2o Básico - Aulas

 
CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 15 - PENAS E GOZOS TERRENOS I

A - Felicidade e Infelicidade Relativas
Pelo fato de ser a Terra um planeta ainda de provas e expiações, não pode o homem usufruir de completa felicidade, muito embora, na maior parte das vezes seja ele próprio culpado pelo seu infortúnio, em virtude de sua condição evolutiva. Assim, tanto a felicidade quanto a infelicidade decorrem de duas causas, cuja origem está no homem:

a) — A transgressão à Lei Natural ou Lei de Deus, na presente encarnação, que rege não apenas a vida de relação, mas principalmente a vida moral. Ao afastar-se desta Lei, o homem toma-se o único responsável pela sua infelicidade.

b) — Em virtude de erros cometidos em vidas passadas, justamente pela transgressão à Lei de Deus. que devem ser corrigidos na encarnação presente. Somos punidos nesta vida pelas infrações que cometemos às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas infrações e pelos nossos próprios excessos. Se remontarmos pouco a pouco à origem do que chamamos infelicidades terrenas, veremos a estas, na sua maioria, como a consequência de um primeiro desvio do caminho certo (LÊ, 921). Do exposto, conclui-se que à medida em que o homem se aproxima da Lei de Deus, pode diminuir seus sofrimentos e viver relativamente feliz.

Muito embora a felicidade esteja diretainente ligada à evolução moral de cada um, existe um ideal comum que â toma acessível a todos: em relação à vida material, ser feliz significa a obtenção do necessário para a vida de relação; no que diz respeito à vida moral, ser feliz é ter a consciência do dever cumprido e a certeza de um futuro melhor. Porém, grande parte da Humanidade ainda não tem esta compreensão, e os momentos que poderiam ser de relativa felicidade tornam-se aflitivos e dolorosos. No enfoque deste tema, Penas e gozos terrenos, é possível relacionar algumas causas das infelicidades terrenas, a saber:

1) Em relação à vida material:
— Acúmulo de bens:
Sob o imperativo da Lei de Conservação, o homem vê-se na contingência de prover suas necessidades materiais, visando ao seu bem-estar; mas, impelido pela inveja e pela ganância, almeja sempre mais, ultrapassando o limite do necessário para viver dignamente; no afã de acumular bens, a cobiça turva-lhe o raciocínio, impedindo-o de distinguir o bem do mal, advindo-lhe então irreversíveis quedas morais, cujo soerguimento, doloroso em função da Lei de causa e efeito, torna-se motivo de grande infelicidade.

Riqueza — pobreza:
Muitas criaturas são favorecidas com grandes fortunas que, à primeira vista, parece não merecê-las. Convém lembrar, porém, que as provas são geralmente escolhidas pelos Espíritos quando na erraticidade, e pode acontecer de fracassarem no seu intento; além do mais, a riqueza constitui-se em uma prova das mais difíceis, pois se, de um lado, a pobreza pode levar à revolta, a fortuna pode levar a grandes excessos. Assim, se porventura alguém se condoer daquele que é pobre e invejar aquele que possui grandes bens, importa considerar que ambos passam por provas que lhes abrirão novas perspectivas de progresso espiritual, desde que obtenham êxito.

— Aptidões naturais:
Todos os homens têm aptidões naturais, através das quais a Providência Divina lhes indica as vocações a serem desenvolvidas; porém, muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, fazem os filhos se desviarem do caminho traçado pela Natureza, comprometendo-lhes com isso a felicidade. Mas serão responsabilizados por isto (LÊ, 928).

— Trabalho:
O trabalho, enquanto Lei da Natureza, impõe-se a todos como condição essencial para que haja progresso social, intelectual e moral. Mas, se o homem puder desenvolvê-lo segundo sua aptidão natural para esta ou aquela atividade, certamente será feliz, seja um trabalho humilde ou um superior. Quando ele colocar de lado o preconceito social e seu orgulho ferido, saberá então organizar uma sociedade fundamentada na Lei de Amor, Justiça e Caridade e, portanto, nos ensinamentos de Jesus. Então, jamais lhe faltará trabalho, porque sempre encontrará uma ocupação que o ajudará a viver dignamente; ninguém perecerá por falta de condições básicas à própria vida, excetuando-se aqueles que passam privações por própria culpa.

— Diferenças sociais:
Poder-se-ia questionar por que as classes sociais sofredoras são mais numerosas do que as aparentemente mais felizes. Contudo, nenhuma é completamente feliz, porque o homem sempre julga haver felicidade onde se ocultam grandes aflições, pois o sofrimento é parte integrante de um mundo de provas e expiações.

— Felicidade e infelicidade relativas:
Muito embora a necessidade seja sempre relativa às posses materiais de cada um, pode-se concluir que o mais rico é aquele que sente menos necessidades próprias, ou seja, o que se conforma em viver dentro de seus recursos, sem se deixar levar pelas necessidades artificiais, criadas pelo mundo contemporâneo. Portanto, o homem que sabe viver dentro dos limites de suas necessidades, sem desejar o que não está ao alcance de suas possibilidades, livra-se de muitos sofrimentos e decepções; conseqüentemente, será mais feliz, e é sob esse aspecto que se deve entender a questão da relatividade quanto à felicidade ou infelicidade terrenas.

2) Em relação à vida moral:
— Paixões:
Se, por um lado, o homem é causador dos seus sofrimentos materiais ao desejar sempre mais posses, por outro, é também causador de seus sofrimentos morais que por vezes independem de sua vontade: o orgulho ferido, a ambição desmedida, a avareza, a inveja, o ciúme, enfim, todas as paixões que desaguam em grandes dores, tirando-lhe os momentos de felicidade que poderia usufruir na presente encarnação.

— Más influências:
Um fator determinante do qual decorre a felicidade ou infelicidade é a influência que Espíritos de má índole podem exercer sobre os bons; isto ocorre porque estes, na maioria das vezes, aparentam fraqueza, deixando-se dominar, ao passo que os maus geralmente são persistentes, astutos e intrigantes. Mas, à medida que os bons deixarem de ser fracos e tímidos e seus sentimentos de fraternidade e solidariedade so­brepujarem a má índole de seus semelhantes, o bem tornar-se-á extensível a todos, e a tão almejada felicidade estará mais ao alcance do homem.

Do exposto acima deduz-se que o conceito de felicidade para o homem, na sua atual condição evolutiva, está na satisfação dos prazeres materiais, e que toda infelicidade se resume a partir do momento em que não os pode satisfazer. Por isto, as sociedades nativas, que ainda não se incorporaram às conquistas do mundo moderno são mais felizes, porque estão isentas da cobiça e da ganância em possuir características dos homens civilizados. No estado de civilização o homem pondera a sua infelicidade, a analisa e por isso é mais afetado por ela, mas pode também ponderar e analisar os seus meios de consolação. Esta consolação ele a encontra no sentimento cristão que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no Espiritismo que lhe dá a certeza do futuro (LÊ, 933).

Quando o homem tiver a compreensão da transitoriedade da vida terrena e souber pautar sua vida dentro dos limites do necessário que a Natureza lhe concede; quando souber apreender o alcance social e moral da Lei de Justiça, Amor e Caridade; quando conseguir analisar as penas e usufruir os gozos que lhe cabem por dever, direito e conquista, sentir-se-á mais feliz, pois aceitará os sofrimentos com resignação e conhecimento de causa, tomando-os por conta de meros transtornos passageiros.
Bibliografia:
LÊ, 920 a 933

B) Perda de Entes Queridos
Perda de Entes Queridos
A perda de entes queridos é, sem dúvida, uma causa de grande sofrimento, da qual ninguém está isento; atinge tanto o rico quanto o pobre, porque representa uma prova ou expiação a que todos estão sujeitos. Entretanto, a consolação trazida pela Doutrina Espírita, ao trazer à luz o princípio da reencarnação, abriu um mundo novo e novas perspectivas a todos os que sofrem tal perda, pois sabem que não houve separação definitiva, mas sim passageira; a saudade, para aquele que tem a certeza que a vida continua, fica mais leve é mais fácil de suportar.

Deste modo, o ser amado está frequentemente junto de cada um, podendo, às vezes, comunicar-se através de diversos meios, pois não há barreiras intransponíveis entre encarnados e desencarnados. Contrariamente ao pensamento de alguns, não há profanação nas comunicações com o Mundo Espiritual, desde que a evocação seja praticada com o devido respeito e recolhimento. A profanação se configura quando a comunicação entre o Mundo Espiritual e o Mundo Material tem objetivos levianos e fraudulentos, cuja finalidade é tão somente enganar os incautos, geralmente transtornados pela perda de um ente querido.

Sem dúvida, a lembrança carinhosa dos que ficaram é sempre grata ao Espírito que retornou à pátria espiritual; mas suas dores causam tristeza e perturbação ao desencarnado; este, quando lhe é permitido, pode ver e sentir a dor e o desespero dos que ficaram, sem nada poder fazer. Contudo, o sofrimento atinge-o a tal ponto de dificultar a sua adaptação à nova realidade e a recuperação de sua lucidez espiritual. A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos permite entreter com eles, nos oferece uma suprema consolação, numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo não há mais soli­dão, não há mais abandono. O mais isolado dos homens tem sempre amigos ao seu redor, com os quais pode comunicar-se (LÊ, 936). Bibliografia: LÊ, 934 a 936
C) Os Tormentos Voluntários — A Infelicidade Real

A vida de qualquer um não consiste na abundância do que possui (Lucas, 12:15).

Os Tormentos Voluntários
O significado desta citação evangélica, analisada à luz da razão, aponta a fragilidade do ser humano: a incansável procura da felicidade, baseada totalmente em valores perecíveis e na aquisição incontrolável de bens materiais. Paradoxalmente, é justamente na busca desta felicidade fictícia que se encontra a origem de seus sofrimentos. Assim, tormentos são as aflições, as angústias e privações que o homem atrai para si, espontaneamente, em razão da sua vivência totalmente voltada para os valores transitórios da vida terrena; voluntários, pois são dores desnecessárias, que nem sempre significam reajustes de erros cometidos em vidas passadas, mas apenas representam as consequências de uma busca infrutífera, porque realizada em terreno impróprio.

Em um mundo de provas e expiações, ser feliz ou infeliz é um estado interior que depende exclusivamente de valores morais e, portanto, o homem pode, mesmo na Terra, usufruir de uma relativa felicidade, desde que saiba procurá-la vivenciando a justiça, o amor e a caridade para com seu semelhante; nesta vivência fraterna, na alegria daquele que dá ajuda e consolo é que consiste a verdadeira felicidade, porque ele terá a consciência tranquila do dever cumprido e, conseqüentemente terá paz no seu coração.

Não há tormento maior para o homem do que as consequências do orgulho, da vaidade, do ciúme e da inveja; sob o domínio das imperfeições, ele não se conforma em ver seu semelhante prosperar, ser bem sucedido na vida, desfrutar de relativa prosperidade, enquanto ele próprio vive em situação de inferioridade ou de forma aflitiva. Atormentado pelo seu infortúnio, não consegue refletir e muito menos analisar a grande lição que a vida lhe oferece: aqueles que aparentam felicidade por possuírem bens materiais, muitas vezes trazem o coração amargurado presa dos mais angustiantes tormentos.

De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico, porque, se olha abaixo de si, em lugar de olhar para cima, verá sempre pessoas que têm menos ainda; é calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas, e a calma, no meio das tempestades da vida, não será felicidade? (ESE, Cap. V, item 23).

A Infelicidade Real

Erroneamente, os homens supõem conhecer a infelicidade nos seus mais variados graus de intensidade. Mas, conforme esclarecem os Espíritos, há uma significativa inversão de valores, em relação a este assunto. Enquanto que a felicidade, para a visão do mundo, está no acúmulo de bens,, a infelicidade, dentro da mesma perspectiva, está na falta tudo o que esses bens podem proporcionar. Nesta linha de raciocínio, a infelicidade configura-se na escassez de recur, nos flagelos da natureza, em todas as mazelas pertinentes somente à condição humana. Tudo isto, mais a infindável relação de transtornos que acometem a vida diária representam um estado aflitivo de infelicidade para o homem.

A inversão de valores evidencia-se neste próprio conceito de felicidade: é a alegria malsã, é o prazer que causa desequelíbrio, é a fortuna que leva à excessos, é a satisfação de desejos materiais, enfim, todos os gozos terrenos que amortecem a consciência pesada que obscurecem o raciocínio e impedem o homem de refletir sobre os verdadeiros valores que dizem respeito à vida espiritual. A própria Lei de Destruição, enquanto necessária à renovação e melhoria dos seres vivos, nem sempre é compreendida pelos homens, que julgam ser uma infelicidade os transtornos passageiros decorrentes de sua ação renovadora.

Portanto, antes de se emitir qualquer julgamento a respeito de felicidade ou infelicidade, é necessário uma reflexão que leve ao aproveitamento dos momentos de angústia e de tristeza; para julgar uma coisa é preciso, pois, ver-lhe as consequências; é assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem sentir; ora, tudo o que se chama infelicidade segundo sua curta visão, cessa com a vida e encontra sua compensação na vida futura (ESE, Cap. V, item 24).
Bibliografia:
ESE, Cap. V, itens 23 e 24







QUESTIONÁRIO

a) felicidade e infelicidade relativas:
1) Cite três principais causas materiais que concorrem para a infelicidade do homem.
2) Quais as causas morais que podem concorrer para a infelicidade do homem?
3) Em que consiste a verdadeira felicidade?
b) perda de entes queridos:
1) Por que se deve evitar o desespero quanto à perda de pessoas amadas?
2) Qual o consolo que a Doutrina Espírita oferece aos que perdem entes queridos?
3) Por que é lícita a comunicação com o Mundo Espiritual? Comente.
c) Os tormentos voluntários — A infelicidade real:
1) O que são tormentos, e por que voluntários?
2) Comente: "A vida de qualquer um não consiste na abundância do que possui" (Lucas 12:15).
3) Quais são os valores que a nossa sociedade deveria prezar?


CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 13 - LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE

A) Justiça e Direito Natural — Direito de Propriedade - Roubo

Justiça e Direito Natural

Justiça é a virtude moral pela qual se atribui a cada indivíduo o que lhe é de direito; é um sentimento natural, inerente ao ser humano, e não resultado de idéias adquiridas, pois consiste no respeito ao direito de cada um. O sentimento de justiça está de tal modo patente na natureza que o próprio homem revolta-se à simples idéia de uma injustiça. O progresso moral desenvolve este sentimento, que é o mesmo para todos; o que varia é a sua expressão, em função do grau evolutivo dos Espíritos.

É assim que, o que para uns é justo, para outros não é; isto explica o fato de muitas criaturas interpretarem a justiça de modos diferentes; o critério de justiça está portanto diretamente ligado à evolução moral do Espírito. Por isso que se vêem criaturas simples, e às vezes até primitivas, mas com elevadas noções de justiça, mais exatas do que as de homens de muito saber. Estes, em numerosas oportunidades deixam-se levar pela cobiça, pelo poder e pela vaidade, desvirtuando assim o conceito natural de justiça, ao aplicá-la segundo seus próprios interesses.

A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um (LÊ, 875). Esses direitos são determinados por duas leis: a lei natural e a lei humana. A primeira é eterna, imutável, e sua origem identifica-se com a própria natureza de Deus, sendo sempre a mesma para todos. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante Ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições (LÊ, 878a). A segunda, compreendendo um conjunto de leis ou normas que regem as relações entre os homens, é feita de acordo com seus interesses, seus costumes, seu caráter, estabelecendo regras que podem variar com o progresso moral e intelectual. O direito dos homens, portanto, nem sempre corresponde à verdadeira justiça; ele só regula algumas relações sociais, porque há uma infinidade de atos que dizem respeito tão somente à consciência de cada um.

Pelo fato da justiça consistir no respeito aos direitos de cada um, se o homem não souber onde termina o seu direito e começa o do outro, deve basear-se no ensinamento de Jesus: "Querei para os outros o que quereis para vós mesmos".
Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, decorrem para ele obrigações especiais, sendo a primeira a de respeitar os direitos de seus semelhantes; aquele que se empenha em respeitar esse direito será sempre considerado como um homem justo.

Portanto, a característica de todo aquele que procura viver sob a égide da Lei de Justiça, Amor e Caridade em toda sua essência, é a do homem verdadeiramente bom e justo, porque estaria seguindo o exemplo de Jesus ao praticar o amor ao próximo e caridade, virtudes sem as quais não se estabelece a verdadeira justiça.

Direito de Propriedade - Roubo

O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver, pois a vida é necessária para o aperfeiçoamento dos seres; é por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, on fazer qualquer coisa que possa comprometer a existência corpórea dele (LÊ, 880).

Deste direito inalienável decorre o direito à propriedade, porque esta é fruto que nasce de um outro direito, tão sagrado quanto o de viver: o de trabalhar. Todos os bens que o homem ajunta através do trabalho honesto, sem ter causado prejuízo moral ou material a outros, constitui-se em propriedade legítima, que ele tem o direito de defender e que lhe permitirá o devido repouso, quando não possa mais trabalhar.

Portanto, o direito de possuir constitui-se também como de ordem natural; importa, no entanto, que seja exercido com prudência e equilíbrio. Aqueles que se mostram insaciáveis na aquisição de bens, acumulando-os sem utilidade para si nem para ninguém, apenas para satisfazer o desejo de posse, tornam-se escravos da ganância e do orgulho. Mas todo aquele que ajunta pelo seu trabalho com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus (LÊ, 883a).
Para o homem existe o conceito de legalidade de aquisição, conforme definem as leis humanas; mas o homem de bem deve saber que nem tudo o que é legitimamente adquirido ou consagrado pela legislação humana está conforme a justiça divina; assim, o que num século parecer ser justo em relação ao direito de propriedade, poderá ser catalogado como bárbaro e injusto, no século seguinte.

Bibliografia: LÊ, 873 a 885

B) Caridade e Amor ao Próximo — Amor Maternal e Filial

Caridade e Amor ao Próximo

O verdadeiro sentido da palavra caridade, tal como ensinou Jesus, traduz-se na benevolência para com todos, na indulgência para com as imperfeições alheias e no perdão das ofensas recebidas; tem-se então que caridade é a expressão maior do amor pelo semelhante.

O amor e a caridade tornam-se uma extensão da Lei de Justiça, pois este amor ao próximo significa fazer-lhe todo o bem que cada um gostaria que lhe fosse feito; nenhuma criatura pode exigir do seu semelhante que seja tolerante, indulgente e bondoso, se ele mesmo não proceder da mesma forma para com os outros. Para acentuar ainda mais a necessidade deste amor, Jesus ainda disse: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei". Este preceito manifesta-se tanto na prática da caridade material quanto na caridade moral. Muito embora o dever de todos seja o exercício constante de ambas, a caridade moral é mais difícil e, portanto, mais meritória que a caridade simplesmente material, porque exige de quem a pratica o verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância, princípios contrários ao egoísmo e ao orgulho.

Deste modo, a caridade não se limita apenas aos aspectos materiais, mas abrange em sua essência a vida de relação em todos os pormenores de uma estrutura social, fundamentando-se a partir de algumas atitudes:

— Indulgência, que é a tolerância, a compreensão para com os defeitos do próximo, sem humilhar ou constranger também aquele que está em posição inferior, pois qualquer que seja nosso grau de evolução, estamos sempre colocados entre um superior que nos guia e nos aperfeiçoa, e um inferior, perante o qual temos deveres a cumprir. Não cabe a ninguém atirar a primeira pedra, pois todos são devedores, todos têm defeitos a corrigir, tentações a vencer, hábitos a modificar;

— Benevolência é a boa vontade em ajudar desinteressadamente os que precisam de ajuda, com verdadeiro afeto e respeito pelos seus problemas; é saber falar e ouvir, dando ânimo àquele que desfalece, ressaltando suas qualidades ao invés de apontar seus erros;

— Perdão no mais amplo sentido de esquecimento da falta recebida; perdoar cada ofensa quantas vezes se fizer necessário. Perdoar significa não somente esquecer o mal recebido, mas também não desejar nenhum mal a quem o pratica, inclusive aos "inimigos", dos quais não se deve guardar rancor ou desejo de vingança, mas procurar ajudar para que possam reparar os erros cometidos.

As palavras de Jesus "amai os vossos inimigos" induzem a uma reflexão: sendo o amor pelos inimigos contrário à própria natureza da condição humana, ainda pouco desenvolvida moralmente, é evidente que não se trata do mesmo amor que se tem pelos entes queridos. Amar os inimigos, da maneira como ensinou Jesus, é perdoar-lhes e pagar-lhes o mal com o bem; esta é a verdadeira caridade que caracteriza o homem do bem.

O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece (LÊ, 888); mas toda sociedade que estabelece suas leis sociais tendo como referência a Lei de Justiça. Amor e Caridade , saberá por certo prover as necessidades dos mais fracos, sem que estes se sintam humilhados pela sua inferioridade. A esmola em si não é um ato passível de reprovação, mas sim o modo como ela é praticada. Se o socorro prestado o for por mera ostentação de grandeza perante a sociedade, não haverá mérito algum, pois Jesus recomendou: "Que a sua mão esquerda ignore o que faz a sua mão direita"; por estas palavras ele ensinou a não macular o ato da caridade com o orgulho e a vaidade.

Portanto, a caridade, tal qual ensinou Jesus, consiste em amar uns aos outros, eis toda a lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica (LÊ, 888a). O amor é, assim, a essência divina que habita em todas as criaturas, do átomo ao arcanjo, essência esta que em todos quer revelar-se, na unidade de sua natureza.

Amor Maternal e Filial

O lar é a morada material temporária, onde muitos Espíritos antagônicos reencamam amparados pela tutela do amor maternal, sentimento instintivo, comum tanto para os homens como para os animais, embora nestes tal amor seja limitado às necessidades de sobrevivência de cada espécie; esta limitação explica o fato do amor maternal entre os animais se extinguir tão logo os filhotes se desprendam da mãe. No homem, contudo, este amor persiste por toda a vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes (LÊ, 890).

Muito embora o amor maternal seja um sentimento inerente à Lei Natural, existem mães que repelem seus filhos, já a partir do nascimento; nestes casos, trata-se de circunstâncias especiais que dizem respeito tão somente à Lei de causa e efeito. Às vezes trata-se de uma provação escolhida pelo Espírito reencarnante, ou então é uma expiação, se aconteceu de, em vidas passadas, ele ter sido um mau pai ou mãe. Em todos os casos, a mãe que rejeita o filho desde tenra idade é porque seu Espírito é inferior a tal ponto de criar obstáculos para o filho, concorrendo para o seu fracasso na prova por ele escolhida.

Aos pais cabe, portanto, o dever de fazer todos os esforços no sentido de conduzir os filhos ao bem, independentemente dos desgostos que estes lhe causem, pois muitas vezes apenas refletem o resultado de maus hábitos que os próprios pais deixaram que os filhos adquirissem; aos filhos cabe o dever de honrar seus pais e nessa convivência fraterna, tanto o amor maternal quanto o filial serão decorrência natural da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

Bibliografia:LÊ, 886 a 892

C) Necessidade da Caridade Segundo o Apóstolo Paulo

Ainda que eu falasse todas as línguas dos homens e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine (I Coríntios, 13:1). Indubitavelmente, não existe melhor definição de caridade do que esta que Paulo de Tarso transmitiu aos Coríntios em sua l." Epístola.

Nela, o apóstolo situa a prática da caridade acima de qualquer outra virtude, mesmo acima da fé e da esperança, corroborando com a assertiva de Jesus "a cada um será dado segundo as suas obras". Ninguém melhor do que ele soube compreender e ensinar o que é a caridade, ao sublimar suas próprias emoções na comunhão legítima com os ensinamentos de Jesus.

E assim que, mesmo que falasse todas as línguas dos homens e dos anjos, mesmo que tivesse o dom da profecia, que desse todos seus bens aos pobres e entregasse seu corpo ao sacrifício, mas não tivesse caridade, não tivesse disposição da alma, de nada adiantaria; com estas palavras. Paulo de Tarso estava ensinando a todos que essa sublime disposição interior identifica-se com o mandamento de Jesus "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Ser como o metal que ressoa significa dizer que até mesmo aquele que endurece seu coração deixando de fazer o bem, mesmo que tenha todo saber e erudição, mesmo que saiba proferir belas palavras, tudo isso nada valeria sem a vivência desta virtude.

A necessidade da caridade, segundo o apóstolo, é amar a todos simplesmente pelo desejo de amar, é suprir a carência afetiva inerente à própria condição humana, é o desejo sincero de fazer algo em benefício do bem comum. A Lei de Sociedade impulsiona o homem, na sua vida de relação, a desenvolver suas potencialidades; enquanto inteligência infinita seu patrimônio intelectual e moral se expande e se aprimora à medida que participa ativamente da vida familiar e social pela necessidade inerente de auxílio mútuo, através da caridade, base angular de todo relacionamento social. Deste modo, a caridade segundo Paulo de Tarso é a superação do orgulho e do egoísmo, justamente os maiores obstáculos ao progresso moral da humanidade, pois é através da prática da caridade que o homem deixa vir à tona a natureza íntima do seu ser: o amor, extensível ao seu semelhante.

Ao abordar este tema, o apóstolo Paulo, refletindo certamente toda inspiração advinda da Espiritualidade, conduz os homens a uma reflexão, para que não vissem nesta virtude apenas uma necessidade circunscrita a atos materiais; ser caridoso é algo mais complexo do que o sugere o simples comportamento em determinadas situações sociais, mas uma atitude evangélica e uma predisposição ao amor perante a vida, perante Deus e perante si próprio. As palavras deste apóstolo são incisivas, quando disse: A caridade é paciente; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre (ESE, Cap. XV, item 6).

Nada exprime melhor o pensamento de Jesus, nem melhor resume os deveres das criaturas do que o lema "Fora da caridade não há salvação", por abranger em seu conteúdo toda a essência do mais puro Cristianismo. Por isto, a bandeira da Doutrina Espírita é a caridade, e a sua inscrição é "Fora da caridade não há salvação", base fundamental para a evolução do Espírito, porque sem ela o homem construiria sua casa sobre areia. É preciso, pois, desfraldar e agitar para todos os irmãos em Jesus esta bandeira de amor, porque ela reúne em si mesma todas as virtudes que caracterizam o homem de bem em comunhão total com Deus.

Na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão contidos os destinos do homem sobre a terra e no céu. Sobre a terra porque, à sombra desse estandarte, eles viverão em paz; e no céu, porque aqueles que a tiverem praticado encontrarão graça diante do Senhor (ESE, Cap. XV, item 10).

Bibliografia:ESE, Cap. XV, itens 6 a 10

QUESTIONÁRIO

a) justiça e direito natural— direito de propriedade — roubo:

1) O sentimento de justiça é natural, ou resulta de idéias adquiridas?

2) Em que se diferem a lei humana e a lei natural ou divina? "

3) O que caracteriza a propriedade legítima?

b ) caridade e amor ao próximo — amor materno e filial:

1) Comente o ensinamento de Jesus — "Amai-vos uns aos outros, corno eu vos amei".

2) Quais as atitudes que fundamentam a verdadeira caridade? Explicar.

3) Como a Doutrina Espírita encara o amor maternal e filial?

c ) necessidade da caridade segundo o apóstolo paulo:

1) Defina a caridade, segundo o apóstolo Paulo.

2) Discorra sobre a máxima: "Fora da caridade não há salvação".

3) De que forma pode-se praticar a caridade no dia-a-dia?


CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 12 - LEI DE LIBERDADE

A) Liberdade Natural — Escravidão — Liberdade de Pensamento e de Consciência

Liberdade Natural

O homem é um ser gregário por natureza, vive em grupo e, desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e não terão eles, portanto, liberdade absoluta. (LÊ 826). A liberdade e o direito de um terminam, onde começam a liberdade e o direito do outro. Vê-se assim que, segundo a Lei Natural, a liberdade é relativa como decorrência da natureza social do homem, ou seja, a Lei de Sociedade que lhe é imanente.

Mas onde está o limite da liberdade? Como defini-lo? Quando saber que se está entrando na seara alheia, ou está se aproveitando dela? A resposta está no ensinamento de Jesus: Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam. Eis o princípio da Lei da Justiça Divina, que marca o limite dos direitos e da liberdade de um em relação ao outro. Liberdade não é o homem entregar-se aos impulsos e instintos inferiores, mas a emancipação da alma dos vínculos primários da matéria, assim como na espontaneidade com que vivência o respeito a outrem em uma ação moral. Qualquer ação ofensiva à liberdade ou ao direito de outrem gera responsabilidade, que será registrada na consciência, pois segundo a Lei da Igualdade, não existem privilégios perante Deus.

Quanto mais inteligência tenha o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo (LÊ 828a). Desta forma a liberdade é tanto maior para a alma que age segundo os ditames da própria consciência. Por outro lado. quanto mais cresça em conhecimentos e possibilidades, neste ou naquele sentido, mais caminhos se desdobram à sua visão, constrangendo-o a vigiar sobre suas escolhas.

Escravidão

Embora se tenha liberdade de escolha, de ser e de agir, essa liberdade termina no limite em que ameaça a liberdade do outro. Desta forma, toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à Lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos (LÊ, 829). Quando o homem fizer melhor uso de sua inteligência, e agir sobretudo impulsionado pelo sentimento autêntico do amor. não mais haverá fornia de opressão que gere constrangimentos físicos ou morais. Embora haja sempre desigualdade de aptidões, os mais fortes e os mais inteligentes devem ajudar os mais fracos a progredir, e nunca escravizá-los com vistas à ilusão dos poderes terrenos.

Liberdade de Pensamento

Há no homem algo que escapa a todo constrangimento, e pelo qual ele goza de uma liberdade absoluta: o pensamento. É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não possui entraves. (LÊ 833). Sem dúvida, sendo uma faculdade inerente ao ser humano, o pensar é absolutamente livre, no entanto importa considerar sobretudo o conteúdo dos pensamentos. Pensar é criar, e quando se pensa criam-se imagens fluídicas que geram consequências maléficas ou benéficas, segundo a qualidade do pensamento. Sob esse aspecto, o homem é responsável por seus pensamentos, perante Deus e perante a si mesmo.

Liberdade de Consciência

A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem como todos ou outros pensamentos íntimos (LÊ 835). Conseqüentemente, a liberdade de consciência é decorrente da liberdade de pensar. A consciência abrange não só o pensamento, mas o modo de ser de agir, as normas de conduta, caracterizando assim a individualidade de cada um. Não se pode subtrair a liberdade de consciêncii dos homens, pois isso implicaria em obrigá-los a agir de maneira diversa ao seu modo de pensar, o que os tornaria hipócritas. Quanto mais elevado o Espírito, mais aceita e respeita opiniões e crenças diferentes da sua, a liberdade de consciência é uma das características aã verdadeira civilização e do progresso (LÊ 837). O homem não tem direito de opor entraves à liberdade de consciência de outros, cabei do-lhe respeitar, sem faltar com caridade, os diferentes pontos de vista.

Escandalizar alguém que em sua crença não pensa como nós é atentar contra a Lei de Liberdade, pois toda crença quando sincera e conduz à prática do bem é respeitável.
Já nos casos de crenças reprováveis, por conduzirem o homem ao mal, não se pode modificá-las, pois trata-se de foro íntimo, pode-se, sim, reprimir atos que venham a prejudicar terceiros. Nesse caso, não se está atentando contra a liberdade de consciência, pois deixa-se ao indivíduo sua inteira liberdade de ser. No caso de doutrinas perniciosas, deve-se tentar conduzi-las à verdade pela doçura e persuasão, jamais pela força, por imposição ou violência.

Bibliografia:LÊ 825 a 842

B) Livre-Arbítírio e Fatalidade Livre-arbítrio

Livre-arbítrio é a liberdade de determinação da vontade humana de, entre duas ou mais alternativas, poder escolher livremente uma delas. E um privilégio do ser humano; a liberdade consciente, porém, implica sempre em responsabilidade perante Deus e a própria consciência. Através do livre-arbítrio o homem tem a faculdade de determinar a si mesmo. Segundo os Espíritos o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire consciência de si mesmo (LÊ 122). No homem, em seu estado primitivo, o que mais predomina é o instinto, mas, à medi­da que a inteligência se desenvolve, através das experiências vividas nas reencarnações, a liberdade também se desenvolve, dotando-o da capacidade de analisar, de distinguir o certo do errado, e dando-lhe mais poder de decisão. Deus concedeu o poder de escolha a cada um, para que todos tivessem o mérito de suas obras.

Estudemos o livre-arbítrio em relação à criança, ao selvagem, às predisposições instintivas, à influência do organismo e à posição social:

1 — Nas primeiras fases da vida a liberdade é quase nula, ela se desenvolve com as faculdades. Estando os pensamentos da criança em relação com as necessidades de sua idade, ela aplica o seu livre-arbítrio às coisas que lhe são necessárias (LÊ 844).

2 — No caso do selvagem, predomina o instinto, mas isso não o impede de agir com liberdade. No entanto, como a criança, ele aplica a liberdade tão somente em função de suas necessidades básicas. Por conseguinte, aquele que é mais esclarecido, é também mais responsável pelo que faz.

3 — As predisposições instintivas podem ser obstáculo ao exercício do livre-arbítrio, ao impelir o indivíduo por vezes a atos repreensíveis, mas não há arrastamento irresistível quando se tem a vontade de resistir.

4 — O Espírito é certamente influenciado pela matéria que pode entravar suas manifestações (LÊ 846). Este é o caso daqueles cuja limitação física impede o Espírito de manifestar-se livremente. Já nos mundos superiores onde a influência da matéria é menor, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade.

5 — Por vezes a posição social pode ser um obstáculo à inteira liberdade de ação. O Espírito pode encarnar em uma situação constrangedora. Cabe a ele valer-se de sua liberdade para esforçar-se ou não para superar os obstáculos.

Pode-se afirmar, com efeito, que o Espírito, através das sucessivas reencarnações, está destinado à felicidade e à perfectibilidade, através de sua própria conquista, através do exercício de seu livre-arbítrio, isto é, agindo segundo sua vontade, porém, desde que de acordo com sua natureza espiritual e com a Lei de Amor que lhe é imanente.

Fatalidade

Alguns estudiosos consideram o livre-arbítrio absoluto; no extremo oposto, três outras correntes filosóficas existem que negam peremptori­amente o livre-arbítrio, a saber;

— O fatalismo — considera que todos os acontecimentos estão previamente fixados por uma causa natural.

— O predestinacionismo — baseia-se na soberania da graça divina, afirmando que Deus regula, antecipadamente, todos os atos e vontades de cada indivíduo.

— O determinismo — sustenta que as ações e a conduta do indivíduo, longe de serem livres, dependem integralmente de uma série de contingências a que ele não pode furtar-se, qual o caráter, a cultura, o meio social, a família, a educação etc.

Neste jogo entre livre-arbítrio e fatalidade, deve-se observar a existência de dois princípios fundamentais, a saber:

a) A Lei Divina rege os homens de forma natural, através da sua imanência em todos os seres da Criação, sem impor-se de fora para dentro.

b) Por outro lado, a livre determinação individual outorga a cada um o direito inalienável de atender ou não à suprema Lei Divina ou Natural.

Conseqüentemente existe a Lei Divina Natural que não se impõe inexoravelmente de forma exterior ao homem, mas antes revela-se na própria natureza inerente ao Espírito, assim como existe a liberdade consciencial de atender ou não aos ditames da natureza.

A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova: ao escolhê-la, ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra (LÊ 851).O homem nunca é, portanto, fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não estavam escritos nem os crimes são decretos do destino; o homem será sempre livre para agir como quiser. As situações nas quais encarna foram escolhidas por ele mesmo, embora quando encarnado não possa mudá-las. No entanto, no que se refere às provas de natureza moral, às tentações, o homem é sempre livre de ceder ou resistir.

Segundo Léon Denis, não há acaso nem fatalidade, mas sim forças e leis. Utilizar, governar umas, observar outras, eis o segredo de toda elevação (...), livre e responsável, a alma traz em si a lei de seus destinos. No entanto, geralmente acha-se mais simples e menos humilhante para o amor-próprio atribuir tudo ao destino ou à sorte, do que a nós mesmos. A vida atual é a consequência, a herança de vidas precedentes e a condição das que lhe devam seguir.

Ao examinar a causa e a natureza das situações consideradas difíceis, ver-se-á que, na maioria das vezes, são consequências de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Nossas ações recaem sempre sobre nós mesmos, não somente por nossas faltas, mas também pelo bem que deixarmos de fazer.

Se há fatalidade às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa estafara de nós e que são independentes de nossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para estes atos não existe jamais a fatalidade (LÊ 861). Desta forma, não se pode intervir sobre a realidade material na qual estamos inseridos, mas pode-se modificar e traçar os momentos pêlos quais irá passar.

A fatalidade, o destino, e o determinismo, contra os quais tanto os homens se insurgem, decorrem basicamente de três circunstâncias fundamentais:

a) a possibilidade da escolha feita pelo Espírito, antes da encarnação, na qual o homem tem a possibilidade de ceder ou resistir aos arrastamentos;

b) de um acontecimento que é quase sempre a consequência de um ato praticado de livre vontade;

c) de constrangimentos impostos pela força das circunstâncias tais como: determinismo da influência material sobre a espiritual nas primeiras encarnações, ação dos flagelos destruidores, períodos cíclicos da evolução etc.

Tais circunstâncias "fatais", como vulgarmente entendidas, são sem­pre um meio que permite ao homem, passando pelas provas, desenvol­ver sua inteligência, seu senso moral, aumentando-lhe a responsabilida­de e ao mesmo tempo seus méritos.

Bibliografia:LÊ perguntas 843 a 867. (1) Denis, Léon - Depois da Morte, cap XXXII

C) Conhecimento do Futuro

Em princípio, o futuro é oculto e só em casos excepcionais é revelado ao homem (LÊ 868). Isso porque, se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que se uma coisa deve acontecer não adianta ocupar-se dela, ou então procuraria impedi-la (LÊ 869).

Em casos raros, o conhecimento do futuro é antecipado, com o fim de facilitar o cumprimento das coisas ao homem e não embaraçá-lo, levando-o a agir de maneira diferente do que faria, se não tivesse o conhecimento. A perspectiva de um acontecimento pode despertar pen­samentos que sejam mais ou menos bons.

Se o homem souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não contava, poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, desejando a morte daqueles que lha devem deixar, ou então a perspectiva poderá lhe despertar pensamentos generosos. Se a previsão não se realizar, será outra prova; a da maneira pela qual suportará a decepção.

A realidade futura é sempre resultante da ação presente ou consequência de ações passadas, porquanto decorre da Lei de causa e efeito, estando, portanto, instintivamente associada ao livre-arbítrio. O conhecimento de todos os incidentes da rota tiraria ao homem a iniciativa e o uso de seu livre-arbítrio e, então, ele se deixaria arrastar pelo declive fatal dos acontecimentos, sem exercitar suas faculdades.

Grande parte da humanidade, ainda desinformada das verdades do mundo espiritual e das Leis Divinas que regem a vida, busca, não raro, saber coisas a respeito do futuro, na ânsia de ser feliz ou de encontrar os caminhos que a "sorte" lhe reserva. Para isto, entrega-se às mãos de pessoas, algumas vezes dotadas de faculdades medianímicas mal empregadas. O ensinamento dos Espíritos mostra os inconvenientes destas práticas pelo possível envolvimento com Espíritos inferiores.

Cabe, portanto, ao homem, como árbitro do próprio destino, delinear a rota futura, discernindo o bem do mal, depurando as imperfeições do Espírito. Poder-se-ia questionar aqui, por que Deus não fez o homem já perfeito e realizado, por que o homem passa pela infância antes de atingir a idade madura. Acontece que as provas têm por fim deixar ao homem toda a responsabilidade, assim como todo o mérito de sua ação, uma vez que ele tem a liberdade de fazer ou não fazer.
Quanto mais o Espírito se depura, mais diminuem suas fraquezas, quanto mais o Espírito se eleva, mais aumenta sua força moral perante as coisas do mundo.

QUESTIONÁRIO


1) Qual a relação entre a Lei de Sociedade e a Lei de Liberdade? Qual o limite para liberdade?

2) A liberdade de pensamento é absoluta? Explique.

3) Como agir com relação às crenças que conduzem o homem ao mal?

4) Quais os fatores que podem consistir em obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

5) Explique as três correntes filosóficas que se opõem à teoria do livre-arbítrio.

6) Como a Doutrina Espírita considera a fatalidade?

7) Que conseqüências traria para o homem o conhecimento do futuro?

8) O que ocorre àqueles que buscam, por mera curiosidade, a previsão do futuro?

9) Por que Deus não criou o homem já perfeito e realizado?

Bibliografia:LÊ 868 a 872

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 11 -  LEI DE IGUALDADE

A) Igualdade Natural — Desigualdade de Aptidões — Desigualdades Sociais - Igualdade Natural

Todos os homens são iguais perante Deus. Todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos (LÊ, 803). Vale dizer, que Deus não concedeu superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte, pois todos estão submetidos às mesmas leis naturais: todos nascem com a mesma fragilidade, passam pelas mesmas tribulações que caracterizam a condição humana e todos têm em comum um mesmo princípio e a mesma destinação — esta é a essência da igualdade natural que caracteriza o ser humano.

Desigualdade de Aptidões

Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles viveu mais ou menos tempo e, por conseguinte, realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio; daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes dá aptidões diversas (LÊ, 804). Portanto, as diferenças que os homens apresentam entre si, quer em inteligência, quer em desenvolvimento moral, não derivam da sua natureza íntima; resultam antes de dois fatores a considerar:

l — No maior ou menor desempenho de suas potencialidades, no desenvolvimento ou não das aptidões e virtudes, enfim, no bom ou no mau uso do livre-arbítrio por parte de cada um; disto decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes confere aptidões mais diversificadas.

2 — Sendo os diversos mundos solidários entre si, os habitantes dos mundos superiores reencarnam em mundos mais atrasados como Espíritos missionários para aprimorar o progresso intelectual e moral, através de seus exemplos. Partindo da premissa de que os Espíritos não mais regridem no seu progresso, tem-se que, ao passar de um mundo superior para um inferior, conservarão integralmente as faculdades e aptidões adquiridas; conseqüentemente, tal fato acentua ainda mais as desigualdades de aptidões que existem entre os homens.

Deus não criou, portanto, Espíritos com faculdades desiguais, mas permitiu que Espíritos com os mais diversos graus de desenvolvimento estivessem em contato entre si para auxiliar a evolução dos mais atrasados e, em necessitando uns dos outros, cumprissem a lei do amor. Tal fato explica porque o misto de aptidões é necessário, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, respeitando-se, evidentemente, os limites das forças físicas e intelectuais; neste contexto, o que um não tem condições de fazer, o outro fará e assim é que cada um desempenhará um papel útil dentro da Criação.

Desigualdades Sociais

As desigualdades sociais não se enquadram nas leis naturais porque não são obra de Deus, e sim consequência do orgulho e do egoísmo do próprio homem. Contudo, à medida que a humanidade avançar no seu progresso moral, essas desigualdades tenderão a desaparecer, e restando tão somente a desigualdade fruto do mérito e das virtudes adquiridas pelo homem. Somente então as criaturas se reconhecerão como filhos de Deus e se amarão como irmãos, e não se avaliarão mais pelo sangue, nem pelo papel que ocupam na sociedade, mas sim pelo evolução moral do Espírito, que independe da condição social.

No tocante àqueles que se aproveitam da superioridade da sua posição social para oprimir os mais fracos, serão oprimidos por sua vez e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que fizeram sofrer (LÊ, 807).

B) Desigualdades das Riquezas — Provas da Riqueza e da Miséria -

Desigualdades das Riquezas

A desigualdade das riquezas nem sempre se origina das diferentes faculdades, ou dos mais variados recursos de que alguns dispõem para adquirir mais bens do que outros; muitas vezes é também fruto de falcatruas, injustiças e outros meios ilícitos de que laçam mãos os que ainda se deixam levar pela cobiça e pela posse de bens materiais. Mas, convém ressaltar que herdeiros de fortunas amealhadas desta forna não são responsáveis pelo mal que seus antepassados fizeram, principalmente se desconhecem tal fato.

É preciso considerar que muitas vezes uma fortuna vem parar providencialmente nas mãos de um homem, justamente para que ele tenha a oportunidade de reparar uma injustiça cometida. Se estiver ao alcance deste homem compreender a necessidade moral de reparar este mal cometido por outrem, será então um homem justo e, como tal, feliz e a reparação da falta será levada em conta para ambos.

A igualdade absoluta das riquezas jamais existiu e tampouco poderá existir, pois a própria diversidade das faculdades e diferentes aptidões entre os homens impediriam que assim fosse; o que importa é combater, antes de tudo, o egoísmo para que as relações sociais sejam sempre fraternas. Somente assim, o relativo bem-estar de todos será meta passível de ser atingida pelos homens quando, entre eles, o sentimento de fraternidade sobrepujar-se ao egoísmo e a verdadeira justiça for finalmente praticada.

Aqueles, portanto, que acreditam que a cura para os males que afligem a sociedade está na igualdade absoluta das riquezas, estão enganados, pois não compreendem que a igualdade seria logo rompida pela própria força das circunstâncias. Combatei o egoísmo, pois essa é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras (LÊ, 811a).

Provas da Riqueza e da Miséria

A diversidade de riquezas e de misérias tem uma finalidade útil : a de provar as almas no excesso e na submissão. Assim, os que sofrem com resignação, sem murmurações e com trabalho constante, conseguem superar suas provas. Pelo arrastamento ao mal a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova arriscada, mais perigosa que a da pobreza; é o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. Ë o mais estreito laço que prende o homem à Terra.

Deus concede provas a seus filhos, que têm, às vezes, a possibilidade de as escolherem antes das reencamações, podendo, por isso, nascerem na abastança ou na miséria. Ambas as provas apresentam facetas diferentes, mas tanto o rico quanto o pobre podem fracassar. O primeiro por não fazer o bem, e o segundo pelas queixas contra a Providência. O rico está mais sujeito às tentações, mas dispõe de meios de praticar o bem; mas isso é justamente o que nem sempre faz, pois se torna egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam, e cie nunca julga possuir o bastante para satisfazer a sua ambição.

A riqueza também pode ser um fator para a redenção do Espírito, quando dela sabe servir-se, empregando-a com critério e discernimento. Enquanto para uns a pobreza é a prova da paciência e da resignação, a riqueza é para outros o exercício da caridade e da abnegação. Qual é, pois, o melhor emprego da fortuna? Procurai nestas palavras: "Amai-vos uns aos outros", a solução do problema; aí está o segredo de hem empregar as riquezas. Aquele que está animado de amor ao próximo tem sua linha de conduta toda traçada, pois o emprego que apraz a Deus é o da caridade; não essa caridade fria e egoísta que consiste em derramar em torno de si o supérfluo de uma existência dourada, mas essa caridade cheia de amor que procura o infeliz e o reergue sem humilhá-lo (ESE, Cap. XVï, item 11).

C) Igualdade dos Direitos do Homem e da Mulher — Igualdade Perante o Túmulo

Igualdade dos Direitos do Homem e da Mulher

A Doutrina Espírita esclarece que tanto o homem quanto a mulher são Espíritos da mesma natureza, criados por Deus com os mesmo talentos e aptidões, com os mesmo direitos e deveres; ambos têm o discernimento do bem e do mal, e ambos têm a faculdade de evoluir, em igualdade de condições. Deste modo, a suposta inferioridade social e moral da mulher é consequência do abuso da força e autoridade do homem, mais forte fisicamente.

Com a evolução gradativa das relações sociais, os horizontes vão alargando-se e, sob o impulso da Lei de Amor e da Lei de Sociedade, a mulher pôde desenvolver suas aptidões sem grandes constrangimentos; com isto, tornou-se evidente que a condição feminina de inferioridade em relação à masculina não decorria de imposição divina, mas tão somente do domínio injusto e cruel que o homem exerceu sobre ela (LÊ, 818).

Assim, o homem e a mulher têm direitos iguais, embora tenham aptidões diferentes a desempenharem na sociedade. O homem é fisicamente mais forte para os trabalhos mais rudes e a mulher, mais delicada, para os trabalhos mais leves. Ambos devem ajudar-se mutuamente nas provas da vida, e não simplesmente o mais forte subjugar o mais fraco, escravizando-o. A mulher está preparada biologicamente para a tarefa da maternidade e, se de um lado, tem menor força física, de outro, tem maior sensibilidade para o exercício das funções maternais.

Do exposto conclui-se que sendo os seres humanos iguais perante as Leis de Deus, deverão também ser iguais perante as leis dos homens, pois o princípio da Lei de Amor fundamenta-se na máxima cristã: "Não fazer aos outros o que não gostaria que os outros lhe fizessem". Portanto, a lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua escravização marcha com a barbárie (LÊ, 822a). Além do mais, as diferenças sexuais só existem no organismo físico e, portanto, os Espíritos podem reencarnar tanto na condição feminina quanto masculina; sob esse aspecto, e corroborando a citação acima, nenhuma diferença existe entre ambos.

Igualdade Perante o Túmulo

A perpetuação da memória por meio de monumentos fúnebres é o último ato de orgulho dos familiares e amigos, desejosos de se glorificarem a si mesmos, em nítida demonstração de riqueza. Pelo fato de a igualdade entre os homens não cessar com a desencarnação, a saudade de um ser amado reveste-se da mesma importância para os parentes que nada possuem, mesmo que em seu túmulo não haja nada de suntuoso. É em vão que o rico tenta perpetuar a sua memória por meio de faustosos monumentos. O tempo os destruirá, como aos seus próprios corpos. Assim o quer a Natureza (LÊ, 824).

As pompas fúnebres são justas e de bom exemplo quando homena­geiam a memória de um homem de bem, mas não apagarão as más ações de todo aquele que não soube viver de acordo com a moral cristã. Conseqüentemente, tais pompas de nada valerão e tampouco o ajuda­rão na sua ascensão espiritual.

Bibliografia:L.E, 817 a 824

QUESTIONÁRIO

a) igualdade natural — desigualdade de aptidões — desigualdades sociais:

1) Se todos são iguais perante Deus, como explicar a desigualdade de aptidões?

2) As desigualdades das condições sociais é uma lei natural? Explicar.

3) Pode-se esperar que as desigualdades sociais venham a desaparecer um dia? Desenvolva.

b) desigualdade das riquezas — provas da riqueza e da miséria:

1) Como se explica a desigualdade de riquezas?

2) Se uma fortuna foi mal adquirida, os herdeiros também serão responsáveis por isso?

3) Qual das duas provas é mais perigosa para o homem: a da pobreza ou da riqueza?

c) igualdade dos direitos do homem e da mulher — igualdade perante o túmulo:

1) É certo que homem e mulher tenham os mesmos direitos? Por quê?

2) Por que a tendência em perpetuar a memória dos mortos?

3) Como a Doutrina Espírita considera as pompas fúnebres?

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO 10ª. AULA - LEI DO PROGRESSO II

A) Progresso da Legislação Humana

A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais, sem o recurso das leis humanas, se os homens as compreendessem bem e quisessem praticá-las; então, seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares (LÊ, 794). Mesmo quando o homem atingir uma civilização superior e completa, esta não será feita apenas de grandes descobertas tecnológicas e de invenções sofisticadas, mas em função do desenvolvimento moral do seu povo.

Progredir não é esperar pelo auxílio divino, acreditando o homem que tudo lhe será dado; é modificar-se através do amor, do trabalho intenso, em um processo dinâmico; não é ficar indiferente às fragilidades próprias da condição humana ou às condições adversas da natureza. E despertar para a vida do Espírito, para a conscientização da responsabilidade individual, para a brevidade e finalidade da vida terrena, como simples instante de trabalho do ser em evolução, o qual deve aprimorar-se ao infinito.

A legislação humana existe, portanto, para salvaguardar o direito dos mais fracos contra os mais fortes, que abusam de sua condição. A lei natural é imutável e sempre a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na infância da Humanidade, o direito do mais forte (LÊ, 795).

Em civilizações mais avançadas, as leis do amor e da caridade serão praticadas espontaneamente. A cupidez, egoísmo e orgulho não serão tão acentuados, pois as preocupações tenderão a ser mais de ordem moral do que material. Em princípio, haverá o predomínio da bondade, da boa fé e generosidade, o que permitirá que a inteligência desenvolva-se com mais liberdade e facilidade de expressão.

Não serão tão expressivos os preconceitos de raça ou de cor, nem de castas, nem de nascimentos e, portanto, não haverá privilégios, já que tanto os últimos como os primeiros hão de ter os mesmos direitos e obrigações. Em tais povos, a justiça não será tão parcial: o fraco encontrará apoio no mais forte; as crenças e opiniões serão respeitadas. Não haverá tanto sofrimento, nem doença e todos estarão conscientes de que a felicidade decorrerá do merecimento de cada um.

No entanto, somente a educação e o conhecimento das leis de Deus, desde a infância, serão capazes de direcionar o homem para atingir tal grau de progresso através da prática do bem e, assim, as leis não precisarão ser tão rigorosas. Isso acontecerá naturalmente pela força das circunstâncias e com ajuda de indivíduos que se elevam acima da maioria e conduzem a humanidade no caminho da perfeição.

B) Influência do Espiritismo no Progresso

A Doutrina Espírita, ao trazer à luz o Cristianismo redivivo, inaugura a civilização do Espírito que caracterizará o terceiro milênio, e se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar entre os conhecimentos humanos (LÊ, 798). Tem, no entanto, grandes lutas a sustentar: no campo científico, mais contra preconceitos do que contra as teorias; no campo religioso, mais contra os preceitos morais em si; no campo filosófico, sua luta será sempre maior contra o intelectualismo, que contra as sábias e reais aspirações humanas.

Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos (LÊ, 799). É assim que, no futuro, os contraditores do Espiritismo, achando-se mais e mais isolados, acabarão por pensar como a maioria, visto que todo princípio racional há de ser universal.

Poder-se-ia questionar por que os Espíritos não aceleram o progresso com manifestações patentes, de forma a conduzir os mais incrédulos. Importa considerar que não é apenas através dos fenômenos sensíveis, que se atingirá a convicção da civilização da razão que está por vir. São importantes fundamentos racionais que venham de fato legitimar a autoridade não apenas fenomênica, mas sobretudo moral, que caracteriza a essência da Doutrina Espírita. Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem? Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade, Ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão (LÊ. 802).
Bibliografia: LÊ, 794 a 797 Bibliografia: LÊ, 798 a 802.

C) Dai a César o que é de César

Senhor, sabemos que sois verdadeiro, e que ensinais o caminho de Deus pela verdade, sem considerar a quem quer que seja, porque não considerais a aparência nos homens; dizei-nos, pois, vosso conselho sobre isto: é nos permitido pagar o tributo a César, ou não pagá-lo?

Mas Jesus, conhecendo a sua malícia, lhes disse: Hipócritas, por que me tentais? Mostrai-me a peça de dinheiro que se dá para o tributo. E tendo eles lhes apresentado uma moeda, Jesus- lhes disse: De quem é esta imagem e esta inscrição? De César, disseram-lhe. Então Jesus lhes respondeu: Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (Marcos, Cap. XII, 13 a 17).

Todos os ensinamentos de Jesus foram calcados no próprio contexto social dos judeus. Essa questão dos fariseus foi proposta a Jesus no sentido de tentá-lo a negar a lei humana em função da mosaica; foi motivada pelo fato de os judeus se recusarem a pagar o imposto aos romanos, fazendo disso uma questão religiosa. Estava claro tratar-se de uma cilada, a pergunta era uma cilada, pois esperavam com isso incitar contra Jesus a autoridade romana.

Ao afirmar dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, percebe-se uma clara distinção entre as leis dos homens e a lei de Deus. Aquelas são particulares e restringem-se às instituições, ao passo que esta é universal e, portanto, irrestrita. A lei de Deus está isenta dos valores terrenos; no entanto, é através do respeito às leis humanas que o homem expressa seu respeito às leis divinas. A lei dos homens é composta de uma hierarquia social que cumpre ser respeitada, ao passo que a Lei de Deus funda-se na obrigação moral a qual deve responder aos ditames da própria consciência; é assim que o respeito à lei humana está inserido no respeito à lei divina.

Jesus sugere que pagassem o imposto que era devido; no entanto, o imperativo Dai a César o que é de César, não deve ser entendido de maneira restrita, pois trata-se antes de um princípio geral, deduzido de uma circunstância particular. Este princípio é consequência do mandamento universal, segundo o qual deve-se agir para com os outros como se gostaria que agissem para consigo mesmo, pois o homem responderá por todo o prejuízo moral e material que causar a outrem; isto estende-se aos deveres assumidos com relação à família, à sociedade, à autoridade constituída, incluindo-se compromissos pessoais assumidos perante a própria consciência.

Quando Jesus recomenda às criaturas o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, neste amor se funda o respeito a Deus e ao próximo. Sendo a lei divina a lei do amor, o seu cumprimento será o aperfeiçoamento das relações sociais, onde os mais recalcitrantes respeitarão a lei pelo próprio respeito, e não por uma imposição.

QUESTIONÁRIO

1) As sociedades poderão ser regidas somente pelas leis divinas?
2) Qual a importância da educação e do conhecimento para o progresso das leis humanas?
3) Por que as leis humanas são instáveis?
4) De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
5) Por que os Espíritos não apressam o progresso da Humanidade, através de manifestações que possam levar a convicção aos mais incrédulos?
6) Quais as lutas que o Espiritismo terá de enfrentar no campo científico, reli­gioso e filosófico? Explique.
7) Como explicar a afirmação de Jesus: Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus?
8) Qual a ligação de tal afirmação com as leis humanas e as leis divinas?
9) Que relação teria o cumprimento da lei com o primeiro mandamento de Jesus?

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 9 LEI do PROGRESSO I

A) Estado Natural — Marcha do Progresso Estado Natural

O estado natural é um estado primitivo, a infância da Humanidade e o ponto de partida do desenvolvimento moral e intelectual do homem. Sendo perfectível, este porta em si potências a serem desenvolvidas, pois seu destino é a sua superação, a sua transcendência contínua. O estado natural é transitório e o homem o deixa pelo progresso e a civilização. A lei natural, pelo contrário, rege toda a condição huma­na e o homem se melhora na medida em que melhor compreenda e melhor pratica essa lei (LÊ. 776).

Esse progresso consiste na acumulação de experiências incessantes que se acrescentam à sua bagagem espiritual, pois ele deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância (LÊ, 778); caso contrário, seria negar sua própria natureza. Alguns chegam a afirmar que se o homem continuasse na sua situação primitiva seria mais feliz, pois com o progresso acabaria criando mais necessidades e aumentando suas tribulações. No entanto, há pessoas que não compreendem. E ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes que os adultos (LÊ, 777).

Marcha do Progresso

Nem todos progridem da mesma forma e ao mesmo tempo; os mais adiantados ajudam os retardatários, através do convívio social, no decorrer de milênios, pela pluralidade das existências. Não há duvida de que o desenvolvimento da inteligência leva o homem ao discernimento do bem e do mal, e consequente amadurecimento do senso moral, aumentando assim a responsabilidade de seus atos; no entanto, somente a inteligência não conduz o homem a um progresso de fato.

Porém, gradativamente, a criatura compreenderá que seu desequilíbrio é fruto dos abusos de sua inteligência utilizada para o mal, e assim é que, no somatório dos seus atos bons, adquirirá o senso moral. No futuro, a moral e a inteligência se equilibrarão, fazendo com que o homem tenha a compreensão do conjunto. Compreenderá ele, então, que as leis de Deus querem o bem para todos e não para o mais forte em prejuízo do fraco.

Os que tentam impedir o progresso agem como a pedra sob uma roda; retardam o seu andamento, mas acabam esmagados por ela. Quando, entretanto, um povo não evolui naturalmente, o progresso pode lhe advir através de abalos físicos ou morais. (...) O Espiritismo reconhece a necessidade desses movimentos periódicos de agitação natural, quer dos elementos, quer dos povos, para a realização do progresso. Mas os admite como fatos naturais e não como criações artificiais a que os homens devam dedicar-se, em obediência a doutrinas revolucionária O que ele ensina é que o homem deve colocar-se, nesses momentos, acima de seus mesquinhos interesses pessoais para ver em sua amplitude a marcha irresistível do progresso.

As revoluções morais e sociais infiltram-se pouco a pouco nas idéias e germinam ao longo dos séculos, acabando por destruir o edifício mal construído de uma civilização. Muitos não compreendem estes períodos de transição, em que a desordem e a confusão parecem ser a ordem das coisas. Porém, tal qual uma casa em reforma, que após terminadas as obras, tudo volta ao seu lugar em melhores condições, assim acontece, também, com as civilizações que desabam, para darem lugar a outras, mais em harmonia com as novas necessidades e aspirações. Portanto, o progresso é uma condição da natureza humana que pode ser retardado, mas não asfixiado.

O maior obstáculo ao progresso moral é o orgulho e o egoísmo; a ambição e a paixão pelo poder e pelas riquezas até favorecem o desenvolvimento da inteligência, mas sem amor, ela é infrutífera. Quando o homem perceber que as necessidades apenas materiais não lhes satisfazem as aspirações mais íntimas, ele reverá seus conceitos e princípios materialistas, passando a acreditar numa felicidade ainda desconhecida, fora dos bens terrenos, mas infinitamente maior e mais durável, e que, para alcançá-la, precisa desenvolver seu sentimento e senso moral.
Bibliografia: LÊ, 776a 785


B) Povos Degenerados - Civilização

A história da humanidade mostra vários povos que após se sobressaírem com seus feitos, retornaram ao estado de barbárie. O progresso intelectual conduz ao progresso moral através da compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do íivre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos (LÊ, 780a).

Isso se explica pelo fato de que os componentes dessa civilização responsáveis por essa barbárie, já eram degenerados. Os que não o eram, passaram para povos mais condizentes com seu grau evolutivo e continuaram a progredir; Espíritos menos adiantados juntaram-se aos que não estavam ainda preparados para a mudança. Aqueles que, por sua vez, progredirem, cederão lugar para outros e é assim que sucessivamente se processa a migração na evolução dos povos e dos planetas.

Há povos que, por motivos vários, são recalcitrantes, mas nem por isso ficarão à margem do progresso. Após sucessivas reencarnações, chegarão a uma condição mais elevada — esta é a lei. A humanidade é formada de individualidades coletivas que constituem cada povo e, tal qual o homem, também passam pelo estado infantil, da idade madura e a decrepitude. A exemplo dos povos da Antiguidade, as nações mais adiantadas da atualidade também terão o seu declínio.

Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se firma na força e na extensão territorial, crescem e morrem, porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade morrem, porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros povos (LÊ, 788).

A humanidade progride mais depressa quando homens esclarecidos impõem-se pelo número, tomam a frente e arrastam os outros, e de tempos em tempos surgem homens de gênio, depois homens com autoridade moral e ainda profetas que, como instrumentos de Deus, em alguns anos, fazem avançar séculos no seu desenvolvimento.

Assim como cada criatura individualmente, povos antropófagos e selvagens serão um dia civilizados, e povos conquistadores e cruéis serão também, povos cultos e altruístas. Deste modo, as diferenças entre os povos diminuirão, e os governos estabelecerão leis mais justas e sábias para os novos costumes e necessidades. Quando o homem tomar por base para suas leis a lei de Deus, então a civilização terá atingido seu estágio mais alto, e os povos praticarão, uns para com os outros, as leis de amor e caridade em toda a sua plenitude. Não haverá mais injustiças; os homens viverão felizes e em paz, porque ninguém viverá às custas de outrem.
Bibliografia: LÊ, 786 a 789

C) Ajuda-te que o Céu te Ajudará

Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede recebe, e quem busca acha, e a quem bate ahrir-se-á (Mateus, 7:7-8).
Esta passagem do Evangelho implica em dizer que todo aquele que se esforça pelo seu próprio aprimoramento, que não se acomoda nem mesmo diante dos maiores obstáculos, faz jus ao amparo e à sustentação da Espiritualidade. Na infância da Humanidade, o homem apenas cogitava de prover a sua própria subsistência, buscando alimento, agasalho e armas para combater seus inimigos. Deus, porém, deu-lhe algo mais: deu-lhe o desejo incessante de melhorar, buscando novas aquisições, através das descobertas, das invenções e do aperfeiçoamento científico.





Frente a estes desenvolvimentos, o homem conseguiu desenvolver a inteligência e depurar o mal. Às necessidades do corpo, sucederam as do Espírito, e ele se deparou com a contingência de demandar não só o alimento material, mas também o espiritual; assim, do estado de selvageria passou a desfrutar da civilização. Contudo, os Espíritos não vêm isentar os homens do trabalho, pois este os dignifica, impulsionando-os na senda do progresso, sempre em busca de um mais completo aperfeiçoamento. Das palavras de Jesus, deduz-se que não basta pedir, é necessário dar algo de si, jamais ficar estático, esperando milagres. As criaturas devem mover seus braços e pernas para não se atrofiarem, devem exercitar o cérebro para que este corresponda às necessidades do Espírito.

Jesus disse em seu Evangelho que, embora sendo os homens ainda inferiores, sabem dar boas dádivas aos seus filhos; com melhor e mais forte razão, o Pai celestial dará dádivas generosas a seus filhos, que vivem constantemente dirigindo suas súplicas aos Céus. Tais palavras de Jesus são incisivas na demonstração da extensão do amor de Deus pelas Suas criaturas. Entretanto, faz-se necessário esclarecer que, para merecer o amparo e a ajuda divina, é imprescindível que se tenha desprendimento e amor ao próximo, podendo assim contar com a generosa ajuda dos mensageiros espirituais.

Importa predispor a interioridade para acolher a sustentação do Plano Espiritual, através de uma conduta elevada, bons pensamentos e sentimentos nobres. Para que os bons Espíritos possam intervir é importante fazer-se por merecer, através da sintonia devida, com as esferas elevadas da espiritualidade.
Bibliografia:
ESE,Cap.XXV


QUESTIONÁRIO

a) estado natural — marcha do progresso:

1) Qual a diferença entre estado natural e lei natural?

2) Como se explica que, por vezes, os povos mais intelectualizados serem pouco evoluídos moralmente?

3) Como explicar, à luz do Espiritismo, os movimentos periódicos de agitação natural?

b) Povos degenerados — civilização:

1) Povos mais adiantados poderão voltar ao estado de barbárie?

2) Como se processa a migração na evolução dos povos?

3) Qual a importância das revoluções morais e sociais para a evolução dos povos?

C) AJUDA-TE QUE O CÉU TE AJUDARÁ:

1) Explicar a máxima: "Ajuda-te que o Céu te ajudará".

2) O que significa: "A cada um será dado segundo suas obras"?

3) Basta pedir para ser ajudado?

 
CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 8 A LEI de SOCIEDADE


A) Necessidade da Vida Social — Vida de Isolamento — Voto de Silêncio Necessidade da Vida Social

"O homem é um animal social", já dizia com acerto Aristóteles, querendo com isso dizer que ele não basta a si mesmo, mas foi criado para conviver com seus semelhantes. A sociabilidade e uma tendência natural e obedece ao imperativo da Lei do Progresso que rege a Humanidade. E na vida de relação que o homem desenvolve-se, enriquece-se e satisfaz os anseios de compartilhar que caracterizam a natureza do seu espírito.

Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação (LÊ, 766). Todos os Espíritos foram criados perfectíveis, e no itinerário da perfcctibilidade todos precisam uns dos outros, pois não há como desenvolver as potencialidades, burilar as faculdades morais e intelectuais senão no convívio social, na permuta cons­tante de afeições, conhecimentos e experiências. Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem o seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são fei­tos para viver em sociedade e não isolados ( LÊ, 768).

A Lei de Sociedade impulsiona o homem à comunhão, à solidariedade, ao amor. Quando Jesus recomenda o amor ao próximo, tal mandamento revela que a natureza do Espírito é o amor, o qual só existe quando manifesto, exteriorizado. Desta forma a Lei de Amor implica necessariamente a Lei de Sociedade; é na vida social que se revela a essência divina que habita o Espírito humano.

Vida de Isolamento

Concebe-se como princípio geral que a vida social esteja nas leis da natureza. No entanto, mesmo que o homem encontre satisfação na vida de isolamento, não pode viver uma consciência feliz aquele que não é útil a ninguém, que vive para si mesmo tão somente, sem concorrer para o bem-estar da sociedade. Aqueles que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo estão assumindo, na verdade, uma atitude de egoísmo. E mesmo aquele que se isola com o fim de expiar faltas, também incide em erro, de vez que o isolamento faz a pessoa cair em outro mal, o da omissão, pois deixa de praticar a lei do amor e da caridade. Fazer maior bem que o mal que se tenha feito, essa é a melhor expiação (LÊ, 770a).

Já aqueles que se afastam do bulício citadino, buscando no retiro a tranquilidade reclamada por certa natureza de ocupação, assim como os que se recolhem a determinadas instituições fechadas para se dedica­rem, amorosamente, ao socorro dos mais necessitados, embora afastados da convivência social prestam excelentes serviços à sociedade, adquirindo duplos méritos, porquanto, além da renúncia às satisfações mundanas, têm a seu favor a prática das Leis do Trabalho e da Caridade.

Voto de Silêncio

O silêncio facilita a concentração e comunicação com os Espíritos, os quais aguardam momentos de recolhimento que lhes facultem a sintonia devida na realização de tarefas; no entanto, seu abuso é que não é tolerável. O voto de silêncio prescrito por algumas seitas desde a Antiguidade, é contrário à Lei Natural, pois restringe a vida de relação.

Aqueles que se submetem a estas privações voluntárias, embora tenham boa intenção, sempre têm seu mérito, embora não compreendam as leis de Deus. O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso (LÊ, 772). Na verdade, sabe-se que Jesus, um modelo para toda a humanidade, nunca evitou a convivência com criaturas boas ou más; ao contrário, viveu no mundo procurando valorizar todas as oportunidades de ser útil, de trabalhar, amar e servir.
Bibliografia: LE,766a772.

B) Laços de Família

Embora o homem seja um "animal social", como já foi dito, ele tem uma vida moral mais importante e mais útil entre os seres da Criação; os animais ao crescerem desprendem-se de seus pais, porque eles, por viverem tão somente a vida material, têm por princípio único o instinto de conservação de cada espécie, ao passo que o homem tem uma destinação sublime: o progresso contínuo. Deste modo, os laços de família, por serem mais duradouros, permitem o estreitamento dos elos afetivos, impulsionando em cada grupo familiar seus membros a amarem-se uns aos outros, atendendo assim aos desígnios de Deus.

No entanto, alguns homens, levados pelo fato dos animais abandonarem suas crias, concluem não serem os laços familiares mais do que o resultado de hábitos sociais adquiridos, e não uma lei da própria natureza. Contudo, a necessidade intrínseca de evoluir transcende os limites de meras necessidades físicas por efeito de aprendizado; dessa perspectiva, as Leis Sociais são necessárias ao ciclo evolutivo do ser humano, mas, os laços de família são absolutamente básicos e fazem parte imprescindível do aperfeiçoamento moral de cada um. É por isso que os laços familiares devem sempre ser mais fortes do que os laços sociais, pois são eles que vão permitir o desenvolvimento fraterno que deve haver entre verdadeiros irmãos.

Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais; eis por que eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a amar-se como irmãos (LÊ, 774). Muitos pensadores, filósofos, estudiosos do comportamento humano confirmam esta assertiva dos Espíritos: Herbert Spencer, filósofo inglês (1820-1903), considerou a família como uma instituição que dá forma à vida social. Auguste Comte, filósofo francês (1798-1857), por sua vez, considerou a família como célula básica, o embrião e o modelo da sociedade, de maneira que esta somente é perfeita quando se estrutura na família. John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano (1859-1952), também acentuou a importância do lar na organização e na preparação da vida social.

O valor e a importância da família crescem, de fato, quando são enfocados sob o ângulo da Doutrina Espírita, pois aprende-se na Codificação que o casamento, marco inicial da constituição da família, representa um progresso conquistado pelo homem em busca de sua perfectibilidade. Portanto, deve-se evitar o relaxamento dos laços familiares, porque implicam, ao invés do amor, no desenvolvimento do egoísmo, retardando assim o ciclo evolutivo da Humanidade.

Ensinam os Espíritos que é na família e através dela, que se dá o burilamento das almas, segundo o princípio da reencarnação. Essa tare­fa deve ser realizada com seriedade e responsabilidade, pois não é por acaso que determinadas criaturas são reunidas numa mesma família. O espírita não pode permitir que seu lar seja simplesmente uma morada, mas um local acolhedor onde se encontram almas necessitadas de de­senvolver sentimentos de amor e de perdão, onde os Espíritos se re­fazem das lutas de cada dia e se ajudam, fraternalmente, trabalhando por um futuro melhor.
Bibliografia: LÊ, 773 a 775

C) Piedade Filial Honrai vosso pai e vossa mãe (Marcos, 7:10; Mt 15:4; Lc 18:20).

Um dos mandamentos contidos no Decálogo prescreve a necessidade de honrar pai e mãe, o que implica em dar-lhes todo o afeto possível, em todas as fases de suas vidas, e principalmente na velhice, retribuindo assim em parte os desvelos e as preocupações que tiveram na infância dos filhos. É evidente que aquele que assim não proceder, estará amealhando pesados encargos para si na vida futura, através de novas reencarnações.

A ingratidão é um dos deslizes humanos que mantém o mais íntimo parentesco com o egoísmo, tomando dimensão diferente quando é cometida pelos filhos, em relação a seus pais. Muitos chegam ao ponto de colocarem seus pais idosos nos aposentos mais obscuros da casa onde residem, não lhes dando nenhum tipo de conforto, quando não os internam em casas de idosos ou asilos, para que eles não os incomodem em seus lares. Muitos filhos dão aos pais o estritamente necessário para poderem sobreviver, ao passo que eles próprios de nada se privam. É sobretudo para os pais sem recursos que se demonstra a verdadeira piedade dos filhos.

O mandamento "honrar vosso pai e vossa mãe " é um corolário da lei geral da caridade e do amor ao próximo, já que não pode amar o seu próximo aquele que não ama seus pais. O vocábulo "honrai" encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Deus quis mostrar com isso que, ao amor, é preciso acrescentar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de um modo mais rigoroso ainda, tudo o que a caridade manda para com o próximo (ESE, Cap. XIV, item 3).

Há, em verdade, certos pais que se descuidam de seus deveres para com os filhos. A estes, porém, não cabe censurá-los ou puni-los, pois talvez eles mesmos tenham dado causa ao menosprezo dos pais. Se a caridade cristã sublima a retribuição do mal com o bem, a indulgência com as imperfeições alheias, o perdão das ofensas e o amor ao próximo até mesmo aos inimigos, essa obrigação é ainda bem maior em relação aos pais.

Os filhos devem, pois, tomar por regra de conduta para com os pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo, e lembrar que todo procedimento repreensível em face de estranhos o é ainda mais em face dos parentes; e que o que talvez não fosse senão uma falta no primeiro caso, pode vir a ser um crime no segundo, porque, então, à falta de caridade se junta a ingratidão (ESE, Cap. XIV, item 3). Bibliografia: ESE, Cap. XIV, item 3.

QUESTIONÁRIO

a) necessidade da vida social - vida de isolamento - voto de silêncio :

1) O homem é um "animal social". Desenvolva.

2) A vida de isolamento absoluto é condenável? Comente.

3) Que pensar do voto de silêncio?

B) laços de família:

1) O que é mais importante ao aperfeiçoamento moral: os laços de família ou os laços sociais?

2) Como encaram alguns pensadores os laços de família?

3) Como deve ser o lar, segundo a Doutrina Espírita?

C) piedade filial:

1) Como proceder no sentido de "honrar pai e mãe"?

2) Não pode amar o próximo aquele que não ama seus pais. Comente.

3) Em que consiste a piedade filial?

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 7 - LEI DA DESTRUIÇÃO

A) Destruição Necessária e Abusiva — Flagelos Destruidores

Destruição Necessária
A destruição é uma lei da Natureza, porque é necessário que tudo se destrua para renascer e se regenerar; porque isso a que chamais destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e melhoria dos seres vivos (LÊ, 728). Esta questão deixa bem clara a idéia de que a Lei da Destruição é tão somente parte complementar do processo evolutivo de todas as coisas e seres do Universo e que, portanto, cumpre um desígnio providencial de Deus.

Assim é que a palavra "destruição" tem aqui um significado maior e mais abrangente do que o próprio termo supõe, pois a destruição recíproca dos seres vivos parece, à primeira vista, não estar de acordo com a bondade e a justiça divina. Ao invés do sentido literal de "aniquilamento", é preciso entendê-la enquanto transformação, renovação tanto física quanto moral, que se presta aos desígnios do Criador. O homem, enquanto inteligência finita, submetido que está aos estreitos limites da matéria, consegue abarcar apenas alguns pormenores dessa realidade transcendental da natureza divina e, portanto, não tem a compreensão global das leis eternas e imutáveis do Criador.

O ciclo biológico da vida: destruição, renascimento e regeneração, é uma transformação contínua que visa ao aperfeiçoamento dos seres vivos; é um vir-a-ser ininterrupto, onde cada ciclo representa apenas facetas combinadas entre si, que compõem a manifestação de um todo indestrutível: o princípio inteligente. Assim, o que se destrói sob o imperativo desta Lei, é tão somente o invólucro exterior, a parte material que serve de instrumento de trabalho para o Espírito, que o molda e o adequa segundo suas condições evolutivas. Este invólucro se destrói aqui, para renovar-se mais adiante, em outras existências, transmudando-se em instrumento mais aperfeiçoado, mais adequado às novas exigências do Espírito, que estará também mais enriquecido e capacitado para exigir formas de manifestação mais condizentes com sua realidade espiritual.

Muito embora se destrua a matéria numa primeira instância, permanece, contudo, a essência espiritual que se aperfeiçoa em cada corpo material, que se regenera ao submeter-se a tais transformações, e este e o objetivo da Lei de Destruição: promover os ajustes necessários para que tudo se renove, pois que tudo se encadeia e tudo é harmonia e equilíbrio nas Leis da Natureza; deste modo, até mesmo no que para a visão circunscrita do homem pareça ser destruição, há o comando de uma inteligência superior, que tudo encaminha à Lei do Progresso.

Para se nutrirem, os seres vivos destroem-se entre si, mas apenas para obedecer ao equilíbrio natural decorrente das Leis de Conservação e de Destruição conjugadas. Muito embora a destruição, enquanto transformação, seja imprescindível para a regeneração dos seres, a natureza lhes dá os meios de preservação e conservação para que nada ocorra antes do tempo justo; se assim não fosse, a destruição não seria então renovação, já que estaria entravando o desenvolvimento do princípio inteligente, prematuro então para tais progressos.

O homem deve procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa. Foi por isso que Deus lhe deu o instinto de conservação e esse instinto o sustenta nas suas provas (LÊ, 730). O instinto de conservaçâo faz com que o homem passe a repelir a idéia da morte e pelo prolongamento de sua vida; deste modo cabe tão somente a aproveitar ou não as oportunidades de crescimento que a jornada terrestre proporciona.

Nos mundos mais evoluídos, onde as condições da existência material são mais depuradas, as Leis Morais são adequadas aos seus habitantes conseqüentemente, a Lei de Destruição também é mais branda, e estará sempre diretamente relacionada com o desenvolvimento intelectual e moral dos seres que habitam tais mundos.


Destruição Abusiva
A destruição que ultrapassar os limites de segurança e necessidade, como o da caça enquanto mero lazer, por exemplo, revela o atraso moral do Espírito, pois que toda destruição sem um objetivo útil denota uma transgressão às Leis de Deus. O homem tem direito de destruição sobre os seres inferiores da Criação, como os animais e as plantas, a fim de prover sua nutrição e segurança; mas o abuso desse direito, por interesse econômico, poder ou crueldade, é prejudicial, e ele responderá pelos seus excessos. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus (LÊ, 735).

Por outro lado, o escrúpulo exagerado na preservação de animais ou plantas pode levar à idolatria e ao fanatismo, gerando medo e superstição; portanto, tal preservação não chega a ser um mérito para o homem, que estará entravando seu progresso espiritual.

Flagelos Destruidores

Para se entender porque ocorrem os flagelos destruidores é preciso abstrair-se das coisas puramente materiais que compõem o curto espaço de uma encarnação, para adentrar através do pensamento no contexto da vida espiritual. Só assim o homem verá que até mesmo na destruição existe harmonia e equilíbrio, enquanto transformação regenerativa, porque tudo revela uma necessidade evolutiva que escapa aos olhos materiais, e que tudo tem uma razão de ser.

Dessa perspectiva, os flagelos são apenas transtornos inevitáveis no processo geral de evolução do planeta, porque eles propiciam, de um lado, a regeneração moral dos Espíritos, e de outro, a aceleração do progresso intelectual da humanidade. Tais flagelos naturais como as inundações, as intempéries que obstruem a agricultura, os terremotos, vendavais etc., são agentes transformadores da Terra, e que por certo haverão de ser amenizados no futuro, quando o homem, já mais espiritualizado, souber respeitar as leis da natureza.

Os homens de bem que sucumbem aos abalos físicos não sofrem tanto quanto os que ainda estão em condição moral inferior, pois após a desencarnação em tais circunstâncias têm consciência da transitoriedade da matéria e compreendem que a verdadeira vida é a do Espírito. Deus concede ao homem, certamente, outros meios de apressar o seu progresso, que não necessariamente tais flagelos, através do conhecimento do bem e do mal; contudo, a própria condição humana impede ao homem compreender a extensão da misericórdia divina.

Os flagelos destruidores, portanto, representam tão somente ajustes, que fazem parte do perfeito mecanismo dos mundos que povoam o Universo, onde cada inteligência tem o seu papel a cumprir, segundo os impulsos das leis divinas, que mantêm a unidade na Criação. Apesar do aparente mal que ocasionam, determinam significativas mudanças físicas, porque frequentemente alteram as condições de uma determinada região, proporcionando, no futuro, melhores condições de aproveitamento para a humanidade. Conseqüentemente, beneficiam fisicamente o planeta, não apenas pela renovação de seus elementos, mas principalmente porque despertam no homem, pela dor, sua consciência religiosa, tanto para os que desencarnam em circunstâncias traumáticas, quanto para os que vivenciam as consequências dolorosas de tal devastação.

Os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar sua paciência e sua resignação ante a vontade de Deus, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo (LÊ, 740).

Além dos flagelos naturais, há os que decorrem da imprudência e ignorância do próprio homem, como o desmatamento, as poluições ambientais, a fome, a guerra etc. À medida que seus conhecimentos se alargam, que a Ciência se coloca ao seu alcance, o homem concebe meios adequados de prevenção ou neutralização de tais flagelos. É assim que o caminho evolutivo a ser percorrido pelo Espírito será a conquista, não apenas da inteligência, que irá lhe conferir o bem-estar material ao contornar os transtornos físicos, mas principalmente promover a caridade, a fraternidade e a solidariedade entre todos seus irmãos, para assegurar finalmente seu bem-estar moral. Bibliografia: LÊ, 728 a 741

B) Guerras— Assassínio — Crueldade — Pena de Morte

Guerras

Ao contrário dos flagelos naturais, as guerras são provocadas pelo egoísmo e pela dureza dos sentimentos do homem. Neste caso, a destruição caracteriza-se como sendo abusiva porque atenta contra a vida dos seus semelhantes, revelando toda a inferioridade e a ignorância do ser humano das leis divinas. Os povos ainda primitivos em seu desenvolvimento espiritual não conhecem outro direito que não seja o do mais forte; por isso, a guerra para eles é tida como sendo um estado normal; porém, quando estes povos evoluírem e souberem promulgar suas leis de acordo com as leis de Deus, haverá então a fraternidade entre todos os homens.

Quando a Humanidade atingir tal patamar evolutivo, a guerra tornar-se-á necessária apenas para fundamentar as bases da liberdade e da evolução, pois este é o objetivo do Criador ao torna-la um mal necessário. Porém, todo aquele que incentivar a guerra objetivando apenas interesses pessoais, movido pelo egoísmo e pela ambição, será culpado pelas consequências que dela advier e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de que foi causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para satisfazer sua ambição (LÊ, 745).

Assassínio

O assassínio sempre constitui-se em grave crime perante as leis divinas, pois todo aquele que tira a vida do seu semelhante interrompe uma existência de expiação ou de missão; e nesta interrupção está justamente o dano maior, ao provocar o término de uma jornada evolutiva, que poderia ser promissora. Deve-se também, até mesmo nos casos de legítima defesa, evitar a morte do agressor, pois a vida é uma benção e não compete ao homem abreviá-la, em nenhuma circunstância.

Podem ocorrer também diferentes graus de culpabilidade em tais casos; em determinadas circunstâncias, o peso da falta irá recair mais na intenção do agressor do que na consumação do fato em si, pois a justiça divina a tudo provê. No caso de assassinatos praticados durante a guerra, o homem só não é culpado quando constrangido pela força, mas responderá pelas crueldades que possa vir a praticar; seu sentimento humanitário será levado em conta no âmbito da justiça divina.

O parricídio (assassínio do pai, ou da mãe, ou de qualquer ascendente) e o infanticídio são igualmente condenáveis perante Deus, porque em ambos os casos existe a interrupção da vida de um semelhante, constituindo-se em um ato de agressão à maior dádiva que Deus concede ao homem: o direito de viver. Contudo, certas civilizações, embora já tenham atingido notável grau de desenvolvimento intelectual, fazem do infanticídio um costume habitual, consagrado inclusive pela legislação vigente. De tal fato lamentável extrai-se o ensinamento contido nas Leis Morais de que nem sempre o progresso intelectual acompanha o progresso moral; assim, o desenvolvimento intelectual não acarreta a necessidade do bem; o Espírito de inteligência superior pode ser mau, é aquele que muito viveu sem se melhorar (LÊ, 751).

Crueldade
O sentimento de crueldade representa o que há de pior no instinto de destruição; porém, é preciso salientar que se a destruição é, por vezes, uma necessidade circunstancial, não significa ser ela um endosso para que a crueldade se manifeste. Esta é sempre o resultado da má índole de algumas criaturas atrasadas moralmente, preocupadas apenas Com seu bem-estar social.

A crueldade se apresenta de forma predominante em povos primitivos, porque para eles a matéria se sobrepõe ao Espírito. Em decorrência, deixam-se dominar pelos seus instintos selvagens e, por não aspirarem a outras necessidades além das impostas pelo corpo físico, só se interessam pela sua sobrevivência pessoal; conseqüentemente, são presas fáceis do sentimento de crueldade que tanto assola os seres humanos.

Estes povos, por terem ainda pouco desenvolvimento moral, entregam-se à influência de Espíritos igualmente imperfeitos, que se comprazem no sofrimento de suas vítimas. Tal cumplicidade entre os Espíritos e os encarnados será enfraquecida a partir do momento em que povos mais adiantados moralmente venham anular esta influência negativa. Mas é preciso esclarecer que se a crueldade se manifesta, é tão somente porque o senso moral não está devidamente desenvolvido, mas não que está ausente: porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o principio do aroma de uma flor que ainda não se abriu (LÊ, 754).

Os Espíritos inferiores podem encarnar entre pessoas mais evoluídas, na esperança de progredirem mais depressa, mas geralmente a prova se lhes torna penosa; sua natureza inferior os domina, e por isso tornam-se cruéis para com aqueles que já sabem viver pacificamente. Contudo, sob o imperativo da Lei do Progresso, eles evoluirão gradativamente; aos poucos, as leis humanas, mais e mais centradas nas leis divinas, limitarão a ação dos maus, até que estes se sintam totalmente deslocados. Assim é que impulsionados pelo mecanismo evolutivo que rege o Universo, os homens de índole cruel renascerão inúmeras vezes, em invólucros cada vez mais de acordo com suas necessidades evolutivas.

Pena de Morte

A pena de morte já existia entre os povos primitivos. No Código de Hamurabi, o mais antigo documento legislativo de que se tem notícia, promulgado por volta do ano 2000 a.C., já se previa a pena de morte para determinadas infrações. E no decorrer da história da Humanidade, inúmeros Espíritos foram vítimas desse assassinato legal: Sócrates, Giordano Bruno. Joana D'Arc, o próprio Jesus Cristo e tantos outros.

Comparando-se este passado histórico com a atual civilização, torna-se necessário admitir que, embora as leis sociais ainda deixem muito a desejar, grande foi o progresso moral da Humanidade, ao restringir, entre alguns povos, a pena de morte, limitando a sua aplicação. Uma observação mais atenta e notar-se-á um novo espírito humanitário a beneficiar o acusado de um crime, mesmo aquele reconhecidamente culpado, em relação ao que se aplicava em tempos passados.

Embora a Lei de Conservação atribua ao homem o direito de preservar a própria vida, ele não deverá usar esse direito para eliminar da sociedade um membro considerado perigoso; o próprio homem descobrirá outros meios de se preservar do perigo, sem ser o de matar. A pena de morte fecha ao réu as portas do arrependimento, frustrando-lhe as oportunidades de renovação; cabe ao homem a obrigação moral de proporcionar àquele que errou a oportunidade de corrigir seus erros.

A pena de morte que deverá ser banida das sociedades civilizadas, jamais foi uma necessidade, mesmo entre os povos mais antigos; porém, o homem sempre julga uma coisa necessária, quando não encontra nada melhor. Mas, à medida que se esclarece vai compreendendo melhor o que é justo ou injusto, e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em nome da justiça (LÊ, 762).

"Quem fere pela espada, por ela será ferido", disse Jesus (Mt 26:52), corroborando a Lei de Ação e Reação amplamente explicada pela Doutrina Espírita, segundo a qual cada um deve responder pelos seus atos perante Deus. Muitas vezes, grandes criminosos resgatam seus erros em prolongadas e dolorosas reencarnações, com enfermidades incuráveis, ou renascendo em corpos mutilados. O importante é saber que a justiça divina é equitativa e que ninguém jamais fica impune; os crimes cometidos têm que ser resgatados de uma forma ou de outra, para que os Espíritos infratores aprendam a assimilar a Lei de Deus que prescreve o "amor ao próximo como a si mesmo".

E esta superação, este evoluir incessante que faz com que o Espírito, enquanto princípio inteligente individualizado, ao submeter-se às renovações gradativas das encarnações, aflore suas potencialidades enquanto essência inteligente do Universo. Bibliografia:LÊ, 742 a 765


C) Não Vim Trazer a Paz, Porém a Divisão

"Julgais que eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão" (Lucas, 12:51). Torna-se sumamente difícil um confronto entre essas incisivas palavras pronunciadas por Jesus quando, de modo geral, encontram-se nos Evangelhos apenas palavras de brandura e de tolerância; por isto, é necessário não se ater às palavras em si, mas captar a essência moral que elas encerram, O sentido profundo destas palavras decorre da certeza que o Mestre tinha de que sua doutrina não se implantaria entre os homens sem lutas e dissensões. Numerosos conflitos surgiriam no mundo em seu nome, diferentes religiões cresceriam à sombra do seu Evangelho, desvirtuando seus ensinamentos em favor de interesses particulares.

Em defesa dos dogmas e sistemas religiosos ultrapassados, lutas fratricidas surgiriam na face da Terra, usando-se o nome de Cristo como justificativa; espadas seriam desembainhadas, dividindo famílias, provocando discórdias entre todas as nações. Jesus veio trazer a divisão à Terra, na medida em que alerta os homens para a consciência de seus erros, destruindo as ervas daninhas da intolerância; somente assim a doutrina de amor por Ele revelada poderia se implantar sobre os escombros das antigas concepções religiosas que, em vez de unir, separavam as criaturas.

Dessas palavras incisivas de Jesus extrai-se o ensinamento de que "espada" significa o instrumento renovador que não compactua com os erros humanos, nem contemporiza com as falhas voluntárias daqueles que desejam manter o mundo acorrentado a tradições inócuas, vivendo sob a égide da superstição, do medo e do fanatismo. É importante notar que o Cristianismo surgiu quando o paganismo já entrava em declínio e se debatia contra as luzes da razão. Sócrates, o grande filósofo grego, também propagou uma doutrina até certo ponto com acentuada analogia à de Cristo; entretanto, ela não prevaleceu no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra, porque não havia chegado o seu tempo. Ele semeou seus princípios religiosos numa nação despreparada moralmente, em função da grande aceitação dos cultos e dos costumes pagãos.

Jesus veio trazer a divisão, porque proclamava uma doutrina que solapava, pela base, os abusos em que viviam os fariseus e os saduceus, escribas e sacerdotes daquele tempo, e por isto foi levado ao Calvário, julgando os homens que matando o idealista, aniquilariam a idéia; esta porem sobreviveu, porque estava alicerçada sobre a verdade , e tomou vulto porque correspondia aos desígnios de Deus. Por força de suas idéias renovadoras, Cristo foi visto pelos romanos como um revolucionário qualquer, que vinha subverter a ordem social vigente.

A espada renovadora de Cristo incita o homem à luta, não pelo derramamento de sangue, mas a luta interior de cada um, a árdua luta contra seus próprios inimigos: o orgulho, a vaidade e o egoísmo. Se Jesus usou palavras meigas e consoladoras para com os pequeninos e pobres de espírito, se prometeu a bem-aventurança aos aflitos, aos famintos e aos sequiosos de justiça, também soube usar de palavras cortantes e incisivas para com os escribas e fariseus de todas as épocas, que mantêm o povo na ignorância e no fanatismo.

Não creiais que a doutrina se estabeleça pacificamente; ela conduzirá a lutas das quais meu nome será pretexto, porque os homens não me terão compreendido, ou não terão querido me compreender; os irmãos, separados por suas crenças, tirarão a espada um contra o outro e a divisão reinará entre os membros de uma mesma família que não tiverem a mesma fé (ESE, Cap. XXIII, item 16).

Desta passagem evangélica extrai-se o ensinamento que os homens devem se compenetrar de que somente pela luta em prol do aprimoramento moral é que a Humanidade poderá assimilar a essência das Leis Morais que regem a harmonia do Universo. Assim como a destruição, a guerra e os flagelos são instrumentos desencadeadores de evolução, também esta divisão a que se refere Jesus se faz necessária para que o Espírito possa alçar novos vôos em direção ao seu destino imortal. Bibliografia: ESE, Cap. XXIII, itens 9 a 18.

QUESTIONÁRIO

A) destruição necessária e abusiva — fiagelos destruidores:

1) Comente por que a destruição se constitui em uma lei da Natureza.

2) Em quais circunstâncias a destruição é abusiva?

3) Como entender a ação dos flagelos destruidores?

b) guerras— assassínio—crueldade — pena de morte:

1) Qual o objetivo das leis divinas ao tornar a guerra necessária?

2) Como se explica que em meio às civilizações mais adiantadas existam criaturas às vezes tão cruéis quanto os selvagens?

3) A pena de morte constitui-se em transgressão às leis de Deus? Por quê?

c) não vim trazer a paz, porém a divisão:

1) Explique a assertiva de Jesus: "Não vim trazer a paz, mas a espada".

2) Por que as idéias de Sócrates não prosperaram?

3) Explique por que as idéias de Jesus eram consideradas revolucionárias.






CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 6 - LEI DE CONSERVAÇÃO
A) Instinto de Conservação — Meios de Conservação - Instinto de Conservação
O instinto de conservação é também uma lei da natureza, pois a vida no corpo físico é necessária ao aperfeiçoamento dos seres vivos; sem este instinto, não suportariam as dificuldades terrenas, imprescindíveis à sua evolução. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o grau de inteligência; nuns é puramente mecânico e noutros é racional (LÊ, 702).

Portanto, partindo-se da premissa de ser o instinto de conservação inerente a todos os seres vivos, deduz-se ser ele a base do direito de viver, o primeiro de todos os direitos naturais dos homens.

Meios de Conservação

A providência divina jamais deixa de proporcionar ao homem os meios de sua subsistência, uma vez que a própria natureza é pródiga no que diz respeito às necessidades de conservação da vida material. Contudo, embora a terra ofereça condições para tal o abuso, a negligência e o egoísmo do homem agridem de tal forma o meio ambiente, acarretando prejuízos para si próprio e à coletividade. Conseqüentemente, o próprio homem é responsável quando há escassez de recursos, ao contrariar a lei divina que provê os meios de conservação da vida.

Em conformidade com os desígnios de Deus, a terra produz e sempre produzirá o necessário para a manutenção de todos; mas é preciso que o homem trabalhe corretamente, sem abusar dos recursos que a natureza lhe oferece. Se ele não encontra à sua volta os meios necessários à sua subsistência, é por falta de compreensão. Deus não podia dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. È por isso que faz a terra produzir, de maneira a fornecer o neces­sário a todos os seus habitantes, pois só o necessário é útil; o supérfluo jamais o é (LÊ, 704).

O solo é a fonte primeira de onde se originam todos os outros meios de subsistência, entendendo-se que tais meios são apenas transformações dos produtos do solo. Deste modo, deve-se entender por bens da terra aqueles bens que o homem pode usufruir em sua vida. Pela transformação de tais produtos, obtém o necessário para o seu conforto e do seu semelhante; usufrui de melhor qualidade de vida, que irá lhe permitir condições adequadas para desenvolver-se intelectualmente; nesta gradação, o homem reconhecerá não só seus próprios deveres, mas principalmente os direitos do seu próximo; tal encadeamento progressivo redundará na sua elevação moral.

Contudo, é preciso ressaltar que, para uns faltam meios de subsistência, enquanto que para outros sobram; tal situação é fruto não só da ganância e egoísmo dos homens como também da indolência de muitas criaturas, que se entregam ao desânimo ante os obstáculos naturais do seu ambiente. Compete a cada criatura viver em consonância com os desígnios de Deus, enfrentando as adversidades com fé, perseverança e trabalho. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar para a terra afim de encontrar o que se deseja, mas que é necessário trabalhar com ardor e perseverança... (LÊ, 707).

O próprio avanço da civilização multiplica as necessidades da vida, mas também multiplica as fontes de trabalho e os meios de subsistência, proporcionando à humanidade condições para seu desenvolvimento intelectual e moral. Mas, levado ainda pelas suas imperfeições, o homem procura a vida oposta àquela que a natureza lhe proporciona: o desejo de acumular sempre o que lhe é supérfluo, o que contraria frontalmente as leis naturais, pois todos têm seu lugar ao sol, desde que não se apropriem do que pertence ao próximo. É neste sentido que não se deve responsabilizar a natureza quando há escassez de recursos de subsistência, mas sim como fatores decorrentes da ambição e egoísmo das próprias criaturas.

Contudo, existem situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem, quando submetido a provações e sofrimentos. É o caso das provas muitas vezes difíceis, onde o mérito maior está na submissão à vontade divina, caso sua inteligência não lhe permita contornar tais dificuldades. Por isso. aqueles que, em determinadas situações críticas, se vêem obrigados a sacrificar o semelhante para saciar a fome, não têm atenuantes e muito menos uma justificativa imposta pelo instinto de conservação; o mérito está antes em sofrer todas as vicissitudes terrenas com coragem e abnegação.

Quanto aos mundos mais elevados, os seres que os habitam também necessitam de alimentação, mas as substâncias que compõem tais alimentos são relativos à natureza de cada mundo e respectivos habitantes. Deste modo, a Lei de Conservação intui a todas as criaturas o conhecimento de que a vida é uma dádiva divina e que seu dever, acima de tudo, é preservá-la. Portanto, não lhe cabe o direito de menosprezar ou eliminar, nem a vida de seu semelhante, nem a sua própria. Bibliografia: LÊ, 702 a 710

B) Necessário e Supérfluo — Privações Voluntárias — Mortificações
Necessário e Supérfluo: Todo homem ponderado, ciente de seus deveres para com o próximo, identifica facilmente, através da sua intuição, o limite entre o que lhe é necessário à sua subsistência, e o que lhe é supérfluo; a própria natureza encarrega-se de lhe prover o necessário, através do seu trabalho. Contudo, muitos chegam a reconhecer este limite somente após dolorosas experiências; e se existem criaturas que não se contentam com o que lhes bastam, é porque são insaciáveis.

Quando o homem ultrapassa o limite de suas necessidades, desejando os excessos, sofre as consequências de seus atos egoístas, pelo imperativo da lei de ação e reação. As doenças, a decadência, a própria morte que são a consequência do abuso, são também a punição da transgressão da lei de Deus (LÊ, 714a). A ambição desmedida altera a constituição orgânica, propicia os vícios, cria necessidades fictícias, muitas vezes difíceis de serem satisfeitas, levando os homens a quedas morais irreversíveis.

Aqueles que se apoderam avidamente de bens terrenos, transgridem as leis divinas e portanto terão que responder pelas privações que houverem causado ao seu próximo. Os que vivem à custa das privações alheias exploram os benefícios da civilização em proveito próprio; não têm de civilizados mais do que o verniz, como há pessoas que não possuem da religião mais do que a aparência (LÊ, 717).

Privações Voluntárias: A Lei de Conservação obriga o homem a prover as necessidades do corpo, porque sem força e saúde tornar-se-ia impossível o seu trabalho. Portanto, não se pode censurá-lo quando procura o seu bem-estar, pois procurar seu conforto é uma conduta plenamente natural. Deus só proíbe o abuso quando se configura em uma transgressão à Lei de Conservação, quando se conquista algo à expensa de alguém ou que venha a debilitar suas forças morais e físicas.

Há privações voluntárias como, por exemplo, dos prazeres inúteis, que nada acrescentam ao progresso moral e intelectual; tais privações tem o seu valor perante Deus porque levam o homem ao desapego da matéria e lhe elevam o Espírito; do mesmo modo, há mérito também no ato de abster-se do necessário para dar aos que nada tem.

Existem pessoas que, de acordo com a religião a que pertencem, privam-se voluntariamente dos prazeres da vida; desde a Antiguidade, povos mortificam-se no ascetismo, abstêm-se de certos alimentos, mutilam-se ou torturam o corpo, na certeza de que tais sacrifícios os ajudariam a elevar-se ante Deus. Mas, é uma atitude desarrazoada, qualquer que seja o seu pretexto ou disfarce, pois que prejudica a quem a pratica. Submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã (LÊ, 721).

Alguns legisladores houveram por bem proibir o consumo de certos alimentos, objetivando certamente a uma determinada finalidade e, para dar maior credibilidade à suas leis, apresentaram-nas como advindas de Deus. Entretanto, faz-se necessário esclarecer que ao homem é permitido alimentar-se de tudo o que não lhe prejudique a saúde, mesmo no caso de alimentação animal; devido à sua constituição física, onde a carne nutre a carne, é dado ao homem a liberdade de nutrir-se ainda da alimentação animal, segundo o exige sua organização, a fim de conservar suas energias e sua saúde, para que possa cumprir a Lei do Trabalho (LÊ, 723).

Mortificações: O mesmo ocorre em relação às mutilações operadas no corpo das criaturas ou dos animais; as leis de Deus não comportam o que seja inútil e nocivo. O que eleva a alma ao Criador são os sofrimentos naturais que visam ao bem-estar do próximo. Ao invés de fustigarem inutilmente seus corpos, por que não trabalham, antes, em favor dos seus semelhantes? Que visitem o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que está enfermo, sofram privações para o alívio dos infelizes, e então sua vida será útil e agradável a Deus (LÊ, 726).

Sintetizando a orientação da Doutrina Espírita em relação à Lei de Conservação, conclui-se que: O instinto de conservação foi dado a todos os seres contra os perigos e os sofrimentos (...) E os Espíritos orientam ainda a todos aqueles que desejam viver consoante as leis de Deus: Fustigai o vosso Espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo (...) e fareis mais pelo vosso adiantamento do que por meio de rigores que não mais pertencem a este século (LÊ, 727).Bibliografia:LÊ, 715 a 727
C) Provas Voluntárias — Verdadeiro Cilício
Torturar e martirizar, voluntariamente, o vosso corpo é contrariar a lei de Deus que vos dá os meios de o sustentar e fortalecer, enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis, tal a lei (ESE, Cap. V, 26).

Provas Voluntárias: No que diz respeito às provas, poder-se-ia questionar se seria lícito, perante as leis divinas, as criaturas procurarem amenizar seus sofrimentos. Esta questão assemelha-se àquela em que se indaga se é permitido ao que se afoga, procurar salvar-se; ao que se feriu em um espinho, retirá-lo e ao que está doente, procurar ajuda médica. As provas a que os Espíritos encarnados estão submetidos têm por objetivo exercitar a inteligência, a paciência e a resignação. Isto porque normalmente os Espíritos encarnam em situações difíceis justamente para serem obrigados a procurar os meios de superar seus limites e vencer as dificuldades inerentes à condição humana.

O que o homem jamais deve fazer é entregar-se à negligência, ao desânimo e muito menos revoltar-se contra o mundo em que vive. A Terra, embora morada de expiação e dor, prima pelo equilíbrio e harmonia que regem suas leis naturais; e em que pese os males e sofrimentos dos seres que a habitam, prossegue favorecendo a vida em sua renovação contínua, impulsionando o progresso e sustentando as esperanças da humanidade. Portanto, está no próprio homem compreender e aceitar os desígnios de Deus, pois o mérito consiste em suportar sem lamentação as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar se não for bem sucedido... (ESE, Cap. V, item 26).

Em decorrência da consolação de Jesus contida no Sermão da Montanha — Bem-aventurados os aflitos — tem-se o seguinte questionamento: será meritório, então, procurar agravar as próprias aflições através de sofrimentos voluntários, para fazer jus a esta bem-aventurança? Se o objetivo é apenas satisfazer o egoísmo ou atender a exigências fanáticas, levando as pessoas a se recolherem em retiros, macerando seus corpos e impondo-se sofrimentos sem nenhuma finalidade útil ou nobre, não há mérito algum. Torturar, martirizar o corpo é atentatório às leis de Deus, e aqueles que enfraquecem seus organismos dessa maneira estão fadados a fracassarem em suas provas terrenas.

Há mérito, porém, perante Deus quando os sofrimentos e as privações voluntárias têm por objetivo o bem do próximo, porque é a caridade pelo sacrifício (ESE, Cap. V, 26). Assim, a bem-aventurança indicada por Jesus está condicionada não só ao sofrimento resignado, sem revolta, mas acima de tudo àquele sofrimento que se impõe para aliviar as dores do próximo. Os aflitos a que se refere Jesus são, portanto, os humildes, os arrependidos de seus erros e decididos a se regenerarem pela reforma íntima e pelo trabalho voltado para o amor e a caridade.

O Verdadeiro Cilício ( Cilício: pequena túnica, cinto ou cordão, de crina ou de lã áspera, ou de arame fino eriçado de pontas que se traz sobre a pele para mortificação ou penitência. Por extensão, tormento, martírio ou sacrifício voluntário).

O verdadeiro cilício é aquele que se pratica em favor do próximo, ao colocar seus próprios interesses e comodidades em favor do seu semelhante, num gesto de desprendimento e abnegação. Quando o homem impõe-se a si mesmo sofrimentos de qualquer espécie com o objetivo de aliviar seu próximo; quando suporta frio e fome para aquecer e alimentar alguém necessitado; quando deixa seus aposentos para levar consolação a um lar aflito, quando vela à cabeceira de um doente, tudo isso representa o verdadeiro cilício abençoado por Deus.

Vós, enfim, que usais vossa saúde na prática de boas obras, eis vosso cilício, verdadeiro cilicio de bênçãos, porque as alegrias do mundo não secaram vosso coração (ESE, Cap. V, item 26). Pelo fato de o homem estar consciente de que os sofrimentos são, muitas vezes, consequências de erros praticados em vidas passadas, não deve ver nisso motivo para não se condoer da dor alheia e não mostrar disposição para auxiliar o próximo. Pelo contrário, deve sempre intuir quais os meios que Deus lhe colocou às mãos para suavizar o sofrimento do seu irmão, para consolá-lo e dar-lhe o amparo moral e material de que necessita.

Assim, o verdadeiro cilício consiste no sacrifício que tem por finalidade o progresso espiritual; mortificar o Espírito e não o corpo, significa combater o orgulho, aceitar as humilhações sem revolta, sufocando o amor-próprio eivado de orgulho. Ai tendes o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque elas atestarão vossa coragem e submissão à vontade de Deus (ESE, Cap. V, item 6).
Bibliografia: ESE, Cap. V, item 26.

QUESTIONÁRIO
 1 ) Como a Doutrina Espírita aborda o instinto de conservação?
2 ) O que se deve entender por bens da terra?
3 ) Por que faltam meios de subsistência para alguns, mesmo em meio à abundância?
 4) Como pode o homem conhecer o limite do que lhe é necessário?
5) Pode- se censurar aqueles que procuram o conforto material e o bem-estar?
6) Existem privações voluntárias meritórias perante Deus? Discorra.
7) É lícíto ao homem amenizar suas próprias provas?
8) Como explicar a afirmação de Jesus : Bem aventurados os aflitos?
9) Em que consiste o verdadeiro cilício?


CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 5 LEI DE REPRODUÇÃO
A) População do Globo — Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças — Obstáculos à Reprodução
População do Globo
Partindo do princípio que Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, para alcançarem, através de múltiplas experiências em corpos físicos, a perfectibilidade, deduz-se que sem a reprodução, o mundo corpóreo pereceria (LÊ, 686). Portanto, a lei de reprodução dos seres vivos é também uma Lei Natural, fundamental no mundo corpóreo para a reprodução de formas físicas, que assim preenche uma necessidade no mecanismo da evolução espiritual.

Contudo, não se deve disso deduzir que, havendo uma progressão constante de corpos físicos para dar cumprimento ao princípio reencarnatório, o mundo material possa vir a ter uma população excessiva, cuja saturação levaria à escassez de meios e recursos de sobrevivência. Deus a isso provê, mantendo sempre o equilíbrio. (...) O homem que só vê um ângulo do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto (LÊ, 687).
Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças
Existem raças humanas que estão decrescendo paulatinamente, e momento virá em que terão desaparecido do planeta; outras tomarão o seu lugar, assim como outras ainda um dia tomarão o lugar das atuais. Assim, raças primitivas de outrora serão apenas lembranças históricas que deram lugar a novas raças, que por sua vez envelhecerão e terão que ser substituídas.
E assim que, utilizando seu livre-arbítrio e assumindo sempre novas responsabilidades, o homem vai aperfeiçoando sua raça, aprimorando seu corpo físico e substituindo os caracteres distintos das raças primitivas, tais como a força bruta e as paixões, pelos sinais das raças superiores, onde predominam a inteligência e o amor. Mas, embora as raças humanas passem por esse processo de burilamento, os Espíritos que nelas encarnam são os mesmos seres que voltaram para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição (LÊ, 689). Quando esses Espíritos ascenderem a mundos superiores, seus descendentes estarão mais aperfeiçoados, assim como os homens atuais, que descendem de seres selvagens dos tempos primitivos.
As raças animais e os vegetais podem ser aperfeiçoados pela Ciência, porque tudo se deve fazer para chegar à perfeição, correspondendo assim aos objetivos da Criação. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os Seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, o favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins (LÊ, 692). Nesta caminhada, ante a exigência biológica e as ilusões sensoriais em constante confronto com os anseios de sublimação do Espírito, o homem regula ou entrava a marcha da natureza, ora infringindo, ora obedecendo à Lei de Reprodução.
Obstáculos à Reprodução
A reprodução dos seres vivos é uma Lei Natural e corresponde a uma necessidade no mecanismo da evolução; mas, isto não significa que seja proibido ao homem adotar certas precauções para regulá-la, pois tudo depende da necessidade de tal medida. A reprodução excessiva de determinadas plantas ou animais, por exemplo, pode se revelar nociva e prejudicial à sobrevivência do homem; neste caso, pode-se perfeitamente impedir-lhes a reprodução, pois a ação inteligente do homem é um contrapeso posto por Deus entre as forças da Natureza para restabelecer-lhes o equilíbrio, e isso também o distingue dós animais, pois ele o faz com conhecimento de causa (LÊ, 693a), ao regular os mecanismos de reprodução conforme suas necessidades.
Os próprios animais concorrem para a harmonia e o equilíbrio dos seres vivos pois, ao se nutrirem das espécies animais e vegetais segundo seus instintos de conservação, detêm o desenvolvimento excessivo de tais espécies. Em se tratando dos obstáculos à reprodução, importa discernir os motivos pelos quais o homem põe barreiras à reprodução, em razão de sua própria condição espiritual; quando a não observação da Lei de Reprodução se traduz por uma ação meramente sensual, mostrando a predominância da matéria sobre o Espírito, revela-se sua condição de inferioridade. Deste modo, quando o homem impede a reprodução, entravando ou não a marcha da natureza, deve-se observar a intenção da ação, pois há diferença fundamental entre regular e entravar esta lei; cabe ao homem utilizar seu livre-arbítrio, distinguindo os limites de uma ou de outra ação.
Muito embora a Lei de Reprodução seja necessária aos mundos corpóreos, onde por força da matéria imperam os instintos de natureza animal, os Espíritos, para fazerem juz aos mundos superiores, portanto, de natureza mais espiritual, devem aprender a direcionar o impulso sexual, sublimando-o paulatinamente e de tal forma, que possam transformá-lo em novas fontes de energia. Bibliografia:LÊ, 686 a 694
B) Casamento e Celibato — Poligamia
O casamento monogâmico revela progresso na marcha da humanidade, porque é a regulamentação social do instituto familiar, que por vezes permite o reencontro de Espíritos antagônicos, os quais procuram ajustar-se na conquista de novos valores; é na convivência diária, no seio da família que se eliminam as dissensões, e que muitas vezes se cumprem as provas e se realizam expiações; mas, acima de tudo, no casamento se fortalecem os laços afetivos, a solidariedade fraterna, propiciando o reencontro de Espíritos felizes.
Enquanto lei civil, encontra-se a prática do casamento disseminada entre a maioria dos povos, embora nas mais diversas formas e condições, sempre de acordo com os valores culturais de cada sociedade. Abolir o casamento seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais, que lhe dão o exemplo das uniões constantes (LÊ, 696). A união permanente de dois seres implica em regime de assistência mutua, sendo necessário que esta ligação tenha por base sólida a responsabilidade, o amor, a fraternidade, bem como as obrigações decorrentes da união em si.
A indissolubilidade absoluta do casamento é uma lei humana, contrária à lei natural e como tal passível de modificações, pois os homens podem modificar suas leis: somente as naturais são imutáveis. Deste modo, à luz da Doutrina Espírita conclui-se ser o casamento, enquanto lei civil baseada na afeição recíproca, o esteio da família, propiciando aos Espíritos que a formam um clima acolhedor, uma convivência de paz, de trabalho edificante, de alegria e fraternidade, cujos benefícios estender-se-ão, no futuro, a toda a humanidade.
O celibato caracteriza-se pelo ato de renúncia ao casamento, geralmente por motivos religiosos ou beneméritos, mediante juramento ou voto sagrado. Neste sentido ele tem seus méritos perante Deus, desde que alimente o sincero propósito de melhor servir à coletividade. Diz respeito àqueles Espíritos que, ao reencarnarem, optaram por canalizar suas forças íntimas a serviço de seus semelhantes; renunciaram à união afetiva para melhor se dedicarem ao seu próximo, direcionando suas energias sexuais para uma finalidade sublime, de cunho espiritual: o trabalho anônimo da caridade. Todo sacrifício pessoal visando ao bem e sem segunda intenção egoísta eleva o homem acima de sua condição material (LÊ, 699).
Contudo, quando o celibato é um ato voluntário tendo como finalidade a fuga das responsabilidades que a constituição familiar exige, não pode ser considerado o estado ideal: os que vivem assim por egoísmo, desagradam a Deus e enganam a todos (LÊ, 698).
Poligamia: É o matrimônio de um com muitos. Polígamo é o que tem mais de um cônjuge ao mesmo tempo. A poligamia é um costume que, introduzido em certa época por motivos econômicos — aumento de braços para o trabalho grátis nos clãs —já não se justifica; é uma lei humana, produto mais da sensualidade do que da verdadeira afeição, cuja abolição representa uma conquista social para a humanidade.
Contudo, tal prática ainda é encontrada no seio de alguns povos, remanescente de épocas passadas, embora sujeita a uma legislação especial, apropriada aos costumes e valores culturais de cada sociedade; porém, o gradativo aperfeiçoamento social irá aos poucos alterando tais costumes.
Como forma de união, tal prática não corresponde aos desígnios de Deus, visto que jamais foi possível generalizar-se, face à igualdade numérica aproximada entre os sexos, pois tudo tem um fim na natureza (LÊ, 700). A ordem natural, condizente com a espécie humana é a monogamia, visto que, tendo por base a união permanente dos seres, permite que se estabeleçam entre ambos condições afetivas necessárias para acolher Espíritos em vias de reencarnar.
(OBS.: A poligamia pode ser: poliginia ou poliandria. Poliginia é o casamento do homem com muitas mulheres; polígino é o homem que tem muitas mulheres. Poliandria é o casamento da mulher com diversos homens; poliandra é a mulher que tem mais de um marido ao mesmo tempo.) Bibliografia: LÊ, 695 a 701
C) Indissolubilidade do Casamento - Divórcio Indissolubilidade do Casamento
Portanto, não separe o homem o que Deus juntou. Replicaram-lhe eles (a Jesus): Pois por que mandou Moisés dar o homem à sua mulher carta de divórcio e repudiá-la? Respondeu-lhes: Porque Moisés, pela dureza de vossos corações, vos permitiu assim (Mateus, 19:3-9).
Os fariseus viviam fazendo indagações capciosas a Jesus, com o intuito de fazê-lo cair em contradição com as leis promulgadas por Moisés. O diálogo acima reflete esta intenção oculta dos interlocutores em relação à indissolubilidade do casamento. O Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap. XXII) elucida claramente este colóquio evangélico, ao explicar que somente as leis de Deus são imutáveis e, portanto, válidas em todos os tempos e em todos os povos.
As que são promulgadas pelos homens, são passíveis de alteração, e variam em cada época e em cada nação, modificando-se paulatinamente de acordo com o progresso alcançado; conseqüentemente, o que é moral num determinado país, pode ser considerado imoral em outro.
Porém, é preciso analisar o casamento em sua dupla natureza, a divina e a humana, para apreender toda a extensão que este ensinamento de Jesus revela: embora o casamento seja o cumprimento de leis civis, necessárias entre povos civilizados, a união conjugal em si, enquanto relação afetiva, é de ordem divina, porquanto necessária para a renovação dos corpos físicos, e é neste sentido que se deve entender este diálogo com os fariseus. A lei de Deus revela a necessidade dos seres se unirem não somente pelos laços carnais, mas principalmente pela afinidade de sentimentos, extensível aos filhos resultantes desta união. Portanto, quando Jesus replicou aos fariseus não separe o homem o que Deus juntou, estava certamente referindo-se à lei do amor, de natureza divina, e não à lei civil dos homens, instável no seu conteúdo.
Quando um homem e uma mulher se unem por laços de afeto mútuo e afinidade entre si, essa união é, por si só, indissolúvel, porque está de acordo com as leis de Deus. Caso contrário, quando predominam os interesses puramente materiais, é origem de decepções, dores e sofrimentos, por contrariar a lei de amor; ao passo que os laços de afinidade espiritual e de mútuo afeto são indissolúveis e resistem a todas as fra­quezas da condição humana.
O divórcio, enquanto lei humana, não é condenável perante as leis de Deus, pois ele trata de legitimar o que já está separado, isto é, regular separações onde não há amor, mas somente interesses materiais. Jesus Cristo não estabeleceu a indissolubilidade do casamento; apenas disse que isso acontecia devido ao endurecimento dos corações, admitindo que a separação poderia acontecer somente em casos de adultério, onde não há o verdadeiro amor.
O fato de Jesus considerar adúlteros tanto o homem quanto a mulher repudiada, com referência à lei de Moisés, foi uma alternativa, objetivando fazer o homem sentir as consequências que o seu ato originava, pois, como adúltero, ele também era passível de ser enquadrado nas severas leis vigentes na época, quando se prescrevia o apedrejamento em praça pública como punição apenas para mulheres adúlteras. Isto significa que, desde os tempos de Moisés, não sendo a mútua afeição o motivo único do casamento, a separação podia tornar-se necessária (ESE, Cap. XXII, item 5).
Contudo, convém lembrar que a Doutrina Espírita é bastante clara quanto à seriedade do vínculo matrimonial, pois, com a união, o casal assume compromissos sérios para o reajuste próprio e, particularmente, no que diz respeito aos filhos. É preciso reconhecer que uma separação representa uma transferência de compromissos, portanto, de débitos agravados. Todo casamento que se dissolve representa a desestruturação familiar, cuja separação é simplesmente um paliativo. Neste caso, o divórcio é o mal menor; é a lei dos homens que vem separar o que já está separado, oferecendo ao casal a oportunidade de recompor suas vidas e legalizar sua nova posição perante a sociedade.
Convém ressaltar que, mais importante que se recorrer ao divórcio para situações que atingiram tal proporção de desentendimentos, importa garantir a estabilidade matrimonial através da compreensão mútua, companheirismo e tolerância, estabelecendo assim no lar o clima propício para que os filhos resultantes dessa união possam ter exemplos edificantes. Bibliografia: ESE, Cap. XXII, itens l a 5
QUESTIONÁRIO
1) Por que a Reprodução é também uma Lei Natural?
2) Como entender a sucessão e o aperfeiçoamento das raças?
3) As ações humanas que resultam em obstáculos à reprodução são contrárias à Lei Natural?
4) Qual seria o efeito da abolição do casamento sobre a sociedade?
5) Como se caracteriza o celibato? Comente.
6) Qual sistema é mais de acordo com a Lei natural: a poligamia ou a monogamia? Explique.
7) O que é de natureza divina e o que é de natureza humana no casamento?
8) Comente a afirmação de Jesus: "Logo, não separe o homem o que Deus juntou".
9) Como a Doutrina Espírita encara o divórcio
CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 4

LEI DO TRABALHOA) Necessidade do TrabalhoO trabalho é uma lei da natureza e, por isso, é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta suas necessidades e os seus prazeres (LÊ, 674). Como decorrência, o fato de ter que trabalhar concorre para o desenvolvimento de suas potencialidades intelectuais e morais.

O trabalho, no entanto, não se restringe apenas ao esforço de ordem material, porquanto toda ocupação útil é trabalho (LÊ, 675), sejam atividades intelectuais, sejam morais, e é neste sentido que se diz que o Espírito também trabalha. Em razão da sua natureza corpórea, e objetivando o aperfeiçoamento de sua inteligência, o trabalho é imposto ao homem como condição essencial para o seu desenvolvimento moral e espiritual. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual (LÊ, 676), embora, em certos casos, possa também ser considerado como uma expiação, tendo em vista a sua condição evolutiva.
Assim como o homem, os animais também trabalham de acordo com sua inteligência limitada às necessidades da conservação de cada espécie. Seu trabalho também concorre para a realização do objetivo final da natureza, pois todos têm o seu papel a cumprir. Mas, enquanto o trabalho dos animais é meramente instintivo, e portanto sem progresso algum, para o homem tem uma dupla finalidade: a conservação do corpo e o desenvolvimento do pensamento, que é também uma necessidade que o eleva acima de si mesmo (LÊ, 677).
Nos mundos mais aperfeiçoados o trabalho e menos material, porque a natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades; sendo estas menos materiais, segue-se que menos material será o trabalho a desenvolver-se; ninguém, porém, permanece inativo ou ocioso. Mesmo o homem que possui bens suficientes para assegurar sua subsistência, terá que trabalhar; terá sempre um dever moral a cumprir, um trabalho moral a executar, pois a riqueza poderá tornar-se uma bênção de Deus, desde que bem utilizada em benefício do próximo.
Portanto, embora tal situação privilegiada lhe permita ficar dispensado do trabalho material, não o desobriga de ser útil na proporção de seus meios, de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho (LÊ, 679); segundo a lei natural, cada um deve tornar-se útil, na proporção de suas faculdades.
Os pais devem trabalhar para os filhos e os filhos para os pais, porque Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural, a fim de que, por essa afeição recíproca, os membros de uma mesma família sejam levados a se auxiliarem mutuamente (LÊ, 681). A Doutrina Espírita esclarece que a paternidade e a maternidade são missões, e que, portanto, competem aos pais a formação do caráter de seus filhos.
Da mesma forma existe o amor filial regido por leis divinas, para estimular a afeição àqueles que proporcionaram a vida encarnada aos filhos, e por isso a importância do "honrar pai e mãe". Assim sendo, trabalhar pelos pais, sustentando-os ainda que nas maiores tribulações, é um dever fundamental. É através deste trabalho que muitas consciências se enobrecem ou se perdem quando se buscam saídas fáceis, sem trabalho, como por exemplo o internamento dos pais em asilos.B) Limite do Trabalho - Repouso Limite do Trabalho
O limite do trabalho é o limite das forças; não obstante, Deus dá liberdade ao homem (LÊ, 683); assim, cabe a ele impedir que haja excesso de trabalho, pois todo abuso que se cometa, quer imposto pelo próprio interessado, quer pela sujeição a que submete seu próximo, confïgurar-se-á em transgressão à lei de Deus.
O homem consciente de seus deveres deverá mobilizar todos os recursos disponíveis ao seu alcance, para evitar a exploração do seu semelhante através de uma sobrecarga de trabalho, concorrendo assim para que haja justiça social.

 O repouso, constituindo-se em uma lei da natureza, é necessário após o trabalho, não só para refazer as forças do corpo, como também para dar um pouco mais de liberdade ao Espírito, para que possa elevar-se acima da matéria. O forte deve trabalhar para o fraco; na falta da família, a sociedade deve ampará-lo: è a lei da caridade (LÊ, 685a). É assim que em uma relação social elevada, os homens devem compensar-se uns aos outros, na busca da fraternidade e na organização de uma sociedade cristã de fato.

A sociedade, através de seus membros, deve organizar-se de tal modo a proporcionar ocupação para todos; além disso, é necessário cuidar da educação do homem: não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos (LÊ, 685a).
Assim, trabalhar não é sofrer, mas progredir, evoluir, e portanto, conquistar a felicidade; a Doutrina Espírita propicia a todos quantos queiram trilhar o caminho do bem, diretrizes oportunas quanto ao que fazer com o tempo livre, de modo a conciliar o lazer e o descanso com atividades altruístas que engrandeçam espiritualmente. Bibliografia: LÊ, 682 a 685a
C) Cuidar do Corpo e do Espírito
Amai, pois, a vossa alma, mas cuidai também do corpo, instrumento da alma; desconhecer as necessidades que lhe são peculiares por força da própria natureza, é desconhecer as leis de Deus (ESE, Cap. XVII, item 11). Embora Espírito e corpo sejam de naturezas diferentes, ambos coexistem em todos os encarnados. O Espírito possui seus atributos e conquistas, as quais independem do corpo físico; no entanto, o corpo material é que permite a sua manifestação e expressão.
Existem dois sistemas no seio da humanidade com relação aos cuidados do corpo e do Espírito: o dos ascetas, que desejam abater o corpo, e o dos materialistas, que querem diminuir a alma. Ao lado dessas duas correntes, fervilha a multidão de indiferentes que, sem convicção nem paixão, amam com tibieza e gozam com parcimônia (ESE, Cap. XVII, item 11).
O Espiritismo vem demonstrar aos homens que tanto o Espírito como o corpo têm valor inestimável, pois para o desempenho das tarefas no plano material importa manter o corpo saudável, enquanto instrumento do Espírito. Do contrário, pode haver um encurtamento da vida física, deixando o Espírito impossibilitado de dar cumprimento ao roteiro traçado para a sua vida.
Por outro lado, não se deve por isso afastar-se do mundo e do convívio com os semelhantes, com receio de contaminações ou de contrair vícios; o mérito do Espírito consiste em viver no mundo, entre criaturas por vezes viciosas, mas reagindo a todas as investidas. Somos homens no mundo e não podemos sacrificar a natureza humana, mas antes considerá-la, respeitá-la enquanto condição de livre expressão do Espírito.
Não deve o homem enfraquecer seu corpo com privações inúteis, com excesso de trabalho e maceração sem propósito, agravando as provas que Deus lhe mandou; ele precisa de todas as suas forças, da plenitude de suas faculdades orgânicas para cumprir os propósitos de nua encarnação. Torturar voluntariamente o corpo, martirizando-o com trabalho exaustivo é atentatório à lei de Deus, que dá sempre os meios de sustentá-lo e de fortalecê-lo. Debilitar o corpo sem necessidade representa um verdadeiro suicídio, embora indireto.
Os Espíritos ensinam que não há mérito em procurar as aflições, agravando-as por meio de sofrimentos espontâneos, quando isso objetiva satisfazer a própria comodidade, pois se trata de egoísmo e fanatismo. Mas, há mérito quando os sofrimentos e privações têm por fim o bem do próximo. Nesse caso, trata-se da prática da caridade através do sacrifício, pois que sofre-se por uma causa nobre.
Por outro lado, é importante cuidar do Espírito, pois este é eterno e deve-se sempre buscar aprimorá-lo, no sentido de transcender cada vez mais em direção a Deus. Para tanto importa cultivar as virtudes cristãs que enobrecem e elevam o Espírito, tornando-o portanto mais feliz.
Embora sendo o corpo mera vestimenta da alma, importa dispensar-lhe máxima atenção, e isso se faz primordialmente cuidando da saúde. Terá que responder pela abreviação da vida todo aquele que mergulha nos vícios terrenos, tais como o uso abusivo de bebidas alcoólicas, do fumo, do sexo, sem contar as aberrações pelo uso de entorpecentes que embotam os sentidos, solapam a saúde e levam muitas pessoas ao crime e ao suicídio. Aniquilar o corpo é retardar a evolução do Espírito.

QUESTIONÁRIO

a) necessidade do trabalho:

1) Desenvolva: Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual (LÊ, 676).

2) Em que se diferenciam o trabalho dos animais e o trabalho dos homens?

3) Qual a relação da Lei do Trabalho com o amor filial?

b) limite do trabalho - repouso:

4) A necessidade do repouso é uma lei natural?

5) Qual a relação da caridade com a Lei do Trabalho?

6) Como o Espiritismo encara o trabalho?

c) cuidar do corpo e do espírito:

7) Qual a diferença entre o pensamento dos ascetas e o dos materialistas?

8) Deve-se enfraquecer o corpo com privações e macerações para ser agradável a Deus?

9) Qual a importância da saúde do corpo para o Espírito?

CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 3

A LEI DE ADORAÇÃO


A) Finalidade da Adoração — Adoração Exterior — Vida Contemplativa
Finalidade da AdoraçãoA adoração consiste na elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima d'Ele a sua alma (LE, 649). É um sentimento inerente à sua própria natureza, pois o homem sempre sentiu que há, acima dele, um ser supremo; assim, a consciência de suas fraquezas e o temor daquilo que escapa à sua compreensão leva-o a curvar-se diante de alguém superior, em busca de consolo e proteção nos seus momentos difíceis, ou a expressar exaltação e alegria nos momentos felizes.
O ato de adoração está contido na lei natural que rege a vida no universo, a impulsionar o processo evolutivo de todas as criaturas, independente de aprendizagem ou grau de cultura porque é o resultado de fim sentimento inato no homem; por isso a encontramos entre todos os povos, embora sob formas diferentes (LE, 652). Portanto, em todas as épocas, desde os povos mais primitivos, houve a prática do ato de adoração a um ente supremo, evidenciando ser a idéia de Deus inata e Universal, e isto porque jamais houve povos ateus. Todos compreendem que há, acima deles, um Ser Supremo (LE, 651), sem que praticamente tenham tido qualquer tipo de influência exterior.
Adoração ExteriorA adoração não precisa de manifestações exteriores, pois o que importa é a sinceridade de sentimentos e sua intenção. No entanto, existem aqueles que têm necessidade de imagens, cultos, roupa especial, ritos e gestos, para concretizar a adoração; estes casos têm seu valor, embora relativo à qualidade de sentimentos. Aquele que só tem a aparência da piedade é um hipócrita; aquele para quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com a própria conduta, dá um mau exemplo (LE, 654). Já aqueles que a praticam movidos por interesses secundários, por afetação e amor próprio, enganam-se a si mesmos, pois há grande diferença entre ser bom e parecer bom. Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para Ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam (LE, 654).
A conduta fraterna, sincera, na vivência do bem, será a maior prova de adoração a Deus. A Doutrina Espírita ensina que todas as religiões são boas; unem a criatura ao Criador, embora apresentem eventuais diferenças de princípios, porque há diferentes graus evolutivos entre seus adeptos. É necessário, portanto, respeitar todas as religiões e dar ao semelhante a mesma liberdade de escolha que deseja para si. Mas isto não significa ser conivente com atitudes que contrariam as leis divinas, como é o caso, por exemplo, daqueles que se utilizam da religião para atender seus interesses pessoais.
A adoração enquanto emissão de pensamentos de fé, amor, confiança, gratidão etc., tem sempre valor quando movida com respeito e sinceridade. Este valor será ainda maior quando um grupo homogêneo se reunir com esse sublime objetivo, embora não seja menos valiosa a adoração particular de cada criatura. Cada um pode adorar a Deus no recôndito de seu coração, simplesmente pensando nele enquanto Pai de infinita misericórdia, Criador de todo o universo.
Vida ContemplativaNão tem qualquer mérito perante Deus a vida contemplativa dedicada exclusivamente à meditação, pois ela é inoperante. Tal opção significa, muitas vezes, um mecanismo de fuga ante as mais diversas situações sociais, tais como: desilusão, dificuldades, fraquezas, fanatismo etc. Portanto, aquele que se consome na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque sua vida é toda pessoal e inútil para a Humanidade (LE, 657).
A Doutrina Espírita é bastante esclarecedora em relação a esta questão: sempre que se optar por uma vida de contemplação, longe dos embates do mundo, não terá valor perante Deus. Neste sentido, o próprio celibato tem valor relativo, o qual estará sempre subordinado aos motivos que levaram a tal escolha.
Renunciar à vida social, à união afetiva, e ao convívio familiar, terá mérito se for servir ao próximo, porque é na convivência diária com seu semelhante, no difícil exercício do amor e do perdão, que se evolui e se expressa a verdadeira adoração a Deus. Bibliografia: LE,
649 a 657

B) Da prece — Politeísmo — Sacrifícios Da Prece
A prece é a expressão de um sentimento que sempre alcança a Deus, quando ditada pelo coração de quem ora. Deve ser feita direta-mcnte ao Criador, mas também pode ser-lhe endereçada por intermédio dos bons Espíritos, que são os Seus mensageiros e executores da Sua vontade; Pela prece podemos fazer três coisas : louvar, pedir e agradecer (LE, 659).
Louvar é enaltecer os desígnios de Deus sobre todas as coisas, aceitando-0 como causa primária de tudo o que existe. Bendizendo-Lhe o nome. Pedir é recorrer ao Pai Todo-Poderoso em busca de luz, equilíbrio, forças, paciência, discerninento, coragem para lutar contra as forças do mal; enfim, tudo, desde que não se contrarie a lei de amor que rege e sustenta a harmonia universal. Agradecer é sentir-se feliz e reconhecer as inúmeras bênçãos recebidas, ainda que em diferentes graus de entendimento e aceitação: a alegria, a fé, a bênção do trabalho, a oportunidade de servir, a esperança, a família, os amigos, a dádiva da vida.
A prece torna o homem melhor porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir (LÊ 660).

O essencial é orar com sinceridade e aceitar os próprios defeitos, porque a prece não redime as faltas cometidas; aquele que pede a Deus perdão pelos seus erros, só o obtêm mudando sua conduta na prática do bem. Deste modo, as boas ações são a melhor prece, e por isso os atos valem mais do que as palavras. Através da prece pode-se ainda fazer o bem aos semelhantes, porque o Espírito que ora, atuando pela vontade de praticar o bem, atrai a influência de Espíritos mais evoluídos que se associam ao bem que se deseja fazer. Entretanto, a prece não pode mudar a natureza das provas pelas quais o homem tem que passar, ou até mesmo desviar-lhe seu curso, e isto porque elas (...) estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. (...) A prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é um grande resultado (LÊ, 663). Deve-se considerar, também, que nem sempre aquilo que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convém, tendo em vista sua felicidade futura. Deus, em Sua onisciência e suprema bondade, deixa de atender ao que lhe seria prejudicial, tal qual um pai zeloso que recusa conceder ao filho algo que seja contrário ao seu bem-estar. Todavia, as súplicas justas são atendidas mais vezes do que supomos, embora a resposta a uma prece venha, por vezes, por meios indiretos ou por meio de idéias com as quais saímos das dificuldades.
A prece em favor dos desencarnados não muda os desígnios de Deus a seu respeito; contudo, o Espírito pelo qual se ora experimenta alívio e conforto ao receber o influxo amoroso dos entes queridos que, embora ainda encarnados, compartilham de suas dores. Além do mais, o efeito benéfico da prece sobre o desencarnado é tal. que pode leva-o à conscientização das faltas cometidas e ao desejo de fazer o bem: E nesse sentido que se pode abreviar a sua pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espirito sofredor os Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças (LE, 664). Este encadeamento caridoso provocado pela prece sincera vivência a recomendação de Jesus: "Amai-vos uns aos outros" (João 15:17). Pode-se também orar aos bons Espíritos, porque são eles os mensageiros de Deus e executores de Sua vontade. Contudo, as preces que lhes são dirigidas só serão eficazes se estiverem de acordo com os desígnios de Deus, sem cuja permissão nada se faz na ordem geral do Universo.
Politeísmo
O politeísmo, designação referente às religiões que admitem vários deuses em seu culto, foi uma das crenças mais antigas espalhadas pelo mundo, em razão do atraso moral e intelectual da humanidade. Isto porque a concepção de um Deus único não poderia existir no homem senão como resultado da aquisição gradual de conhecimentos. Simples ainda, ele não conseguia conceber um ser imaterial, sem forma determinada agindo sobre a matéria; por isso deu-lhe atributos próprios da natureza corporal, tais como forma e aparência, a princípio de animal e posteriormente do próprio homem. Assim, inicialmente os Espíritos eram reverenciados como deuses. Só mais tarde surgiu a concepção de um Deus único, embora ainda antropomórfico, isto é, semelhante ao homem, tanto para os antigos como para algumas concepções atuais. O próprio fato das manifestações espíritas ocorrerem em todas épocas da humanidade, contribuiu sobremaneira para reforçar a ideia da existência de vários deuses. Do mesmo modo, o culto aos mortos, especialmente às pessoas que mais se destacaram por características especiais, contribuíram para a propagação do politeísmo. Porém, em todos os tempos houve homens esclarecidos, que compreenderam a impossibilidade dessa multidão de poderes para governar o mundo sem uma direção superior, e que se elevaram ao pensamento de um Deus único (LÊ, 667).Sacrifícios
Ao se estudar a história das religiões, verifica-se que o ato de oferecer sacrifícios às divindades está presente desde os tempos mais remotos. Entre os povos primitivos, a matéria sobrepõe-se ao espírito; eles se entregam aos instintos animais e por isso são geralmente cruéis, pois o senso moral ainda não se encontra desenvolvido (LE, 669). As oferendas que a principio consistiam em frutos da terra passaram a constituir-se de animais, transformando-se mais tarde em sacrifícios humanos, na falsa crença de que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima, pois (...) os homens primitivos deviam crer naturalmente que uma criatura animada teria muito mais valor aos olhos de Deus do que um corpo material (LE, 669). Como não conseguiam conceber a divindade com os atributos da perfeição, acreditavam que o holocausto a ser-lhe oferecido seria tanto mais valioso quanto mais importante fosse a vítima. Mas, Deus jamais exigiu sacrifícios, nem de animais nem de homens. Ele não pode ser honrado com a destruição inútil de sua própria criatura (LE, 669b), nem mesmo as macerações e as penitências que certos religiosos impõem a si mesmos.

As chamadas guerras santas , quando homens matam seus irmãos em nome de Deus, assim o fazem por que são impelidos por Espíritos inferiores; não se justifica uma guerra sob o fundamento de ser a religião de uns, melhor ou mais verdadeira que a de outros, e também por não terem ainda algumas criaturas a consciência de seus erros. A Doutrina Espírita usando da razão, do bom senso e do discernimento, facilmente conclui que para agradar a Deus melhor seria transformar a homenagem em ajuda para os necessitados, em consolo para os que sofrem, ou ainda, em prece proferida com sinceridade e humildade. Esclarece ainda a Codificação que o único sacrifício abençoado por Deus é aquele que se faz por amor e em benefício do próximo, pois Deus abençoa sempre os que praticam o bem; amparar os pobres e os aflitos é o melhor meio de homenageá-Lo (LE, 673).
Bibliografia: LÊ,
658 a 673C) A Parábola da Figueira Seca

Quando saíam de Betânia, ele teve fome. E vendo ao longe uma figueira, para ela se encaminhou, a ver se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti fruto algum. No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que secara até à raiz (Marcos, 11:12 - 14, e vers. 20).
Esta narrativa não é propriamente uma parábola, mas sim uma alegoria, pois cada pormenor encerra profundo ensino moral, e ao mesmo tempo é uma advertência à humanidade, ao retratar a situação espiritual em que se encontram as criaturas. Embora de difícil interpretação, Jesus visa despertar a consciência dos homens, fazê-los compreender seus deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo, pois somente com esta conscientização é que suas preces serão atendidas. Mas tomam-se necessárias algumas observações para melhor apreensão do aspecto moral que esta narrativa encerra: poder-se-ia questionar o fato de Jesus usar de imagens fortes e até mesmo inusitadas, tal qual a esterilidade de uma frondosa figueira sem frutos. O fato é que a figueira em questão não dava frutos, muito embora coberta de folhas, porque sua constituição orgânica estava deficiente e há muito deixara de produzir.

Ora, tudo e todos têm um papel a desempenhar na ordem geral do universo; cumpre, portanto, que dêem frutos segundo sua espécie e natureza. O Espírito não foi criado para o repouso, porque a natureza de sua essência é dinâmica, só realiza-se na revelação de si mesmo, na geração da vida, de frutos interiores em favor de outrem. Jesus, ciente deste fato, quis mostrar aos seus discípulos a necessidade indispensável de produzir boas obras sempre, pois toda vivência infrutífera, estéril como aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências. Assim, seria inconcebível crer que Jesus, a personificação da bondade, pudesse relegar a figueira à esterilidade, apenas por não dar faitos fora de época. Segundo o Novo Testamento, na ocasião
em que Jesus proferiu esta parábola, estava se dirigindo ao templo de Jerusalém, onde precisou expulsar os mercadores que comercializavam com as coisas divinas. Portanto, podem-se aplicar as palavras firmes e peremptórias de Jesus, em seu sentido figurado, a este templo judaico, suntuoso e adornado ricamente, mas que não estava apto a receber a mensagem salvadora da qual Cristo era o portador e, por isto, assemelhou-se à figueira improdutiva, em cujos galhos não se poderia achar nenhum fruto, sendo portanto relegada à esterilidade.

Isto porque a religião judaica preocupava-se mais, àquela época, com as coisas terrenas do que com as coisas espirituais, e por isso não viram em Jesus o Messias anunciado pelos profetas bíblicos. O Judaísmo poderia eventualmente se transformar numa religião reformada, dinâmica; nela poderiam ser enxertados os ensinamentos cristãos, a revelar as verdades que o Mestre viera trazer à humanidade. Mas, Jesus vendo o mercantilismo que ela abrigava e percebendo que servia somente para satisfazer os anseios de um povo zeloso de sua raça, compenetrou-se de que aquela vivência religiosa não poderia ser a figueira frondosa e cheia de frutos, que saciasse todos os homens. Por outro lado, tem a parábola nítida aplicação às doutrinas e religiões atuais que apresentam exteriormente aspecto atraente, agradável aos olhos, mas que interiormente estão ressequidas pela incoerência de seus princípios, e pela falta de base nitidamente cristã daquilo que ensinam. Assim, as religiões que apregoam inverdades. que distorcem os ensinamentos evangélicos, que disseminam o fanatismo e a discórdia, a superstição e o erro, não passam de figueiras estéreis, sem o fruto do amor e da caridade; acenam aos homens com suas mensagens doutrinárias distorcidas na sua essência, adornam seus templos com pompas e riquezas, promovem guerras, lutam pela conquista de posses materiais, esquecendo-se da máxima evangélica "amar uns aos outros".

Através da Doutrina Espírita, que traz à luz o cristianismo redivivo e em cuja óptica interpreta-se a parábola em questão, foi revelado o verdadeiro significado da mensagem cristã, qual seja de promover a reforma moral e espiritual da humanidade. Para salvar os homens da esterilidade da figueira, Jesus enviou à Terra o Consolador prometido, para mostrar a felicidade aos bons, aos que frutificam e distribuem o produto de seus frutos; aos que procuram ser úteis, aos obreiros do bem. aos justos, aos pacificadores, aos que se consagram ao bem-estar da coletividade. É assim que, na passagem para um mundo de regeneração, todos aqueles que se mostrarem recalcitrantes, insensíveis, indiferentes ao despertamento espiritual, estéreis para aqueles que vêm em busca de auxílio, serão transferidos para outros mundos, cedendo lugar a outros mais predispostos ao trabalho e à evolução moral e espiritual, pois ao Espírito não é dado permanecer obstinadamente na improdutividade, sem que venha a sofrer o impacto da lei de causa e efeito. Importa, assim, esperar pacientemente que a humanidade simbolizada pela figueira, produza bons frutos, e alcance a sua maturidade espiritual ao implantar entre os homens as excelências do reino de Deus.
Bibliografia: ESE, Cap. XIX, itens 8, 9 e 10 - As Parábolas - José de Sousa e Almeida - Ed. FEESP, 1995

QUESTIONÁRIO

A ) Finalidade da adoração - adoração exterior - Vida contemplativa:

1) Que é adoração
2) Como se deve adorar a Deus?
3) Qual o valor da vida contemplativa perante Deus?

B ) Prece — politeísmo - sacrifícios:

4) Quais os benefícios da prece?
5) Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer (LÊ. 659).
6) Qual o sacrifício que é abençoado por Deus? Desenvolva.

C ) A parábola da figueira seca:

7) Por que pode-se aplicar esta parábola ao templo de Jerusalém?
8) Fale sobre a mensagem essencial desta parábola.
9 ) Qual a relação da figueira seca com a Lei de Adoração?
 
CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 2
A LEI DIVINA OU NATURAL

A) Caracteres, Divisão e Conhecimento da Lei NaturalO início da história do pensamento é marcado pela passagem do pensamento mítico ao pensamento racional. Esse momento repete-se na história da humanidade com o surgimento da Doutrina Espírita, marcando agora a passagem das religiões formais para uma filosofia racionalista, fruto do momento de efervescência intelectual que caracterizou o chamado "Século das Luzes". Não se trata, no entanto, de uma negação do passado histórico religioso, mas sim de uma racionalização das concepções fideísta-dogmáticas. Dessa forma, O Livro dos Espíritos consiste em uma busca de racionalização do Evangelho, em uma tentativa de trazer a religião do domínio mítico e cultural para o plano natural.

Conseqüentemente, se em uma perspectiva dogmática toda lei moral advém de uma realidade transcendente, advinda de um ser sobrenatural, para a Doutrina Espírita, porém, a lei é divina mas natural: A Lei Natural é a Lei de Deus; é a única necessária á felicidade do homem (LÊ, 614). Por Natural entende-se a Lei que se funda no direito natural, comum a todos os homens e não por cultura, convenção. Por Natural entende-se a Lei deduzida também da natureza humana, que se funda sobre a luz natural: a razão.
Por este princípio, A Lei Natural é a Lei de Deus (LÊ, 614), percebe-se uma identidade de origem das leis com Deus. Pelo princípio: a Lei de Deus é eterna e imutável como o próprio Deus, estabelece-se uma identidade de natureza entre Deus e suas leis. Efetivamente, Deus é origem, permanência e manifestação de si mesmo nas próprias leis que são imutáveis. Deus não se engana; os Homens é que são obrigados a modificar as suas leis, que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas (LÊ, 616). A lei de Deus é perfeita e imutável, pois Ele é a própria perfeição; as leis humanas, ao contrário, são mutáveis, temporárias, variam de cultura para cultura, são reflexo da realidade relativa ao homem, que ainda está distante da perfeição.

Divisão da Lei NaturalA ordem e a harmonia do Universo revelam uma força inteligente; atribuí-las ao acaso seria um contra-senso, pois o acaso não produz efeitos inteligentes. Dessa forma, a harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade (LÊ, 616). As leis de Deus revelam-se, assim, no plano físico e no plano moral:
Leis Físicas: regulam o movimento e as relações da matéria bruta (...) Seu estudo pertence ao domínio da Ciência.
Leis Morais: concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma (LÊ, 617a).
A Lei natural divide-se em dez partes: Lei da Adoração, do Trabalho, de Reprodução, de Conservação, de Destruição, de Sociedade, de Progresso, de Igualdade, de Liberdade, e por fim, a Lei da Justiça, Amor e Caridade.
Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial (...) A última lei é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras (LE, 648).

Conhecimento da Lei NaturalDeus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a Sua lei. Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la (LÊ, 619). Para conhecer a lei divina importa uma certa elevação de sentimentos, uma certa maturidade interior; não se trata apenas de raciociná-la intelectivamente, mas compreender a lei implica em identificar-se com ela. Por isso afirma Jesus no Sermão da Montanha, Bem-aventurados os puros de coração, esses verão a Deus (Mt, V: 8); da mesma forma os homens de bem compreenderão a Lei Divina ou Natural por uma conquista e elevação de si mesmos. Isso implica que o conhecimento da Lei Divina é equivalente ao grau de evolução do Espírito; no entanto, todos um dia compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize (LE, 619).
A Lei de Deus não está escrita em nenhuma pedra, em nenhum lugar, mas está na consciência dos próprios homens. Por consciência aqui não se entende meramente a condição pensante, mas antes uma consciência inata que reflete sobre si a lei de Deus. Todos a possuem imanente em si mesmos, qual lembrança intuitiva e que tende a revelar-se à medida que o Espírito se depura. Esta imanência da Lei Divina nos homens consiste na própria marca do obreiro na sua obra, ou seja, a própria essência divina na criação.
Esta lembrança intuitiva revela-se segundo o grau de perfeição dos Espíritos. É assim que, para fazer progredir a humanidade, os Espíritos superiores vêm com a missão de revelar a lei de Deus, sejam eles homens de gênio ou profetas. No entanto, o verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo por suas palavras e por suas ações (LE, 624). E o profeta mais perfeito que nos serviu de guia e modelo foi Jesus. A doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de Sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra (LE, 625). No entanto, o ensino de Jesus era frequentemente alegórico e em forma de parábolas. Daí a missão dos Espíritos de explicar e desenvolver essas leis: Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém venha a interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade (LE, 627). Bibliografia: LE, 614 a 628, 647 e 648.

B) O Bem e o MalDesde as mais remotas eras o homem tem consciência que a par das coisas boas e que tornam a vida feliz, outras existem que causam dores e aflições. Nesse sentido, o homem sempre buscou explicar e distinguir o bem do mal. A essa distinção entre o bem e o mal é que se refere a moral, enquanto um conjunto de regras que visam disciplinar e dirigir uma boa conduta. No entanto, importa não confundir essas regras com os costumes, pois a moral funda-se na observação da lei de Deus (LE, 629), ou seja, ela é de origem divina, natural e portanto universal, ao passo que os costumes são relativos a determinada cultura. Sob esse aspecto, a lei moral ou divina é natural, essencial e não convencional. Conseqüentemente, o bem distingue-se do mal enquanto sendo o bem tudo o que está de acordo com a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar com a lei de Deus, e fazer o mal é infringir essa lei (LE, 630). Pode-se desta forma deduzir que o bem é a Lei Natural, a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o mal apenas um estado transitório.

No entanto, todo homem está sujeito a errar, ou a hesitar na apreciação do bem e do mal. Para que a criatura não se engane, convém usar sempre a "regra áurea" ensinada pelo Mestre Jesus: Fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem. Não há possibilidade de engano nesse caso, pois o que não é bom para nós não é bom para nosso semelhante. Por outro lado, no que se refere a nós mesmos, muitas vezes cometemos excessos por fraqueza ou descuido e, nesse caso, estaremos transgredindo a lei, pois a lei natural traça para o homem o limite de suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento (LE, 633). Importa vivenciar a condição humana, de seres inseridos na materialidade, porém com moderação; todo excesso transgride as leis naturais e gera conseqüências inevitáveis. A partir disso, poder-se-ia questionar, por que o mal se encontra na natureza das coisas? Deus já não poderia criar o homem em melhores condições?
Porém, Deus criou os Espíritos para chegarem à perfectibilidade por si mesmos, pela própria experiência, pela própria conquista. Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele seguir o mal; sua peregrinação será mais longa (LE, 634). Criados simples e ignorantes, mas dotados de aptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes, todos os Espíritos passam por um processo de burilamento. Valendo-se do livre-arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de evolução conquistada. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer (LE, 634). Para que o Espírito adquira experiência, é necessário conhecer o bem e o mal, para tanto necessita passar pela materialidade, que lhe é um obstáculo, mas que por isso mesmo lhe permite resgatar a essência divina que o caracteriza; eis por que existe a união do Espírito e do corpo (LE, 634). Se eles (Espíritos) tivessem sido criados perfeitos, não teriam merecimento para gozar dos benefícios dessa perfeição LE, 119).
A lei de Deus é, portanto, universal, necessária e imanente a todos; já o mal varia de acordo com o grau evolutivo de cada um. O bem é sempre bem e o mal é sempre mal, qualquer que seja a posição do homem (636). Todos os homens possuem a mesma noção do que seja o bem e o mal, independente da cultura; no entanto, o que varia é a sua aplicação nas várias sociedades. O mal parece, algumas vezes, como consequência de circunstâncias, mas nem por isso deixa de ser infração à lei de Deus; o homem se torna mais culpável quando o comete (o mal), porque melhor o compreende (LE, 638). Um dos preconceitos da moral cristã é justamente que uma ação para ser considerada má deve ser cometida com pleno conhecimento de causa; é assim que quanto maior a consciência da lei, maior a responsabilidade. Por outro lado, não é suficiente apenas deixar de fazer o mal, mas é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer (LE, 642).
A verdadeira fé não é inoperante, o verdadeiro cristão o é pelas obras, por tudo aquilo que exterioriza, expressa, manifesta de seu próprio Espírito; não basta uma atitude passiva perante a vida, mas na ação é que se dá o testemunho do Pai, na expressão de Jesus. E quanto maior a dificuldade na prática do bem, maior o mérito perante a própria consciência e perante Deus. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão, que o rico que só dá de seu supérfluo (LE, 646). Não há mérito em fazer o bem sem trabalho, quando nada custa, conforme nos ensina a passagem evangélica do óbolo da viúva. Por outro lado, amar os que nos querem bem é fácil. Existe mais mérito em amar os que nos magoam e os de difícil convivência. A lição de amor, Jesus ensinou-a através de palavras e atos. Ele amou os amigos, os familiares, pescadores, os avarentos, ladrões, e homens do povo. Vivenciou realmente o "Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo".
Bibliografia: LÊ, 629 a 646

C) O Orgulho e a Humildade

Graças te rendo, meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes, e por as teres revelado aos simples e aos pequeninos (Mateus, 11:25). No decurso do seu messiado, Jesus Cristo deixou bem evidenciado que os pequeninos, os humildes, têm primazia no conhecimento de muitas coisas, que se tornam vedadas aos potentados e orgulhosos. Jesus não se preocupava muito com a conversão dos opulentos, dos orgulhosos, daqueles que tinham os corações endurecidos e hesitavam em assimilar os seus ensinamentos, repelindo-os, como se Ele não fosse um autêntico enviado dos Céus. O Mestre veio desempenhar uma fulgurante missão na Terra, e essa missão foi precipuamente desenvolvida no seio das camadas mais humildes do povo. Foi por isso que no Sermão da Montanha, ele enalteceu os humildes e pobres de Espírito, aqueles que melhor aceitavam a sua doutrina de renovação.
Certa vez, alguns homens de influência na cidade aproximaram-se dele e pediram um sinal para que acreditassem nele. A estes homens orgulhosos, que julgavam que o Mestre tudo faria pelas suas conversões, ele deu uma resposta decepcionante: "Nenhum sinal será dado a esta geração adúltera e infiel" (Mt 12:39). Com relação ao conhecimento das verdades de ordem moral e metafísica, exigem uma certa predisposição interior, sensibilidade e amor, pois as leis divinas falam ao coração. É assim que todos podem conhecer, mas nem todos podem compreender. O orgulho é a venda que lhes tapa os olhos. Que adianta apresentar a luz a um cego? (ESE, Cap. VII, item 10). O Reino de Deus anunciado pelos Espíritos não ressoa nos Espíritos orgulhosos, envaidecidos do saber mundano e que se julgam prudentes e doutos perante os homens; mas aos simples e pequeninos, ou seja, aos pobres de espírito e que têm consciência de sua pequenez perante Deus.
Jesus prometia o Reino dos Céus aos mais pobres, humildes e sofredores, porque os grandes e potentados do mundo material acreditavam que os títulos e riquezas eram recompensas concedidas por mérito, passando, por isso, a se julgarem criaturas superiores, de sangue e compleição diferentes do que os pobres possuíam. Tanto ricos como pobres são filhos de Deus, e por Ele vistos com o mesmo olhar paternal, com o mesmo carinho. Se Deus coloca a riqueza nas mãos de alguns homens, é para que eles exercitem os seus sentimentos de caridade e de amor ao próximo, e não para que se tornem orgulhosos e perdulários, egoístas e cheios de soberbia. Os ricos e orgulhosos de hoje, que não dão uma aplicação útil e humanitária aos bens que Deus colocou em suas mãos, por acréscimo de Sua misericórdia e de maneira transitória, poderão ser os pobres e andrajosos de amanhã, pois os Espíritos não reencarnam uma só vez, e as vidas sucessivas reservam muitas surpresas aos que transgridem as leis de Deus. O Pai deseja que Seus filhos se irmanem, se confraternizem, despertando dentro de si os mais sublimados sentimentos de amor aos seus semelhantes.
O Evangelho Segundo o Espiritismo insere a comunicação de uma antiga rainha da França que, no mundo espiritual, após deixar o corpo físico, surpreendeu-se ao ver muitos homens e mulheres que ela considerava pequenos e desprezíveis, estarem desfrutando de um grau evolutivo muito superior ao dela (ESE, Cap. II, item 8). Nos Evangelhos também encontram-se várias passagens, onde a humildade e o orgulho são evidenciados. No caso da pobre viúva, que depositou no gazofilácio a única moeda que possuía, aprecia-se a mais viva demonstração de humildade e de desprendimento das coisas terrenas (Mc 12:41-44). Ela, em sua pobreza, animada do verdadeiro senso de humildade, achou que era seu dever auxiliar aqueles que necessitavam mais do que ela. Por outro lado, depara-se com sentimentos de orgulho, demonstrados pelo sumo sacerdote Caifás, que submetendo o Mestre a um interrogatório humilhante, além de fazer perguntas incompatíveis, permitiu até que um dos seus homens o esbofeteasse.
O Bispo de Alger, em uma de suas comunicações (ESE, Cap. XIII, item 11), retratou bem o sentimento que anima as pessoas que encarnadas vivem em condições humildes, mas invejam a posição daqueles que desfrutam das regalias de uma vida faustosa, esquecidos de que eles vivem uma vida muitas vezes enganosa e que estão adentrando a porta larga da perdição. Se soubessem quantas lágrimas e dores inomináveis se ocultam sob as vestes ricas, quantos soluços abafados pelos sons de rumorosa orquestra e quanta escuridão se oculta sob o brilho das glórias mundanas, prefeririam o humilde retiro e a pobreza. Mais vale, portanto, para a felicidade do homem, ser pobre de espírito, no sentido mundano, e rico de qualidades morais (ESE, Cap. VII, item 2).
Bibliografia: ESE, Cap. VII, ítens 7 a 12.

QUESTIONÁRIO

A ) Caracteres, divisão e conhecimento da lei natural:
1) O que se deve entender por Lei Divina ou Natural?
2) Onde está escrita a Lei Divina? Explique.
3) A Lei Divina é a mesma para todos?

B ) O bem e o mal:1) Como distinguir o bem do mal?
2) Será suficiente não fazer o mal para agradar a Deus?
3) Deus não poderia criar a humanidade já em uma condição melhor?

c) O orgulho e a humildade:1) Por que os ensinamentos de Jesus não são revelados aos sábios e prudentes?
2) Cite uma passagem do Evangelho sobre a humildade e uma sobre o orgulho.
3) Interprete a passagem da antiga rainha da França, narrada no Evangelho.
CURSO DE ESPIRITISMO - 2º ANO BÁSICO – AULA 1
NÃO VIM DESTRUIR A LEI - A) A Lei: Moisés e Cristo

Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para dar-lhes cumprimento (Mt, V: 17).
Moisés, profeta e legislador, revelou aos homens a existência de um Deus único, criador de todas as coisas e promulgou a Lei do Sinai. É a esta lei que Cristo refere-se, enquanto regra suprema da vida privada e comunitária até então. Importa, porém, distinguir as duas partes que compõem a lei mosaica: a lei de Deus, promulgada sobre o monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por Moisés. Uma é invariável; a outra é apropriada aos costumes e ao caráter do povo, e se modifica com o tempo (ESE, Cap. I, l e 2).

A Lei Divina está formulada no Decálogo, e possui um caráter divino e universal. Todas as demais são leis estabelecidas por Moisés, obrigado a manter pelo temor um povo turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater abusos e preconceitos arraigados. Ao afirmar que não veio destruir a lei. Jesus referia-se à lei de Deus, a qual veio desenvolver, dar seu verdadeiro sentido e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens. Importa considerar, pois, o ponto de vista renovado sob o qual Jesus considera a divindade, e, portanto, a lei:
l — Deus já não é o legislador implacável, vingativo e justiceiro, mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e misericórdia, e dá a cada um segundo as suas obras. Jesus deu continuidade a essa Lei da Justiça divina, porém, acrescentou que essa lei é o amor, e nela encontra-se o princípio dos deveres para com Deus e para com os outros homens: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, e acrescentou: Esta é toda a lei e os profetas.
2 — Já não é o Deus de um único povo privilegiado, o Deus dos exércitos, presidindo aos combates para sustentar a sua própria causa contra o Deus dos outros povos, mas o Pai comum do gênero humano que estende a sua proteção sobre todos os seus filhos (A Gênese, Cap. I, item 23). A Lei Divina é universal e não particular.
3 — Na época de Moisés, a vida religiosa apoiava-se em rituais, sacrifícios e cultos de adoração, pois necessitava-se de uma representação semimaterial, como a que então lhes oferecia a religião hebraica. Jesus nos ensina a Lei de Adoração, mas modifica-lhe o fundo e a forma, ao combater constantemente o abuso das práticas exteriores.
4 — Para dar autoridade às leis, Moisés teve de atribuir-lhes uma origem divina, como o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos; a autoridade do homem devia apoiar-se na autoridade de Deus, um ser que transcendia a condição humana. Todavia, o papel de Jesus não foi o de um legislador moralista, cuja autoridade era apenas a sua palavra, mas que decorria da natureza excepcional de seu próprio Espírito, de sua ascendência moral sobre os demais, pois ele referia-se à Lei Divina, à vontade do Pai, com a qual estava plenamente identificado. A origem e natureza da Lei Divina não lhe eram exterior, mas a vivenciava em si mesmo, expressava a imanência divina pelos prodígios que operava. É assim que a lei moral emanava de sua própria autoridade.
A compreensão dos atributos de Deus e de suas leis, de par com a da imortalidade da alma e da vida futura são de suma importância, pois modificam profundamente as relações mútuas entre os homens, a vida, os costumes e obrigações. Esse é o ponto capital na revelação de Cristo, que veio modificar as relações entre os homens, mas cuja importância não foi compreendida suficientemente. Não obstante, Jesus não disse tudo, e sobre algumas questões limitou-se a lançar a semente de verdades que ele mesmo declarou não poderem ser então compreendidas. Era preciso que novas idéias e novos conhecimentos viessem nos dar a chave. É assim que o Espiritismo, já mais amadurecido o espírito humano, busca desvendar o sentido oculto e alegórico dessas verdades, fundamentando-as cientifica e racionalmente. Importa ainda considerar que se a lei do Antigo Testamento está personificada em Moisés, e a do Novo Testamento em Cristo, já a Terceira Revelação da Lei Divina não está personificada em ninguém, pois as Leis Morais são produto do ensinamento de uma plêiade de Espíritos, que são as "vozes do céu" em todas as partes do mundo.
Da mesma maneira, porém, que Jesus afirmou: Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento (Mt, V: 17), também o Espiritismo em nada ensina contrário aos mandamentos morais de Jesus, mas desenvolve-os, explica-os, torna claro para todos o que fora dito de forma alegórica. Com efeito, pode-se afirmar que as Leis Morais contidas em O Livro dos Espíritos nada mais são que os imperativos morais ensinados por Jesus, porém articulados à luz da razão, ou seja, da filosofia, na medida em que a referida obra consiste em princípios racionais que visam fundamentar O Evangelho Segundo o Espiritismo. É assim que a Lei Divina evolui para a consciência humana, segundo a capacidade cognitiva e a evolução dos homens, do Decálogo, Dez Mandamentos, às Leis Morais. Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá (ESE, Cap. I, item 9).
Bibliografia: ESE, Cap. I, itens l a 4.

B) Aliança da Ciência com a Religião — A Nova Era

A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material, a outra as leis do mundo moral; uma busca a verdade por meio da razão, a outra por meio da fé. A incompatibilidade que se acredita existir entre essas duas ordens de idéias, provém de uma falha de observação, e do excesso de exclusivismo de uma e de outra parte (ESE, Cap. I, item 8). É assim que durante séculos Ciência e Religião distanciaram-se, esta representando o saber divino e aquela expressão tão somente do saber mundano.
A partir do século II d.C., com a decadência do Império Romano, o Cristianismo expande-se e surge então a chamada "Era Patrística" (filosofia dos padres) em busca de uma aliança entre a fé e a razão, a qual estende-se por todo o período da Idade Média. Surge já nessa fase Santo Agostinho, buscando conciliar o Cristianismo com a filosofia de Platão. No século XVIII, chamado o "século das luzes", surge o movimento intelectual conhecido como Iluminismo, o qual exalta a capacidade humana de conhecer e agir à luz da razão. Em lugar de explicações religiosas, o Iluminismo funda a lei moral na lei natural e na própria razão. É nesse contexto que surge a Doutrina Espírita no século XIX, realizando a tão pretendida aliança da fé com a razão, da Religião com a Ciência.
Até então, cada uma encarando as coisas de seu ponto de vista exclusivo, Ciência e Religião repeliam-se; era necessário um traço de união que as ligasse. Esse traço está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regulam os movimentos dos astros e a existência dos seres (ESE, Cap. I, item 8).
O Espiritismo veio, dessa forma, no momento propício, trazer preciosa quota de novos conhecimentos, fundamentando o ideal religioso na Ciência, pois se é exato que a Religião não pode prescindir dos fatos naturais comprovados pela Ciência, esta por sua vez jamais atingiria seu fim último ao desprezar a realidade espiritual. São chegados os tempos em que a Ciência deixando de ser exclusivamente materialista, deve levar em conta o elemento espiritual; e em que a Religião, deixando de desconhecer as leis orgânicas e imutáveis da matéria, essas duas forças, apoiando-se mutuamente e marchando juntas, sirvam uma de apoio à outra (ESE, Cap. I, item 8).
É assim que se aproxima o momento que marcará a nova era da Humanidade. É toda uma revolução moral que se realiza nessa passagem para a chamada Civilização do Espírito, que há de caracterizar o terceiro milênio. A Ciência há de desenvolver-se gerada por interesses morais, e a Religião há de dinamizar-se fundamentada na fenomenologia científica e na razão filosófica. Esses princípios fundamentais, porém, já tiveram início na Antiguidade Clássica, quando Sócrates e Platão já sedimentaram os pilares nos quais apoiar-se-ia o edifício da revolução moral da Humanidade, e que seria a sede norteadora, ordenadora do Reino de Deus entre os homens.
Bibliografia: ESE, Cap. I, itens 8, 9 e 10

C) Sócrates e Platão - Precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo

Segundo Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, as grandes idéias não aparecem nunca de súbito. As que têm a verdade por base contam sempre com precursores que lhes preparam parcialmente o caminho (...). Assim aconteceu com as idéias cristãs, que foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus e dos Essênios, e das quais foram Sócrates e Platão os principais precursores (ESE, Introdução, IV).
Sócrates (séc. V a.C.), como Cristo, foi condenado à morte por haver atacado as crenças tradicionais e colocar a virtude acima da ilusão dos formalismos e valores mundanos. Assim como Jesus foi acusado pelos fariseus de corromper o povo com seus ensinamentos, Sócrates foi acusado de corromper a juventude ao ir contra os valores vigentes.
Platão é uma das maiores figuras da filosofia de todos os tempos; sua grandeza destaca-se não só por ser a primeira no tempo, mas seu poderoso apelo para ideais ultraterrenos é uma das mensagens mais nobres comunicadas à Humanidade. Ele ensina o desprezo pelos prazeres, honras e riquezas, a renúncia aos bens do corpo e deste mundo e prova a existência de uma esfera inteligível e imaterial, a única pela qual vale a pena viver. Eis algumas citações que demonstram como Sócrates e Platão já haviam pressentido as idéias cristãs, assim como os seguintes princípios básicos do Espiritismo:
1 — A Pré-existência da alma
O homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação, ela existia junto aos modelos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e do belo. Separou-se deles ao encarnar-se e, lembrando seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de a eles voltar (ESE, Introdução, V, item I). Temos aqui a doutrina da pré-existência da alma e da vaga intuição que ela conserva da existência de outro mundo, ao qual aspira retornar.

2 — Pluralidade das existências
A alma impura encontra-se pesada, e é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror ao que é invisível e imaterial. Ela vagueia, então, segundo se diz, pelos lugares onde carrega as penas de sua vida passada, até que os apetites inerentes à sua forma material a devolvam a um corpo (ESE, Introdução, IV. item IV).
Não somente o princípio da reencarnação está aqui claramente expresso, mas também o estado das almas que ainda se acham sob o domínio da matéria é descrito tal como o Espiritismo o demonstra. Afirma, ainda, que a reencarnação é uma consequência da impureza da alma, enquanto que as almas purificadas estão livres dela.

3 — A possibilidade de comunicação entre o mundo espiritual e o mundo material
Os demônios (daimons) preenchem o espaço que separa o céu da terra; são o laço que liga o Grande Todo consigo mesmo. A divindade não entra jamais em comunicação direta com os homens, mas é por meio dos demônios que os deuses se relacionam e conversam com eles, seja durante o estado de vigília, seja durante o sono (ESE, Introdução, IV, item VI).
A palavra daimon (da qual se originou "demônio") não se aplicava exclusivamente aos seres malfazejos, mas aos Espíritos em geral, entre os quais se distinguiam os Espíritos superiores (chamados deuses) e os Espíritos menos elevados, que se comunicavam diretamente com os homens. O Espiritismo também ensina que Deus não se comunica com os homens senão por intermédio dos Espíritos puros, encarregados de nos transmitir a Sua vontade; e que os Espíritos se comunicam conosco durante o estado de vigília e durante o sono (ESE, Introdução, IV, item VI).

4 — O amor: lei universal
Chamo de homem vicioso ao amante vulgar, que ama mais ao corpo que à alma. O amor está por toda a natureza, e incita-nos a exercer a nossa inteligência: encontramo-lo até no movimento dos astros (ESE, Introdução, IV, item XVI).
Platão, qual Jesus, ressaltou a importância do amor, como meio de superar a condição de seres meramente mortais, visto ser a própria lei da natureza, portanto, fonte de sabedoria e verdade. Assim também o Cristianismo possui como máxima fundamental a prática do amor, enquanto lei universal a reger os seres e, portanto, essencial à felicidade dos homens.
Vê-se, assim, que a Doutrina Espírita possui fundamentos na própria tradição filosófica, e que as grandes verdades já são conhecidas pelos Espíritos adiantados, incumbidos de revelá-las gradativamente aos homens.

QUESTIONÁRIO

a) A lei: Moisés e Cristo:

1) Sob quais aspectos os ensinamentos de Jesus restabelecem a Lei Divina recebida por Moisés?
2) Qual a importância da compreensão dos atributos de Deus e de suas leis para o homem?
3) Qual a relação de O Livro dos Espíritos com o Evangelho Segundo o Espiritismo?

b) Aliança da ciência com a religião — A nova era:

1) Qual o objeto da Ciência e o da Religião e por que incompatibilizavam-se no passado?
2) Em que contexto histórico surgiu a Doutrina Espírita?
3) Em que Ciência e Religião podem colaborar mutuamente para a chamada Nova Era?

c) Sócrates e Platão - precursores da doutrina cristã e do espiritismo:

1) Qual a relação de Sócrates e Platão com o Cristianismo?
2) Explique os argumentos de Platão para a teoria da pluralidade das existências.
3) Como Sócrates e Platão deixam transparecer a possibilidade de comunicação entre o mundo espiritual e o mundo material?

Bibliografia: ESE, Introdução, Capítulo IV



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