoal e intransferível, a qual Jesus se refere como verdadeira e que a ferrugem nem a traça consomem.

Nessa caminhada vão se estruturando sinais que evidenciam o progresso já alcançado pelo Espírito. Comprova-se, facilmente, a elevação espiritual de um indivíduo pela sua conduta moral no dia-a-dia. O Espirito prova a sua elevação quando todos os aios da vida corpórea constituem a prática da Lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida espiritual (LÊ 918). Quando vivência espontaneamente as leis naturais, quando harmoniza-se com a essência divina que o caracteriza, o grandioso processo de transcendência foi iniciado e novas dimensões se abrem para o ser.
O homem de bem busca continuamente uma auto-avaliação de si mesmo, para conscientizar-se de seus atos. Ele pratica a lei de justiça, amor e caridade na sua mais completa pureza (LÊ 918). Valendo-se da Lei de Liberdade, pratica o bem pela alegria de praticar o bem, e não porque estivesse condicionado por algum castigo ou recompensa. Se Deus lhe concedeu o poder e a riqueza, administra-os , seguindo a Lei da Caridade, servindo-se deles como um depósito a ser utilizado em proveito de muitos. Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, respeita de fato a Lei de Igualdade, tfatando-os com benevolência e respeito, valendo-se da autoridade para apoiá-los moralmente.

Pratica a Lei do Amor ao ser indulgente para com as fraquezas dos outros, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência. Respeita, enfim, nos seus semelhantes, todos os direitos decorrentes da lei natural, como desejaria que respeitassem os seus (LÊ, 918). Busca, enfim, a sua perfectibilidade moral, pois vivência em sua consciência a necessidade de superação em respeito à Lei do Progresso. Ciente da bondade de Deus que se revela em cada criatura, vivência a Lei de Sociedade através da prática do amor ao próximo, da exteriorização do amor em meio aos homens. O homem de bem edifica sua vida sobre a rocha, pois ao identificar-se com o bem, terá sempre força interior con­tra as adversidades da vida.

Conhecimento de Si Mesmo

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", afirmou Jesus (João, 8:32). Quanto mais consciente de si, mais livre será o Espírito. Da mesma forma, recomendam os Espíritos que o meio mais prático para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal é o "conhece-te a ti mesmo" (LÊ 919).

É muito importante a conscientização da necessidade de reforma íntima, como meio de transformação interior, de superação dos defeitos, de acionar a vontade para substituir os vícios por virtudes. No autoburilamento consiste a chave do progresso individual, por isso não se pode mais dispensar o esforço consciente, não se deve mais viver simplesmente seguindo impulsos e instintos .

O primeiro passo para o conhecimento de si mesmo, segundo Santo Agostinho, consiste em interrogar a cada dia a própria consciência e ver se não se faltou ao cumprimento do dever, se ninguém tem nada de se queixar sobre a sua pessoa.

Mas como julgar a si mesmo? A dificuldade está justamente em conhecer a si próprio. Existe, segundo o Livro dos Espíritos, um meio de controle que não pode enganar: "Quando estais indecisos quanto ao valor de uma de vossas ações, perguntai como a qualificaríeis se tivesse sido praticada por outra pessoa. Se a censurardes em outros, ela não poderia ser mais legítima para vós, porque Deus não usa de duas medidas para a justiça (LÊ 919a). É assim que podemos julgar nossas ações segundo uma máxima universal: Não fazer aos outros o que não se deseja para si mesmo.

O que conhecer? Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somo incapazes de perceber nossos próprios. Nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos. É importante a humildade em aceitar as limitações para que se possa crescer e superar-se. Que aquele que tem a verdadeira vontade de se melhorar explore, portanto, a sua consciência, a fim de arrancar dali as más tendências como arranca as ervas daninhas de seu jardim (LÊ 919a). No entanto, importa conhecer não somente as limitações mas, sobretudo, as potencialidades, aquilo que existe de infinito no Espírito, a força interior, o amor, a inteligência, a capacidade de transcender a si mesmo.

É assim que a sabedoria milenar de Sócrates permanece viva e evidente; seu método se desenvolve em dois momentos:
a) Ironia (interrogação) — consiste em interrogar a si mesmo e destruir toda falsa imagem ou idéia de si mesmo.

b) Maiêutica (gr. parturição) — consiste em trazer à luz a interioridade, os potenciais infinitos do Espírito.
Dessa forma o método de Sócrates, já precursor do Cristianismo, evidencia as bases da reforma íntima, nos termos da Doutrina Espírita. Bibliografia: LE,918a919a




C) Sede Perfeitos

Porque se vós amais senão os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se vós saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai Celestial é perfeito (Mt 5:46-48).

Ao recomendar que sejamos perfeitos como o Pai celestial, Jesus ensina o amor ao próximo em sua máxima expressão, ou seja, a prática do amor indistintamente, seja aos inimigos, seja aos que nos perseguem e caluniam. O verdadeiro amor é uma exteriorização da essência divina que deve existir em si mesma, independente do ser a que é dirigida; é assim que Deus faz brilhar o sol sobre os bons e maus, sobre os justos e injustos. O homem compenetrado de alegria que o sentimento de amor proporciona, pratica o bem pelo bem, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, independentemente da retribuição de quem quer que seja ou de qualquer interesse pessoal. Sente-se jubiloso pelo bem que esparge, pêlos atos altamente meritórios de fazer feliz a quem quer que seja. O amor ao próximo estendido até o amor aos inimigos é indício de superioridade moral; disso resulta que o grau de perfeição está na razão direta da extensão do amor ao próximo (ESE, Cap. XVII, item 2); por isso recomenda o Mestre a perfeição, no sentido de estendermos o amor a todos, sem limites e distinção, vivendo assim uma consciência de ordem coletiva e não apenas pessoal. A perfeição, como disse o Cristo, encontra-se inteiramente na prática da caridade sem limites, pois os deveres da caridade abrangem todas as posições sociais, desde a mais ínfima até a mais elevada (ESE, Cap. XVII, item 10).

Deve-se, no entanto, entender por essas palavras uma perfeição relativa, aquela de que a humanidade é suscetível, e que mais pode aproximá-la de Deus. Não se deve nunca tomar essas palavras em sua acepção absoluta, pois o ser humano jamais poderá atingir a perfeição absoluta; dado o fato de ser inteligente, ter passado pela materialidade, ele será sempre relativo, ou seja, sempre perfcctível. O itinerário da perfectibilidade é, portanto, a destinação dos Espíritos, cuja tendência ao progresso lhes é imanente.

Os Espíritos, sendo individuações da essência divina, possuem identidade de origem e de natureza com Deus. A presença divina lhes é, pois, imanente e possuem em forma de potência todos os atributos divinos a serem revelados. Cabe-lhes, assim, revelar, tornar manifestas essas potencialidades infinitas, pela conscientização e consequente dinamização delas. "Sede perfeitos" implica em exteriorizar a qualidade infinita da essência oculta que habita o Espírito.

É assim que afirma ainda Jesus "Vós sois deuses" (Jo 10-34), pois cada criatura é uma criação divina, e sua destinação consiste na manifestação cada vez mais grandiosa do que há em si mesmo de divino. Todo o segredo da perfeição, da felicidade está, portanto, na auto-conscientização das potências divinas que caracterizam o Espírito.
Bibliografia: ESE, Cap. XVII, itens l a 4

QUESTIONÁRIO

a) As virtudes e os Vícios — das paixões — Do egoísmo:
1) Em que consiste a verdadeira virtude?
2) Qual a relação entre o conceito de virtude contido em O Livro dos Espíritos e a Parábola do Filho Pródigo?
3) Qual o meio mais eficaz de combater a predominância da natureza corpórea?

b) características do homem de bem — conhecimento de Si mesmo:
1) Qual a relação do homem de bem com as Leis Morais?
2) Como proceder para conhecer a si mesmo?
3) Relacione o método de Sócrates com a reforma íntima.

c) sede perfeitos:
1) Em que consiste a perfeição, segundo a referida passagem de Jesus, em Mt 5:46-48?
2) Os Espíritos atingirão um dia a perfeição absoluta?
3) O que quis Jesus significar ao afirmar "Vós sois deuses"?


CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 13 - LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE

A) Justiça e Direito Natural — Direito de Propriedade - Roubo

Justiça e Direito Natural

Justiça é a virtude moral pela qual se atribui a cada indivíduo o que lhe é de direito; é um sentimento natural, inerente ao ser humano, e não resultado de idéias adquiridas, pois consiste no respeito ao direito de cada um. O sentimento de justiça está de tal modo patente na natureza que o próprio homem revolta-se à simples idéia de uma injustiça. O progresso moral desenvolve este sentimento, que é o mesmo para todos; o que varia é a sua expressão, em função do grau evolutivo dos Espíritos.

É assim que, o que para uns é justo, para outros não é; isto explica o fato de muitas criaturas interpretarem a justiça de modos diferentes; o critério de justiça está portanto diretamente ligado à evolução moral do Espírito. Por isso que se vêem criaturas simples, e às vezes até primitivas, mas com elevadas noções de justiça, mais exatas do que as de homens de muito saber. Estes, em numerosas oportunidades deixam-se levar pela cobiça, pelo poder e pela vaidade, desvirtuando assim o conceito natural de justiça, ao aplicá-la segundo seus próprios interesses.

A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um (LÊ, 875). Esses direitos são determinados por duas leis: a lei natural e a lei humana. A primeira é eterna, imutável, e sua origem identifica-se com a própria natureza de Deus, sendo sempre a mesma para todos. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante Ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições (LÊ, 878a). A segunda, compreendendo um conjunto de leis ou normas que regem as relações entre os homens, é feita de acordo com seus interesses, seus costumes, seu caráter, estabelecendo regras que podem variar com o progresso moral e intelectual. O direito dos homens, portanto, nem sempre corresponde à verdadeira justiça; ele só regula algumas relações sociais, porque há uma infinidade de atos que dizem respeito tão somente à consciência de cada um.

Pelo fato da justiça consistir no respeito aos direitos de cada um, se o homem não souber onde termina o seu direito e começa o do outro, deve basear-se no ensinamento de Jesus: "Querei para os outros o que quereis para vós mesmos".
Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, decorrem para ele obrigações especiais, sendo a primeira a de respeitar os direitos de seus semelhantes; aquele que se empenha em respeitar esse direito será sempre considerado como um homem justo.

Portanto, a característica de todo aquele que procura viver sob a égide da Lei de Justiça, Amor e Caridade em toda sua essência, é a do homem verdadeiramente bom e justo, porque estaria seguindo o exemplo de Jesus ao praticar o amor ao próximo e caridade, virtudes sem as quais não se estabelece a verdadeira justiça.

Direito de Propriedade - Roubo

O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver, pois a vida é necessária para o aperfeiçoamento dos seres; é por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, on fazer qualquer coisa que possa comprometer a existência corpórea dele (LÊ, 880).

Deste direito inalienável decorre o direito à propriedade, porque esta é fruto que nasce de um outro direito, tão sagrado quanto o de viver: o de trabalhar. Todos os bens que o homem ajunta através do trabalho honesto, sem ter causado prejuízo moral ou material a outros, constitui-se em propriedade legítima, que ele tem o direito de defender e que lhe permitirá o devido repouso, quando não possa mais trabalhar.

Portanto, o direito de possuir constitui-se também como de ordem natural; importa, no entanto, que seja exercido com prudência e equilíbrio. Aqueles que se mostram insaciáveis na aquisição de bens, acumulando-os sem utilidade para si nem para ninguém, apenas para satisfazer o desejo de posse, tornam-se escravos da ganância e do orgulho. Mas todo aquele que ajunta pelo seu trabalho com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus (LÊ, 883a).
Para o homem existe o conceito de legalidade de aquisição, conforme definem as leis humanas; mas o homem de bem deve saber que nem tudo o que é legitimamente adquirido ou consagrado pela legislação humana está conforme a justiça divina; assim, o que num século parecer ser justo em relação ao direito de propriedade, poderá ser catalogado como bárbaro e injusto, no século seguinte.

Bibliografia: LÊ, 873 a 885

B) Caridade e Amor ao Próximo — Amor Maternal e Filial

Caridade e Amor ao Próximo

O verdadeiro sentido da palavra caridade, tal como ensinou Jesus, traduz-se na benevolência para com todos, na indulgência para com as imperfeições alheias e no perdão das ofensas recebidas; tem-se então que caridade é a expressão maior do amor pelo semelhante.

O amor e a caridade tornam-se uma extensão da Lei de Justiça, pois este amor ao próximo significa fazer-lhe todo o bem que cada um gostaria que lhe fosse feito; nenhuma criatura pode exigir do seu semelhante que seja tolerante, indulgente e bondoso, se ele mesmo não proceder da mesma forma para com os outros. Para acentuar ainda mais a necessidade deste amor, Jesus ainda disse: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei". Este preceito manifesta-se tanto na prática da caridade material quanto na caridade moral. Muito embora o dever de todos seja o exercício constante de ambas, a caridade moral é mais difícil e, portanto, mais meritória que a caridade simplesmente material, porque exige de quem a pratica o verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância, princípios contrários ao egoísmo e ao orgulho.

Deste modo, a caridade não se limita apenas aos aspectos materiais, mas abrange em sua essência a vida de relação em todos os pormenores de uma estrutura social, fundamentando-se a partir de algumas atitudes:

— Indulgência, que é a tolerância, a compreensão para com os defeitos do próximo, sem humilhar ou constranger também aquele que está em posição inferior, pois qualquer que seja nosso grau de evolução, estamos sempre colocados entre um superior que nos guia e nos aperfeiçoa, e um inferior, perante o qual temos deveres a cumprir. Não cabe a ninguém atirar a primeira pedra, pois todos são devedores, todos têm defeitos a corrigir, tentações a vencer, hábitos a modificar;

— Benevolência é a boa vontade em ajudar desinteressadamente os que precisam de ajuda, com verdadeiro afeto e respeito pelos seus problemas; é saber falar e ouvir, dando ânimo àquele que desfalece, ressaltando suas qualidades ao invés de apontar seus erros;

— Perdão no mais amplo sentido de esquecimento da falta recebida; perdoar cada ofensa quantas vezes se fizer necessário. Perdoar significa não somente esquecer o mal recebido, mas também não desejar nenhum mal a quem o pratica, inclusive aos "inimigos", dos quais não se deve guardar rancor ou desejo de vingança, mas procurar ajudar para que possam reparar os erros cometidos.

As palavras de Jesus "amai os vossos inimigos" induzem a uma reflexão: sendo o amor pelos inimigos contrário à própria natureza da condição humana, ainda pouco desenvolvida moralmente, é evidente que não se trata do mesmo amor que se tem pelos entes queridos. Amar os inimigos, da maneira como ensinou Jesus, é perdoar-lhes e pagar-lhes o mal com o bem; esta é a verdadeira caridade que caracteriza o homem do bem.

O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece (LÊ, 888); mas toda sociedade que estabelece suas leis sociais tendo como referência a Lei de Justiça. Amor e Caridade , saberá por certo prover as necessidades dos mais fracos, sem que estes se sintam humilhados pela sua inferioridade. A esmola em si não é um ato passível de reprovação, mas sim o modo como ela é praticada. Se o socorro prestado o for por mera ostentação de grandeza perante a sociedade, não haverá mérito algum, pois Jesus recomendou: "Que a sua mão esquerda ignore o que faz a sua mão direita"; por estas palavras ele ensinou a não macular o ato da caridade com o orgulho e a vaidade.

Portanto, a caridade, tal qual ensinou Jesus, consiste em amar uns aos outros, eis toda a lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica (LÊ, 888a). O amor é, assim, a essência divina que habita em todas as criaturas, do átomo ao arcanjo, essência esta que em todos quer revelar-se, na unidade de sua natureza.

Amor Maternal e Filial

O lar é a morada material temporária, onde muitos Espíritos antagônicos reencamam amparados pela tutela do amor maternal, sentimento instintivo, comum tanto para os homens como para os animais, embora nestes tal amor seja limitado às necessidades de sobrevivência de cada espécie; esta limitação explica o fato do amor maternal entre os animais se extinguir tão logo os filhotes se desprendam da mãe. No homem, contudo, este amor persiste por toda a vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes (LÊ, 890).

Muito embora o amor maternal seja um sentimento inerente à Lei Natural, existem mães que repelem seus filhos, já a partir do nascimento; nestes casos, trata-se de circunstâncias especiais que dizem respeito tão somente à Lei de causa e efeito. Às vezes trata-se de uma provação escolhida pelo Espírito reencarnante, ou então é uma expiação, se aconteceu de, em vidas passadas, ele ter sido um mau pai ou mãe. Em todos os casos, a mãe que rejeita o filho desde tenra idade é porque seu Espírito é inferior a tal ponto de criar obstáculos para o filho, concorrendo para o seu fracasso na prova por ele escolhida.

Aos pais cabe, portanto, o dever de fazer todos os esforços no sentido de conduzir os filhos ao bem, independentemente dos desgostos que estes lhe causem, pois muitas vezes apenas refletem o resultado de maus hábitos que os próprios pais deixaram que os filhos adquirissem; aos filhos cabe o dever de honrar seus pais e nessa convivência fraterna, tanto o amor maternal quanto o filial serão decorrência natural da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

Bibliografia:LÊ, 886 a 892

C) Necessidade da Caridade Segundo o Apóstolo Paulo

Ainda que eu falasse todas as línguas dos homens e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine (I Coríntios, 13:1). Indubitavelmente, não existe melhor definição de caridade do que esta que Paulo de Tarso transmitiu aos Coríntios em sua l." Epístola.

Nela, o apóstolo situa a prática da caridade acima de qualquer outra virtude, mesmo acima da fé e da esperança, corroborando com a assertiva de Jesus "a cada um será dado segundo as suas obras". Ninguém melhor do que ele soube compreender e ensinar o que é a caridade, ao sublimar suas próprias emoções na comunhão legítima com os ensinamentos de Jesus.

E assim que, mesmo que falasse todas as línguas dos homens e dos anjos, mesmo que tivesse o dom da profecia, que desse todos seus bens aos pobres e entregasse seu corpo ao sacrifício, mas não tivesse caridade, não tivesse disposição da alma, de nada adiantaria; com estas palavras. Paulo de Tarso estava ensinando a todos que essa sublime disposição interior identifica-se com o mandamento de Jesus "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Ser como o metal que ressoa significa dizer que até mesmo aquele que endurece seu coração deixando de fazer o bem, mesmo que tenha todo saber e erudição, mesmo que saiba proferir belas palavras, tudo isso nada valeria sem a vivência desta virtude.

A necessidade da caridade, segundo o apóstolo, é amar a todos simplesmente pelo desejo de amar, é suprir a carência afetiva inerente à própria condição humana, é o desejo sincero de fazer algo em benefício do bem comum. A Lei de Sociedade impulsiona o homem, na sua vida de relação, a desenvolver suas potencialidades; enquanto inteligência infinita seu patrimônio intelectual e moral se expande e se aprimora à medida que participa ativamente da vida familiar e social pela necessidade inerente de auxílio mútuo, através da caridade, base angular de todo relacionamento social. Deste modo, a caridade segundo Paulo de Tarso é a superação do orgulho e do egoísmo, justamente os maiores obstáculos ao progresso moral da humanidade, pois é através da prática da caridade que o homem deixa vir à tona a natureza íntima do seu ser: o amor, extensível ao seu semelhante.

Ao abordar este tema, o apóstolo Paulo, refletindo certamente toda inspiração advinda da Espiritualidade, conduz os homens a uma reflexão, para que não vissem nesta virtude apenas uma necessidade circunscrita a atos materiais; ser caridoso é algo mais complexo do que o sugere o simples comportamento em determinadas situações sociais, mas uma atitude evangélica e uma predisposição ao amor perante a vida, perante Deus e perante si próprio. As palavras deste apóstolo são incisivas, quando disse: A caridade é paciente; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre (ESE, Cap. XV, item 6).

Nada exprime melhor o pensamento de Jesus, nem melhor resume os deveres das criaturas do que o lema "Fora da caridade não há salvação", por abranger em seu conteúdo toda a essência do mais puro Cristianismo. Por isto, a bandeira da Doutrina Espírita é a caridade, e a sua inscrição é "Fora da caridade não há salvação", base fundamental para a evolução do Espírito, porque sem ela o homem construiria sua casa sobre areia. É preciso, pois, desfraldar e agitar para todos os irmãos em Jesus esta bandeira de amor, porque ela reúne em si mesma todas as virtudes que caracterizam o homem de bem em comunhão total com Deus.

Na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão contidos os destinos do homem sobre a terra e no céu. Sobre a terra porque, à sombra desse estandarte, eles viverão em paz; e no céu, porque aqueles que a tiverem praticado encontrarão graça diante do Senhor (ESE, Cap. XV, item 10).

Bibliografia:ESE, Cap. XV, itens 6 a 10

QUESTIONÁRIO

a) justiça e direito natural— direito de propriedade — roubo:

1) O sentimento de justiça é natural, ou resulta de idéias adquiridas?

2) Em que se diferem a lei humana e a lei natural ou divina? "

3) O que caracteriza a propriedade legítima?

b ) caridade e amor ao próximo — amor materno e filial:

1) Comente o ensinamento de Jesus — "Amai-vos uns aos outros, corno eu vos amei".

2) Quais as atitudes que fundamentam a verdadeira caridade? Explicar.

3) Como a Doutrina Espírita encara o amor maternal e filial?

c ) necessidade da caridade segundo o apóstolo paulo:

1) Defina a caridade, segundo o apóstolo Paulo.

2) Discorra sobre a máxima: "Fora da caridade não há salvação".

3) De que forma pode-se praticar a caridade no dia-a-dia?

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